O Livro de Henry Kissinger Sobre a China em Português
30 de janeiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: 2011, edição em português da Editora Objetiva, Rio de Janeiro, tradução de Cássio de Arantes Leite
Esta obra monumental de Henry Kissinger, que sempre foi um intelectual de primeira grandeza e ocupou a Secretaria de Estado nas administrações norte-americanas dos presidentes Richard Nixon e Jimmy Carter, retomando os contatos dos Estados Unidos com a China, não pode ser ignorada por aqueles que se preocupam com a compreensão dos problemas mundiais. Publicada em português pela Editora Objetiva, com a tradução de Cássio de Arantes Leite logo depois do seu lançamento em inglês, permite um melhor conhecimento dos problemas envolvidos e dos esforços efetuados para a retomada destes contatos.
Uma rápida leitura da obra por um simples analista, como o responsável por este site, permite constatar que as opiniões expressas nesta pequena contribuição são também abraçadas por um conhecedor abalizado como Henry Kissinger, que participou diretamente dos entendimentos pioneiros entre as autoridades dos Estados Unidos com as da China. Como a relevância do conceito de País do Meio naquele país e sua longa carga histórica e cultural, a importância das formulações como de Confúcio que continua sendo utilizada até hoje em toda a Ásia, a importância dos conhecimentos como os acumulados por Joseph Needham, de Cambridge, sobre a China, e os dados comparativos de longo prazo de Angus Maddison estão entre eles. Acabam sendo motivo de orgulho para os que não contam com fontes e equipes como os que foram utilizados na confecção desta obra.
Antes de Kissinger propor a Richard Nixon a retomada destes contatos bilaterais, ele estudou profundamente a China, chegando à conclusão que deveria aproveitar o momento de preocupação com os primeiros atritos chineses com os russos. Que ao longo da história a China sempre respeitou os seus próprios limites, como nos relacionamentos com a Índia, apesar dos conflitos sobre suas fronteiras. A China recebeu muitas contribuições da Índia, inclusive o seu budismo, sem a pretensão de estender suas influências para o Ocidente, tendo uma natureza diferente do imperialismo desta parte do mundo. Mesmo usando o conceito de País do Meio, entendia que sua influência se limitaria à Ásia, diante das lições de sua história, pela sua superioridade cultural e patrimonial.
Kissinger coloca que Mao Tsetung tinha uma clara consciência desta história, avançando suas fronteiras sobre a Índia, mas recuando em seguida. Ele entendeu que a China não tinha a característica dos judeus, cristãos e islâmicos monoteístas de conquistar outros povos para a sua religião. Os ensinamentos de Confúcio eram filosóficos sobre as tendências para a harmonia, e não para conquistas militares, resultando internamente numa sociedade hierarquizada, nada tendo de religioso.
Em poucas páginas faz um resumo adequado da longa história chinesa e seus contatos com o exterior pela Rota da Seda. Mesmo dispondo de tecnologia para tanto, como na navegação até as Américas séculos antes dos europeus, não tendia a formar colônias agindo como uma metrópole.
A China situava-se num posicionamento de que sua superioridade decorria pela cultura e riqueza econômica, não pretendendo usar a sua força militar para se impor, mas convencer os demais países vizinhos a aceitarem a submissão a sua reconhecida elevada hierarquia. Para apoiar a sua tese, Kissinger reporta-se as muitas citações constantes de registros históricos.
Outras observações de Kissinger constantes do livro decorrentes dos seus muitos contatos com autoridades chinesas serão comentadas em artigos futuros.