Livro de Culinária da Revolução Cultural
3 de fevereiro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: criatividade na escassez, da University of Southern California, entrevista da Rachel Will, US-China Today | 2 Comentários »
Uma interessante entrevista feita por Rachel Will com Sasha Gong foi publicada no US-CHINA TODAY, da University of Southern California, sobre o livro que o entrevistado preparou junto com Scott Seligmann, sobre a culinária chinesa utilizando a criatividade no período de escassez da Revolução Cultural.
O entrevistado que era de Guangzhou, na região cantonesa, que apresenta a culinária chinesa mais conhecida no mundo, foi obrigado com sua família a trabalhar numa pequena vila na província de Hunan. Aprendeu a utilizar a sua criatividade e conhecimento para cozinhar com o que estava disponível, e o livro trata de pratos que podem ser preparados com o que se encontra em qualquer parte dos Estados Unidos, não necessitando de ingredientes só possíveis de serem conseguidas em estabelecimentos especializados.
A entrevista esclarece aspectos da China da época, bem como as circunstâncias da elaboração do livro, e não o seu conteúdo que deve ser muito interessante, mas que só será possível conhecer contando com esta publicação.
A pergunta inicial foi sobre o que inspirou o autor a escrever este livro. Seu parceiro Scott Seligman teria observado durante os seus muitos trabalhos conjuntos que ele cozinhava de forma muito diferente do que Seligman conhecia em 11 anos de vivência na China, Taiwan e Hong Kong. Ou seja, era uma culinária dos anos de fome da Revolução Cultural e ele desejava informar os americanos sobre este período de forma sutil.
A segunda pergunta era sobre a memória culinária desta época. Ele explicou que a fome era a lembrança de toda a hora e eles procuravam cozinhar da melhor forma possível o que podiam obter, pois os alimentos se tornaram importantes para a vida social dos chineses neste período de restrições das autoridades.
A terceira pergunta foi sobre o processo de elaboração do livro. O entrevistado explicou que ele e o parceiro prepararam 75 pratos para serem partilhados com seus vizinhos, sendo que 60 foram aproveitados na publicação. Não se preocuparam com a aparência, mas o que era possível se fazer criativamente com o material disponível, utilizando as experiências acumuladas. As combinações dos elementos utilizados são importantes.
A quarta pergunta era a diferença de suas receitas com a atual cozinha chinesa. Ele explicou que utilizou o que está disponível nos supermercados dos Estados Unidos, não utilizando materiais preparados. Não se usa a fritura profunda, e os pratos precisam ser preparados com pouco tempo.
A pergunta seguinte era sobre a importância de ritualística vital na culinária chinesa, e se isto estava presente na época da Revolução Cultural. Ele explicou que a tradição cantonesa estava presente, sendo importante para a família junta, mesmo com o controle político, racionamento e outras restrições. Procurava-se gozar a vida mesmo com a ditadura.
A pergunta sobre a origem controvertida do livro, o autor respondeu que com ele celebra-se a criatividade chinesa mesmo no mais duro comunismo. Outra pergunta era sobre a modernização da China e se o mesmo ocorria na culinária. Segundo o entrevistado, com a melhoria das condições de vida, a culinária que proporciona o prazer pela vida também se tornou mais acessível. Se o povo fica mais satisfeito com a vida, o suporte ao governo aumenta.
Outra pergunta foi sobre a mudança da relação com os alimentos vivendo nos Estados Unidos. O autor explicou que pretende elaborar um livro sobre a fusion e que os americanos usam demais as gorduras. Ele pretende uma cozinha saudável, e o que aprendeu durante a Revolução Cultural pode ajudar. Sobre a sua receita favorita, ele disse que havia restrição no uso do pato, o que o leva a apreciá-lo agora.
Perguntado sobre o restaurante chinês favorito nos Estados Unidos, ele informou que há muitos com menus incompreensíveis, mas existem muitas comunidades chinesas importantes naquele país, mas para ele o Full Kee, um restaurante cantonês próximo a Washington, é o seu favorito.
A entrevista denota uma franqueza mostrando que Sasha Gong é um chinês moderno e acostumado com os Estados Unidos, pois na sua média eles costumam ser mais reservados na própria China.
Muito interessante esse livro, gostaria de tê-lo. Não é um conhecimento limitado apenas aos pesquisadores, estudiosos e outros profissionais da gastronomia, mas também é para qualquer um que se interesse pela história humana. Muito bom o post, abraço.
A todos,
Obrigado pelo comentário. Concordo plenamente com ele.
Paulo Yokota