Guerra e Paz de Portinari no Memorial da América Latina
21 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: doado às Nações Unidas, exposto no Memorial da América Latina em São Paulo, Guerra e Paz, restaurado, trabalhos de Cândido Portinari
Os brasileiros estão tendo a oportunidade de conhecer até 21 de abril próximo, no Memorial da América Latina, em São Paulo, a obra monumental de Cândido Portinari, “Guerra e Paz”. Uma exposição completa das obras deste paulista de Brodowski, interior do Estado de São Paulo, inclusive o original “Guerra e Paz”, que foi doada pelo Governo Brasileiro às Nações Unidas, e está exposto regularmente em Nova Iorque.
Dag Hammarskjold, ex-secretário Geral das Nações Unidas, Prêmio Nobel da Paz de 1957, considera “Guerra e Paz” “… a mais importante obra de arte monumental doada à ONU”, confirmado por depoimentos de vários jornais e críticos de todo o mundo. Depois de 50 anos de exposição na sede da ONU, a obra teve que ser restaurada no Brasil e está atualmente exposta integralmente, junto com outros trabalhos deste pintor que orgulha a todos os brasileiros. Percorrerá o mundo até voltar para as Nações Unidas em 2013. Trabalho do Projeto Portinari, com ajuda do governo brasileiro e das Nações Unidas.
Guerra e Paz em foto de Luciano Guelfi
Todos os visitantes ficam com os olhos marejados, e o coração tocado pelo trabalho monumental de Cândido Portinari, que, mesmo proibido pelos médicos a trabalhar com as tintas, terminou o seu trabalho, falecendo antes de vê-lo exposto no seu conjunto na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
De um lado “Guerra”, com 14 metros de altura e 10 de largura, sem sangue nem armas, mas com o sofrimento do povo exposto de forma monumental, como com o clamor dos braços erguidos, com predominância do azul. São 14 painéis de madeira de 2,3 metros de altura e 5 metros de largura, pesando cada um 75 quilos. De outro, “Paz”, também com a mesma dimensão, mostrando crianças, mulheres, homens do povo exibidos em coros, brincadeiras e na labuta, vivendo sem guerra, mais claros em suas cores. No conjunto todo são 28 painéis.
Um multivisual da melhor qualidade reproduz de forma inteligente os estudos e outros trabalhos de Portinari, ligando o conjunto de sua obra com textos de Carlos Drummond de Andrade e outro lido por Milton Nascimento. Permitem a compreensão mesmo daqueles que não são versados em obras de artes plásticas.
Na Biblioteca do Memorial da América Latina, um vídeo mostra uma parte do excepcional trabalho de Portinari, mostrando que desde o seu início, quando aos 14 anos seguiu para o Rio de Janeiro, tinha a preocupação de retratar o seu povo, dos pobres, dos sofridos com as secas, com os índios, com as mulheres, com os mulatos, tudo que acabou culminando em “Guerra e Paz”. Ele foi um autodidata, aprendeu tudo com as leituras sobre os grandes mestres, nunca teve um professor, mas um talento excepcional.
E na Galeria Maria Traba, do mesmo Memorial, está sendo apresentada parte dos trabalhos de Portinari reunidos para este evento, uma raridade no mundo. Muitas documentações das manifestações em toda a imprensa mundial sobre “Guerra e Paz” estão sendo expostas, junto com os trabalhos do seu acervo reunidos.
Os que puderem devem visitar esta exposição, que será itinerante até 2013, quando “Guerra e Paz” deve voltar à sede das Nações Unidas em Nova Iorque. É um evento raro no mundo, e mostra toda a estatura deste pintor que orgulha o Brasil. No catálogo do evento está inscrito: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia” (Tolstoi).
Para os que não tiverem a oportunidade de visitar esta exposição, existe uma publicação editada pela Dom Quixote, Editores, Rio de Janeiro, 2010, realizada pelo Projeto Portinari que promove também esta exposição atual, levando também o nome “Guerra e Paz”. Os que desejarem conhecer a visão de Cãndido Portinari do mundo atual globalizado devem procurar lê-lo.