Aproveitando Novo Artigo de Minxin Pei Sobre a China
20 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo de Minxin Pei no Project Syndicate, condicionamentos políticos e históricos, distorções de outras análises semelhantes
Um novo artigo publicado por Minxin Pei, professor da Claremont Mc Kenna College, divulgado pelo prestigioso Project Syndicate expressa o ponto de vista do autor sobre as dificuldades de adoção das recomendações feitas pelo Banco Mundial sobre a China. Ele afirma que as reformas propostas, como o aumento da privatização das atuais estatais, não se ajustam aos interesses dos que dominam o Partido Comunista Chinês, que acomodam os seus 80 milhões de membros em organizações desta natureza.
Ainda que muitos dos diagnósticos possam estar corretos do ponto de vista técnico, como as diversas reformas políticas e econômicas para a continuidade do desenvolvimento da China até 2030, o autor entende que eles não cooptam os interesses da maioria dos interesses que dominam o país, correndo o risco de simplesmente serem ignorados. O Plano propõe que os gastos em serviços sociais se elevem em 7 a 8% por cento do PIB nos próximos 20 anos, quando a atual tributação já gira em torno de 35% do PIB, para atender as necessidades de custeio e investimentos.
Minxin Pei
Para tanto seriam necessários cortes substanciais que sustentam as elites dominantes da China, que gozam de privilégios semelhantes com os da “nomeclatura” russa mesmo nos períodos mais duros do stalinismo. Difícil imaginar que haveria uma transparência nos regimes autoritários que permitam uma melhor distribuição dos benefícios, segundo o autor. É evidente que tem ocorrido muitas fases na política chinesa, em que aspirações de muitos grupos como os que vivem no meio rural acabam sendo atendidos, mas tudo isto significa uma redução do atual ritmo de crescimento.
Este tipo de colocação tecnocrática vem se colocado por muitos críticos dos processos de desenvolvimento de países emergentes. Tendem a subestimar a história e a situação a que chegaram muitos países até o momento, com todos os seus interesses políticos, que não permitem facilmente uma eficiência elevada, ainda que desejada.
Isto acontece na China, na Índia, na Rússia como no Brasil. É mais fácil diagnosticar quais os constrangimentos existentes e recomendar reformas, mas se eles não contarem com a cooptação de importantes correntes cujos interesses estão profundamente arraigados, acabam sendo brilhantes planos para enfeitarem as prateleiras das bibliotecas.
É por isto que o processo de desenvolvimento econômico exige muita arte da parte dos formuladores de planos. No Brasil, existem exemplos interessantes, como o histórico Plano de Ação do Governo Carvalho Pinto no Estado de São Paulo. Havia um Grupo de Planejamento que estabelecia quais os projetos prioritários, e os mesmos eram informados para os deputados que tinham uma base política na localidade que seria beneficiada. Apareciam para os eleitores como seu projeto, para dar substância ao suporte ao governo. Inúmeros governos adotam e adotaram manobras desta natureza para darem a impressão à opinião pública de que o governo conta com o respaldo do legislativo, que tende a ser menos operacional que o executivo.
De forma semelhante, quando se reconhecem fortes resistências nos Congressos para as ações do Executivo, parece conveniente considerar que uma parte deste cenário não passa de uma espécie de teatro, não refletindo exatamente a realidade.