Artigo do The Wall Street Journal Sobre Xi Jinping
7 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: carreira, contatos com os Estados Unidos, The Wall Street Journal, Xi Jinping | 2 Comentários »
Os jornalistas Jeremy Page e Mark Peters do The Wall Street Journal publicaram o artigo “O líder que pode mudar a relação China-EUA”, publicado em português pelo Valor Econômico. O artigo recorda a visita de Xi Jinping, o próximo presidente da China, na sua primeira visita a Muscaline, Iowa, grande produtor de cereais para rações, para onde deve voltar na próxima visita aos Estados Unidos.
O extenso artigo sobre Xi Jinping trata de sua conturbada biografia, por ser um filho de um líder chinês que passou por um período difícil na Revolução Cultural, e acabou sendo reabilitado. Ele foi para o campo como muitos estudantes da época, mas por causa do seu pai sofreu limitações, como muitos outros que eram considerados privilegiados e antiMao. Acabou conseguindo formar-se em química orgânica na famosa Universidade de Tsinghua onde estudaram muitos dos líderes políticos chineses das últimas décadas, superando algumas dificuldades.
Xi Jinping com o presidentes Lula durante visita ao Brasil em 2009
A carreira política de Xi Jinping também foi conquistada com sacrifícios, pois sua entrada no Partido Comunista Chinês foi negada três vezes. Mas acabou se destacando por suas administrações em regiões pobres como no litoral desenvolvido. É considerado um dos líderes chineses que mais conhecem o exterior, estando habilitado a promover as reformas que todos esperam, provocando a ativação da economia chinesa, que pode impulsionar o resto do mundo.
É casado com uma estrela cantora chinesa, considerada de grande charme, tendo todas as condições para se tornar uma sensação internacional. Suas posições são cautelosas, mas acabou sendo reconhecido pela cúpula do Partido, sendo uma promessa de uma nova liderança, tanto interna quanto nos relacionamentos com o exterior.
Os norte-americanos depositam grandes esperanças nestes relacionamentos que vêm se repetindo, tanto com populares quanto suas lideranças, que parecem cultivar estas relações inclusive pessoais.
Sua tarefa não será nada fácil, pois, apesar do seu charme pessoal, a importância que a China adquiriu nas últimas décadas assusta o resto do mundo, não só os seus vizinhos asiáticos, como os que podem fornecer as matérias-primas que aquele país necessita para continuar mantendo o seu elevado ritmo de desenvolvimento.
O fato concreto é que muitos artigos e livros que estão sendo publicados sobre a China no Ocidente estão acrescentando algumas informações, assustando a alguns, entusiasmando a outros. Internamente, as aspirações por maior liberdade acompanham a melhoria da situação econômica, potencializada pelos meios de comunicações mais ágeis.
Mas é preciso considerar que existem limitações econômicas bem como limites políticos no mundo que está se transformando rapidamente, com a ascensão de novas massas que desejam participar das decisões e não aceitam facilmente as restrições a que todos estamos sujeitos.
A China continua sendo uma das maiores poluidoras do mundo e o seu desenvolvimento ocorre ao mesmo tempo em que há um envelhecimento da sua população. Breve, devem confrontar com os indianos, que contam com uma população mais jovem, enquanto as restrições que se observam na Europa do ponto de vista econômico acabam por gerar tensões difíceis de serem administradas neste mundo globalizado.
Grande parte das reportagens que leio neste site mostra uma China voraz pelo seu crescimento econômico, porem muito vulnerável em relação ao envelhecimento da população, a questão do filho único e com isso a diminuição do número de mulheres. Além disso existe as diferenças entre o campo e a cidade, diferenças que para um país tão poderoso e rico poderá se tornar um tremendo problema.
O mundo inteiro está imaginando que a China irá tornar-se uma potência tal qual os EUA, característica essa que eu acho muito difícil de ser alcançada, devido a uma “pequena GRANDE” diferença, a mentalidade dos chineses é muito diferente da dos americanos. Se um país “livre” tem problemas para controlar sua população de 300 milhões, que dirá um país com 1 bilhão e 300 milhões. O dinheiro e a liberdade une os estadunidenses, mas será que o mesmo ocorre no país do feng shui?
Caro Vinicius,
Não existe nenhum país que não tenha os seus problemas, mas convem considerar que a China merece respeito. O livro de Henri Kissinger sobre a China indica e mostra o que Joseph Needhan de Cambridge já tinha apontado. Até a Revolução Industrial a China comandou o processo de inovação no mundo, por milênios. O próprio conceito de democracia baseado nas Revoluções Americanas e Francesa sofrem aperfeiçoamentos, e a concepção confuciana precisa ser respeitada (não se persegue a igualdade total, pois os mais velhos são mais considerados que os jovens, os professores mais que os alunos, os pais mais que os filhos, não dependendo do poder econômico. A China foi capaz de superar a Revolução Cultural, que foi uma calamidade como a do nazismo. Os Estados Unidos contam ainda com o sistema de inovações e educação respeitável, que recebeu muitas contribuições européias (como Einstein). O sistema educacional e a intensificação das pesquisas e inovações na China são tópicos que precisam ser observados. Iludem-se muito os que pensam que os controles governamentais, mesmo com de um Partido Único, acabam determinando um povo todo pensando da mesma forma. Há muitas correntes na China competindo entre eles, ora com a predominância de uma orientação, ora de outra. Milhares de sites chineses transmitem pensamentos diferentes dos chineses para o exterior.
A atual campanha eleitoral nos Estados Unidos está conduzindo o processo político para um caminho perigoso, e o predomínio do sistema financeiro é uma distorção preocupante. Outro artigo postado sobre o artigo do ministro de relações exteriores da Austrália mostra que todo o Pacífico não aceita a bipolarização China-EUA, e como V. mesmo apontou, além da Índia, existem outros países asiáticos que estão crescendo, descentralizando o poder entre muitos países como o G20, Brics etc.
Paulo Yokota