Difícil Governança Mundial na Atual Transição
28 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: câmbio no OMC, dificuldades no consenso, reunião dos BRICS
Para sair do atual “imbroglio” em que está envolvido o mundo, vêm sendo realizadas muitas tentativas, mas ainda não se encontrou um mecanismo adequado para a sua superação. No passado, problemas como o do realinhamento cambial eram decididos dentro do G7, onde os Estados Unidos podiam impor, com a ajuda dos mais poderosos parceiros europeus, uma valorização do iene japonês como ocorreu no Acordo de Plaza. O Brasil provocou uma reunião na OMC – Organismo Mundial do Comércio para discutir o efeito dos câmbios nos fluxos comerciais, mas com as acusações generalizadas, principalmente entre os norte-americanos e chineses, sugeriu-se que o assunto fosse discutido no G20, como está noticiado em diversos jornais. Entre eles, o Valor Econômico, num artigo do Assis Moreira, com o título “China defende acordo temporário sobre o câmbio”. Realiza-se a reunião do BRICS, mas não se atinge um consenso sobre a criação de um novo banco de desenvolvimento entre os seus membros, como noticia Sergio Leo no mesmo Valor Econômico.
Os organismos multinacionais como o FMI – Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, e muitos outros que são considerados como componentes das Nações Unidas não conseguem a eficácia nas suas ações para equacionar estes problemas que estão afligindo a todos nesta economia globalizada. Com o desejo legítimo de todos os países participarem das decisões de medidas que os afetam, ainda não se atingiu um novo sistema de governança eficiente em escala global.
Enquanto não se consegue um consenso razoável, cada país procura os meios que resolvam seus problemas de forma isolada. Os Estados Unidos e a Comunidade Europeia estão inundando o mundo com liquidez, provocando o que a presidente brasileira Dilma Rousseff denominou um verdadeiro tsunami. O Japão toma medida semelhante para desvalorizar o seu iene. A Suíça estabeleceu uma margem para a variação do seu câmbio. O Brasil vem adotado medidas pontuais de protecionismo com o exagero da importação de alguns produtos que destroem suas indústrias. A China continua concedendo empréstimos para as suas empresas, sabendo-se que muitos acabarão sendo absorvidos por regras não muito claras.
Ainda que muitos não desejem admitir, continua havendo uma verdadeira guerra cambial, como expressou o ministro brasileiro Guido Mantega. Tudo isto está reduzindo a eficácia do sistema produtivo mundial e os fluxos comerciais passam por incertezas maiores.
Ao mesmo tempo, a falta de uma regulamentação adequada sobre os fluxos financeiros exagerados, que se observam em todo o mundo acaba fragilizando o sistema financeiro mundial, sujeitando-o às insolvabilidades de algumas dívidas públicas, exigindo esquemas de reescalonamento dos seus prazos, com juros menores, ao mesmo tempo em que parte das mesmas acaba sendo perdoada, como aconteceu no caso da Grécia.
Aumentam os fluxos dos recursos humanos, com o elevado desemprego em alguns países, e o processo de gradativa liberação dos mesmos acabam sofrendo pressões para o seu retrocesso.
Os povos que já conquistaram padrões elevados de consumo resistem abrir mão do que já conquistaram, e os países emergentes como a China e a Índia, bem como todos os demais mais pobres, com o aumento dos fluxos de informações, ampliam as suas aspirações para saírem da linha de pobreza absoluta.
Os programas mundiais de melhoria das condições do meio ambiente acabam sofrendo redução de suas prioridades, diante de necessidades mais dramáticas de curto prazo.
Torna-se imperativa a necessidade de se encontrar mecanismos de governança que permitam um mínimo de consenso, e as preparações das reuniões como do G20 acabam exigindo mais trabalho e negociações mínimas para que avanços continuem sendo observados.