Considerações Desapaixonadas Sobre a China
15 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: apreciação da China desde Nixon até hoje, Minxin Pei, problemas, Project Syndicate
Na profusão atual de artigos escritos sobre a China, os divulgados pelo Project Syndicate costumam ser considerados os mais confiáveis e ponderados, mesmo que seja impossível que os autores tenham total imparcialidade. Minxin Pei é professor da Claremont McKenna College e escreveu “Nixon Then, China Now”, divulgado pelo Project Syndicate, procurando resumir o que aconteceu naquele país até hoje desde a visita de Richard Nixon em 1972, assessorado por Henry Kissinger, resumindo os problemas ainda existentes na China, apesar do seu impressionante desenvolvimento nas últimas décadas.
Minxin Pei é um considerado acadêmico respeitável na área da política comparada, formado na Shanghai International Studies University, com mestrado e doutorado na Harvard University, especialista nas relações sino-americanas e nos assuntos asiáticos, além da bacia do Pacífico. O seu curriculum e os livros que escreveu o credenciam e seus artigos são considerados respeitáveis como profundos.
Segundo o autor, sem a ação de Nixon, a China teria continuado no isolamento autoimposto, e a abertura de Deng Xiaoping teria sido mais difícil, mas modestamente pode-se argumentar que Henry Kissinger é que continuou ajudando outros presidentes dos Estados Unidos. Minxin Pei descreve rapidamente o que era a China daquela época e o que é hoje, mas, enquanto implementaram políticas para maximizar os benefícios do livre comércio, ela continua, em sua opinião, despreparada para uma profunda integração com o mundo.
Outro sinal, segundo o autor, é que a China continua com a falta de instituições e regras. Por exemplo, ela se tornou uma significante provedora de assistência para o desenvolvimento muitas vezes ligado ao fornecimento de matérias-primas, mas não conta com uma agência para coordenar a sua ação para tanto, havendo partes que atuam com um indesejável neocolonialismo. Outra carência seria a falta de uma política de migração. Ainda que tenha iniciada a atração de imigrantes de todo o mundo, não conta com uma formulação que permita o ingresso de talentos com todas as complexidades internacionais envolvidas. Um terceiro exemplo seria a ausência de uma política para organização de instituições de pesquisas independentes, pois elas necessitam de liberdade para ajudar as autoridades sem se sentirem dependentes.
Ainda, segundo o autor, talvez o mais importante seja que o rápido crescimento de duas décadas mascarou sérias fraquezas na frente econômica. Com o capitalismo de Estado, poucas são as empresas chinesas que têm condições efetivas de competição internacional no mundo. Até agora, muitas funções vitais foram desenvolvidas por estrangeiros, para os quais tarefas foram terceirizadas. Existem as gigantescas estatais, mas suas eficiências estão mascaradas.
Minxin Pei aponta que a China, para continuidade do processo de sua globalização, necessita de um conjunto de talentos comparáveis com os Ocidentais. Ainda que conte com muitos especialistas, a sua educação em ciências sociais e humanidades são particularmente deficientes. Os chineses graduados em universidades aprenderam pouco sobre o mundo externo em áreas como antropologia, sociologia, relações internacionais, literatura comparada e história.
Segundo o autor, nenhuma destas dificuldades é insuperável. Para ele, a dificuldade fundamental está no sistema de partido único que acaba sendo hostil aos valores liberais que inspiram e sustentam a globalização.
Este tipo de deficiência não é somente dos chineses, e nem é preciso acreditar que dentro de um partido não hajam divergências entre suas muitas alas. Os desconhecimentos dos asiáticos, em geral, sobre a América Latina e outras regiões potencialmente emergentes no mundo, ainda são significativas.