Análise das Relações do Governo com os Empresários
26 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: além das notícias sobre o evento, causas e consequências, pano de fundo
A opinião pública foi informada que houve uma gigantesca reunião de 28 empresários convidados com a presidente Dilma Rousseff na semana passada, mas quais foram às razões que a provocaram e quais serão as suas consequências? Ainda que uma equipe da revista Veja tenha efetuado numa longa entrevista com a presidente logo depois da mesma e Sérgio Leo, do Valor Econômico, tenha feito um resumo do evento na sua coluna semanal, somente alguns poucos pontos ficaram esclarecidos.
Já foram feitas diversas destas reuniões no passado, na tentativa de coordenação da ação governamental com as aspirações e ações do setor privado, com efeitos limitados. É sempre difícil que haja eficácia em reuniões desta magnitude sem um preparo prévio e adequado, sem que uma minuta de um documento seja submetida na tentativa de aprovação de uma posição razoavelmente consensual.
Reunião da presidente Dilma Rousseff com 28 empresários brasileiros.Foto: Sergio Lima/Folhapress
Tudo indica que a economia passa por um período de substanciais investimentos, com parte suportada pelo governo, com recursos orçamentários e financiamentos, e a maioria pelo setor privado. O governo encontra-se numa fase de contenção dos seus gastos para não agravar o seu endividamento, e enfrenta problemas de gestão em muitos dos seus projetos. E o setor privado conta com restrições decorrentes da alta tributação e confusa, juros altos ainda que em queda, inadequada infraestrutura, câmbio desfavorável e tudo que se convencionou chamar de “custo Brasil”, que limita sua competitividade com empreendimentos em outros países. Todos concordam com estes problemas agravados pelas condições externas. E alguns empresários aproveitam a plateia para manifestar seus investimentos futuros, com grande eloquência.
Ninguém seria ingênuo para concluir que um evento desta natureza seria suficiente para desencadear uma nova onda de investimentos, mesmo com as promessas governamentais de minorarem alguns dos problemas. A promessa de que tais reuniões se repetirão trimestralmente e que medidas adicionais do governo serão anunciadas brevemente confortam, mas ainda não são suficientes para entusiasmar e estimular o espírito animal dos empresários.
Mesmo aceitando-se que o papel aceita tudo, parece que seria conveniente que as próximas reuniões contem com diagnósticos claros dos principais problemas, as metas que serão perseguidas e os esboços das estratégias que serão adotadas pelo governo. Sendo os recursos sempre limitados, opções necessitam ser tomadas e elas são importantes como orientações para os demais empresários e investidores privados. Ainda que não sejam planos, as múltiplas mudanças de condições que se observam em todo o mundo ficariam com menores riscos se contarem com diretrizes claras. Até porque o Congresso, o Judiciário e principalmente a opinião pública também são relevantes.
Como os investimentos privados não serão feitos somente pelos 28 empresários que foram convidados para o evento, e os estrangeiros possuem um peso muito grande, seria interessante que uma ata resumida à semelhança das divulgadas depois do Copom fosse elaborada, principalmente porque a imprensa não teve acesso direto à reunião.
Em qualquer hipótese, a evolução dos sistemas de administração da economia brasileira, a demonstração que o Executivo está sensível a algumas das reivindicações do setor privado, o desejo manifesto que muitos empresários desejam ampliar os seus investimentos são confortadores. Seria interessante acrescentar que as principais economias emergentes que competem com o Brasil contam com Planos Quinquenais mais expressivos, refletindo a visão de longo prazo existente no país.