Rios da Ásia: Águas de Tensão e Desafio
26 de janeiro de 2012
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: everywhere” Editorial – The Japan Times; “Water: Asia’s New Battleground”-Georgetown Univ.Press-2011-Brahma Chellaney, water, “Asia’s water stress chalenges growth and security”; “Water | 2 Comentários »
Embora inundações na Ásia tenham ocupado noticiário mundial recentemente, a água, o mais vital de todos os recursos naturais, na verdade emerge como questão chave para a aquele continente justamente pela sua escassez: é a parte mais seca do mundo, não a África. A disponibilidade da sua água potável não é nem a metade da média global de 6.380 m³ por habitante. Se computadas todas as reservas mundiais de rios, lagos e aquíferos, a Ásia tem menos de um décimo da água da América Latina, Austrália e Nova Zelândia, um quarto da dos Estados Unidos, quase um terço da Europa, e fica atrás também da África, por habitante. No entanto, a crescente demanda mundial por água para prover alimentos, produção industrial e abastecimento urbano, está na Ásia, atual locomotiva da economia mundial. O desenvolvimento econômico trouxe consequências drásticas para aumentar a pressão sobre suas águas: a expansão do represamento de recursos hídricos através de represas, barragens, reservatórios e afins, sem que considerações ambientais de longo termo tivessem sido refletidas.
Centro da irrigação global com agricultura centrada na produção do arroz, é também o continente com maior número de represas hidrelétricas. Somente a China, maior construtor de represas do mundo, conta com mais da metade das quase 50.000 grandes represas do planeta. Ainda que a política do uso da água seja fenômeno universal, a economia chinesa do arroz e a natureza peculiar de seus rios (originando-se de altas regiões, com vazão e ímpeto avassalador nas cheias de degelo e das monções) fez o controle da água ser primordial para a governabilidade do país desde a antiguidade.
Ademais, muitos países da região priorizam construção de hidrelétricas visando vender a energia excedente para vizinhos mais ricos. Tal foco na construção de represas só intensificam disputas e tensões entre países e dentro de cada país, desafiando a segurança e a estabilidade regional. Para complicar as coisas, a maior parte da água da Ásia vem de rios que nascem em áreas de conflito e atravessam vários países – como o Tibete, maior fonte da Ásia Central, que provê água para onze países, e é berço de poderosos rios: Brahmaputra, Lancang/Mekong, Salween, Amarelo, Yangtzé etc.; a bacia do Tigre-Eufrates que abarca desde Turquia, Síria, Iraque e Irã, até o Golfo Pérsico; o Rio Illy nasce na China e deságua no Lago Balkhash, no Cazaquistão, com águas poluídas e reduzidas por desvios, canais e represas, pondo em risco a vida do lago. Represamentos afetam ecossistemas de comunidades agrícolas ribeirinhas na jusante de rios que atravessam fronteiras. A construção de grandes represas pela China no curso superior do rio Mekong ameaça reduzir a vazão do rio na foz e fazer a maré salgada subir continente adentro – que devastaria nutrientes naturais, destruindo o delta do rio – considerado a “tigela de arroz do Vietnã”.
Em novembro de 2011, os quatro países da Comissão do rio Mekong (Cambodia, Laos, Tailândia e Vietnã) decidiram adiar a construção de novas represas, e avaliar melhor os impactos ambientais de seus projetos. O Japão e outros parceiros de desenvolvimento internacional vão emprestar seu know how na empreitada. Mas vale lembrar que o próprio Japão enfrenta problemas de escassez de geração de energia pós 11 de março de 2011, com 93% de suas usinas nucleares paradas para inspeção e manutenção; assim, o governo do Partido Democrata Japonês resolveu, em dezembro último, retomar o projeto da construção da Represa de Yanba, em Naganohara, província de Gunma – região de rara beleza turística, com alto impacto ambiental. O que está provocando bruta controvérsia, pois parar sua construção tinha sido uma das promessas eleitoreiras do PDJ em 2009…
Professor de estudos estratégicos do Center for Policy Research, em Nova Delhi, o think tanker (algo como “catalisador de ideias”) Brahma Chellaney tem escrito sobre o assunto no The Japan Times e outras publicações. Seu mais recente livro, Water: Asia’s New Battleground (Água: o Novo Campo de Batalha da Ásia), de 2011, traz extensa análise da geopolítica da água na Grande Ásia, desde o Japão até a Turquia, incluindo todo o Oriente Médio, detalhando as causas que levam à escassez desse líquido, as consequentes disputas político-econômicas, e as possíveis soluções. A crise da água detém sérias implicações para a capacidade de a Ásia continuar sendo a locomotiva da economia mundial. Em boa hora faz-nos lembrar, a brasileiros deitados em esplêndido e pacífico berço de rica e abundante água, para que despertemos a tempo para começar a tratar com mais carinho dos nossos rios, lagos, aquíferos e mares.
Eu amo estudar…adoro geografia..e principalmente a Asia.
Ro Fernandes,
Inicialmente seria interessante, além de estudar, viajar pelo Brasil que conta com muitas diferenças regionais ricas. Conheça primeiro o seu país, e sempre viajar pelo exterior também permite experiências que complementam o que V. pode conhecer pelos livros. A Ásia é fascinante, pela sua antiguidade, por culturas antigas e ricas, pelas diferenças com os países ocidentais. Procure estudar muito, mas também, sempre que tiver oportunidade, viaje.
Paulo Yokota