Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A China de Xi Jinping no Valor Econômico

24 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo sobre a China, suplemento Eu & Fim de Semana, Valor Econômico

Com grande competência, Cyro Andrade elaborou para o suplemento Eu & Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, um importante artigo sobre a mudança de comando político que está ocorrendo na China, com a ascensão de Xi Jinping que deve ocupar o posto máximo naquele país em outubro próximo. O artigo se baseia nas informações de Michael Pettis, das Universidades de Pequim e Columbia, que é considerado um dos maiores conhecedores atuais daquele país e escreve regularmente para alguns jornais.

Utiliza, também, o livro de Justin Yifu Lin, o economista-chefe do Banco Mundial, que escreveu “Demystifying the Chinese Economy”, e o trabalho “The Battle for China’s Top Nine Leadership Posts”, publicado por Cheng Li, que é o diretor de pesquisas do John L.Thornton China Center da Brooking Institution, no The Washington Quarterly, deste inverno no Hemisfério Norte. Todas as fontes utilizadas são consideradas do mais alto nível internacional.

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O assunto do artigo, que merece uma leitura completa e demorada, concentra-se na preocupação dos analistas sobre as possibilidades de alterações no Comitê Permanente do Politburo chinês, junto com a ascensão de Xi Jinping, que influenciaria o futuro da China. Haveria dois grupos básicos, um liderado por uma elite de chineses, que o artigo de Cheng Li denominou coalizão elitista, do qual faz parte o novo futuro presidente Xi Jinping e outros mencionados no artigo. E outro, que chamam de coalizão populista, que seria liderado por Li Keqiang, com uma orientação mais tradicional e até retrógada de alguns citados como seus componentes, como a volta ao maoismo.

De qualquer forma, o artigo enfatiza que o processo de escolha dos componentes deste Comitê Permanente ainda é obscuro para os estrangeiros, havendo poucos na própria China que possam esclarecer completamente os critérios adotados, ou as posições dos diversos grupos internos de pressão.

O que parece como indícios é que existem diversos grupamentos informais, ora predominando algumas tendências ora outras. Mesmo estes dois grupamentos apontados podem ser uma generalização exagerada diante das diferenças étnicas, linguísticas, regionais, setoriais, das regiões mais industrializadas do litoral e do predominantemente rural do oeste chinês.

Existem ainda interesses das universidades e grupos de think tank, além dos militares, bem como grandes conglomerados estatais e grupos privados que já atingiram grandes dimensões, cujos interesses se espalham por todo o mundo. Todos eles estão incorporados no Partido Comunista Chinês, mas imaginar que são possíveis de serem agrupados somente em duas tendências parece um exagero.

É preciso entender que a China é uma espécie de continente com uma comunidade de regiões, que seriam verdadeiros países, como na Europa. E que suas fronteiras internacionais são mantidas a duras penas, evitando-se movimentos separatistas, como no Tibet e outras regiões, pretendendo-se estabelecer com Taiwan o mesmo tipo de relacionamento que se conseguiu com Hong Kong.

Ouve-se, muitas vezes, falar de grupos como os de Xangai e certamente Hong Kong bem como Taiwan contam com o critério de um país, dois sistemas, com um elevado pragmatismo. A leitura da obra monumental de Henry Kissinger sobre a China ajuda a compreender esta ampla realidade.

Do ponto de vista econômico, as indicações são de que depois das dificuldades nos Estados Unidos, elas se espalharam rapidamente para a Europa e o Japão, chegando mais tarde à China e outros países emergentes. Existem análises que apontam que os que ingressaram mais rapidamente na crise, terão chances de se recuperarem antes. Atualmente, as dificuldades estão na Europa, mas aguarda-se que cheguem à China com o aumento das distorções em decorrência do tempo, possivelmente em 2013.

Os mais otimistas aventam a possibilidade que países que contam com regiões menos desenvolvidas, como os predominantemente rurais da China, podem merecer uma atenção maior, tanto na melhoria do padrão de vida de suas populações como nas infraestruturas para atendimentos de suas necessidades econômicas e sociais. Isto poderia se sustentar com a expansão do mercado interno, compensando parte do desaquecimento que vem do exterior.

O que pode dizer é que não existe somente uma explicação para a evolução da China nos próximos anos, mas muitas decorrentes das posições dos diversos analistas.

Até agora, os indícios são de que a China com Xi Jinping mostra-se mais informada e aparelhada para um intercâmbio com o resto do mundo, preservando os seus interesses, mas não se podendo ignorar o aumento de sua importância política e militar, sendo inevitáveis atritos com outros blocos externos.

Só o tempo poderá dizer tudo o que vai acontecer…