Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Provocativa Entrevista de Joichi Ito da Midia Lab

3 de janeiro de 2012
Por: Monja Coen | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: criatividade, íntegra da entrevista no Folha.com, Joichi Ito, Midia Lab MIT, novas tecnologias

Muito interessante e provocativa a entrevista concedida por Joichi Ito, novo jovem diretor da Midia Lab MIT, para a jornalista Luciana Coelho que está em Washington, publicado na Folha de S.Paulo de hoje, e com a íntegra da mesma na Folha.com , com o título “Não há nada que não seja afetado hoje pela internet”. É preciso admitir que já ocorreu uma verdadeira revolução no mundo a partir dos trabalhos efetuados no Vale do Silício, liderado por alguns gênios, e que se generalizaram em todos os setores que envolvem a informática.

O estímulo à criatividade, fugindo dos padrões tradicionais da educação, acabou sendo disseminado e atividades humanas que exigem constantes inovações dependem, na sua eficiência, de sistemas que facilitem atividades fora da rotina do dia a dia, mesmo nas empresas. Constata-se que isto acabou ocorrendo em maior ou menor grau em todas as atividades humanas, acelerando o conhecimento de novas tecnologias em variados setores.

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Joichi Ito em ação na Midia Lab MIT

Mas parece sensato que nem todos os seres humanos são gênios, mesmo que suas criatividades sejam estimuladas e contem com oportunidades para elas serem afloradas. Como o entrevistado reconhece, os sistemas que favorecem o seu aproveitamento dependem de esforços de muitas organizações que dedicam 10 a 20% do seu tempo para tanto. Pois as produções para atender a alimentação adequada de toda a população normal do universo, inclusive suas necessidades várias como os de moradia, transportes, atendimentos médicos e sociais, educação, cultura e lazer, segurança, não são inovados tão rapidamente.

Existe uma parte do mundo que se tornou descartável, tal a velocidade das inovações, e o entrevistado admite que o Media Lab é um extremo. Como é também o conhecido como CERN – European Organization for Nuclear Reserch que, com 10.000 cientistas, está pesquisando o neutrino, que o entrevistado usa para se inspirar. Mas isto é somente uma pequena parte do universo.

Suas ideias precisam ser compatibilizadas com as duras realidades da produção cotidiana, e as inovações podem ser estimuladas pelas multidões de pequenos inovadores que utilizam mecanismos como as redes de relacionamento, que são aproveitadas para questões mais banais, não se relacionando com inovações tecnológicas. A não ser que este conceito de tecnologia fique restrito ao amplo campo da informática.

As aberturas para novos conhecimentos, inclusive para as comunicações entre os inovadores, certamente devem se estimuladas, abandonando-se as estruturas demasiadamente rígidas que não favorecem novos sistemas de trabalho, inclusive de preparação dos recursos humanos indispensáveis. No entanto, parecem existir atividades de inovações que demandam mais tempo, como nos setores relacionados à agropecuária, ou onde os projetos são gigantescos, como os relacionados com a mineração, a infraestrutura e a logística.

Segundo o entrevistado, está superada a fase da revolução digital, ingressando-se na fase da revolução das redes, num mundo pós-produção de massa, onde a pesquisa e a inovação ocorrem de baixo para cima e de modo descentralizado. Ele dá grande importância à comunicação, elevando a educação, arte e criatividade a um nível mais abrangente. Estes processos acabam sendo mais demorados, pois dependem de grandes coletividades, e não somente da genialidade de poucos.

Na entrevista, ele chega a admitir que países como a China, a Índia e até o Brasil provocarão um impacto forte no futuro próximo, dando maior importância aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, demonstrando até um reconhecimento do “tecnobrega”.

Propõe novas formas de remuneração das inovações, principalmente nos direitos de autoria, imaginando que haverá formas mais fáceis de copyright que ainda não fica muito claro na entrevista, dando a impressão que suas atenções estão concentradas nos direitos relacionados a músicas, jogos e tudo que é estimulado no seu uso pela internet.

Como a entrevista foi feita num tempo relativamente curto, alguns dos seus aspectos acabam aparentando certa confusão, principalmente para os que não estão habituados com estes tipos de conhecimento, mas denota que existem muitas ideias que precisam ser consideradas com maior atenção.

Os mais críticos com tais posições acabam alegando que, se tudo isto é tão formidável, espera-se que tais inovações perdurem por mais tempo, levando um pouco mais para serem superadas por novas ideias.