Chef Vítima dos Desastres no Japão dá Demonstração no Brasil
21 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Gastronomia, Notícias, webtown | Tags: artigo no Valor Econômico, Koichi Mori no Blue Tree, um ano dos desastres
Koichi Mori, chef mestre de sobá, relata sua experiência comovente de vítima do triplo desastre em Sendai, capital da província de Miyagi, e dá uma simbólica demonstração da tenacidade de um povo que luta pela reconstrução. Dois artigos de Marli Olmos foram publicados hoje no Eu & Blue Chip do Valor Econômico falando deste evento. A rápida descrição do chef de como foi atingido pelo desastre, que possivelmente foi um dos poucos relatos feitos ao vivo em São Paulo e causou um forte impacto na plateia. Ele foi preciso: “Eram 2h46. Eu estava no mercado. Fazia compras para o restaurante (que é de sua propriedade), quando o teto começou a cair. Havia muita coisa no chão e não sabia onde pisar. Quando saí, vi gente ferida e ruas inundadas. Pessoas andavam, corriam, como num filme. E isto me causou medo…¨ usando um roteiro rabiscado, pois falar não é sua especialidade.
O chef Koichi Mori possui o restaurante Koimon-ya Mori, um dos cada vez mais raros que servem macarrões japoneses preparados manualmente no próprio estabelecimento. Quando lá chegou, ele viu um tapete de cacos de louças, cerâmicas e copos de uns 15 centímetros de altura, tudo destruído. A parede do estabelecimento estava rachada com o tremor. A casa onde ele dava aulas sobre os preparos destes macarrões foi engolida pelo tsunami e nada restou, informou ele com voz embargada e olhos lacrimejados.
Chef Koichi Mori / Chieko Aoki acompanhou o preparo com atenção
O sobá foi escolhido para a demonstração, pois é típico da região atingida pelos desastres no Japão e é consumido especialmente na virada do ano, pois sendo fino e longo representa votos de vida por muitos anos com resistência, à semelhança com o que acontece com o bambu.
Na demonstração, o chef Koichi Mori mostrou que realmente é um mestre no assunto, pois usando o trigo normal e o sarraceno do Brasil constatou que ele tinha menos elasticidade que o japonês e usou duas manobras criativas. Misturou na massa um pouco de cará ralado que aumentando a elasticidade, permitiu que o sobá ficasse longo e não quebradiço. Também para melhorar o seu sabor e a coloração acrescentou o “matchá”, que é o pó de chá verde utilizado nas cerimônias de chá.
Para dar a melhor consistência à massa, o mestre o amassou como fazem os ceramistas com o barro, num gesto repetido muitas vezes. A massa é esticada, inicialmente na forma circular, que com muitos processamentos ganham uma forma retangular, que dobrada fica preparada para o corte.
Este corte, com uma faca especial, e todos os instrumentos utilizados possuem nomes específicos, foi ajudado por um apoio, permitiu uma uniformidade com grande rapidez na sua finalização, impressionando todos que assistem ao processo.
Como estamos ainda com um clima quente, o sobá assim preparado e cozido em água quente vai sendo esfriado, primeiro numa água com gelo, e depois numa peneira somente com gelo, pronto para ser degustado com um molho especifico.
Nada melhor que esta homenagem e o agradecimento a todos que contribuíram com doações para as vítimas do triplo desastre, promovido pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo, Fundação Japão, os hotéis da cadeia Blue Tree e Shin Koike do restaurante Aizomê. Ele também fez uma demonstração de um nhoque de sobá com molho de rabo bovino.
Tudo isto acabou atraindo a mídia, pois contou também com a presença de um jogador chinês do Corinthians que estava com uma camiseta do clube com a inscrição em japonês: Força Japão, lembrando que os japoneses ajudaram num terremoto que ocorreu na China, como os chineses no Japão.