Lições do Crescimento dos BRIC
20 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: algumas lições do crescimento dos BRIC, artigo no The Atlantic, diferentes pontos de vista
Nestes tempos de Carnaval, a carência de notícias mais relevantes levam os jornalistas como Derek Thompson e Max Fisher a publicar na revista The Atlantic, reconhecida pela qualidade de seus artigos, uma reflexão mais profunda sobre o que estaria acontecendo nos países emergentes que foram agrupados sob a sigla BRIC, que estão obtendo performances diferentes. Segundo eles, a China tornou-se a maior produtora de manufaturados no mundo, o Brasil o mais dinâmico e excitante país no Ocidente, a Índia está entre os de mais alto crescimento e a Rússia corre um pouco fora do comportamento do grupo.
Os investidores e analistas econômicos, segundo os autores, continuam interessados nos mercados de elevado crescimento e tentam retirar lições das experiências destes países agrupando-as em cinco itens mais expressivos: 1) trabalhos para ampliação da classe média; 2) intensificação do comércio internacional; 3) o capitalismo de Estado funcionando; 4) inibindo a corrupção e 5) fortalecimento da sociedade civil.
Encontro dos líderes do BRICS na China em 2011
Sobre o crescimento da classe média, verifica-se que o Brasil, a Rússia, a Índia e a China tiveram resultados excepcionais e ainda existem espaços para a sua expansão nas próximas décadas. Segundo estimativa do OECD – Organização Econômica para o Crescimento e Desenvolvimento, metade da classe média mundial poderá estar na China e na Índia até 2050. Mas existem riscos como a alimentação e habitação desta população, como está sendo verificado atualmente na China, gerando pressões inflacionárias e bolhas setoriais.
Podemos acrescentar algumas observações ao artigo. Qualquer economia em crescimento depende do mercado internacional, pois no primeiro momento ocorre uma diversificação da demanda com o efeito, demonstração que vem do exterior, e para atender esta demanda parte da produção acaba sendo feita no país, mas há necessidade de ampliação das exportações para gerar as divisas necessárias para os pagamentos dos encargos relacionados com a importação de equipamentos, matérias-primas, produtos acabados como todos os serviços relacionados com estas atividades, além do serviço da dívida externa.
Os autores expressam que a China aproveitou a sua mão de obra barata e ampliou suas exportações de manufaturados. A Índia triplicou suas exportações nos últimos 17 anos. E o Brasil vem ampliando suas exportações de produtos primários, como a Rússia com o petróleo, beneficiados pelas melhorias dos seus preços. China, Índia e Brasil foram também favorecidos pelos investimentos provenientes do exterior, que acabam ampliando suas atividades externas.
Dos quatro países, os autores afirmam que somente a Índia pode ser considerada com atividades governamentais menos intervencionistas. Existe o uso do mercado em todos, mas em um prevalece um verdadeiro capitalismo de Estado, com a regulação do governo em muitas atividades. Eles orientam o crescimento de longo prazo, ainda que no longo prazo muitas atividades sejam privatizadas. Contraste forte está ocorrendo, segundo os autores, com os baluartes da livre iniciativa como os Estados Unidos, a Europa e o Japão que não estão conseguindo bons resultados recentes.
Este tipo de capitalismo de Estado está contagiando outros vizinhos asiáticos, africanos e latino-americanos. Em vez de abrirem para as empresas estrangeiras, estão tentando criar as suas próprias de dimensões competitivas, muitas estatais. Acabam atuando no exterior e internalizam seus resultados para a ampliação da infraestrutura interna.
Os autores acabam concluindo que também os países ocidentais necessitam aprender estas realidades, pois as fortes flutuações na economia e a necessidade de controle do sistema financeiro exigem a intervenção governamental. Trata-se do Estado indutor que vem sendo apregoado pelo professor Antonio Delfim Netto no Brasil.
Os autores apontam o exemplo dos problemas de corrupção nos Estados Unidos, informando da promiscuidade nos relacionamentos dos empresários com os políticos. Nos países emergentes e em desenvolvimento, estão enfrentando problemas de corrupção diante de bilhões de dólares para o desenvolvimento. Os administradores de um grande banco chinês que administra trilhões de empréstimos não podem ser isentos de pressões. As mudanças que precisam ser feitas nas industriais locais sofrem resistências, inclusive nas mudanças de atividades voltadas para as exportações.
Derek Thompson, editor do The Atlantic
Os autores citam exemplos das decisões na Rússia envolvendo fornecimentos de gás, como outras distorções do mau gerenciamento nos assuntos relacionados com a Europa. Mesmo na Índia, com um mercado mais livre, os políticos se sentem menos constrangidos, quando volumosos recursos são voltados para interesses que não são do país.
Eles citam também que economias fortes necessitam de Estados fortes e sociedades fortes. Se o capitalismo de Estado entre os componentes do BRIC está crescendo, a lição que se aprende é que o governo necessita ser sadio, o que não é fácil. Muitas vezes não é a população que acaba sendo beneficiada. O melhor caminho, segundo os autores, é a sociedade civil contar com mecanismos de controle, como sindicatos, grupos de interesse público, partidos políticos, escolher ou não os seus líderes.
Segundo eles, a sociedade civil na China e na Rússia é fraca, na Índia é grande e luta com dificuldades, e relativamente bem sucedida no Brasil. O que pode explicar a maior estabilidade brasileira comparada com os demais membros do BRIC. O Brasil conta com a melhor cotação no último ranking do Freedom House, uma organização voltada para a medida dos direitos políticos e liberdades civis dos quatro países.
Ainda que não seja a solução de todos os problemas do desenvolvimento, tudo indica, segundo os autores, que uma sociedade civil ativa ajuda nos problemas do desenvolvimento dos países emergentes.