Dois Anos e Meio de DPJ e Um do Triplo Desastre no Japão
5 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dois anos e meio do DPJ no poder, um ano dos desastres em Tohoku, um sentimento de frustração no Japão e no exterior
Lamentavelmente, depois de dois anos e meio que o DPJ – Partido Democrata do Japão assumiu o poder, e um ano dos três desastres que abalaram a região nordeste do Japão, nota-se nos noticiários internos do país, bem como os provenientes do exterior, um sentimento de frustração com os avanços obtidos. Sendo a terceira economia no mundo, a sua performance interessa não somente aos japoneses, como também ao resto do mundo globalizado. Todos torcem por uma recuperação vigorosa, mas ficam frustrados com a falta de determinação dos políticos japoneses, mesmo abalados por problemas profundos que os afetaram a partir da região de Tohoku.
Para ilustrar este sentimento, bastam pronunciamentos de grande importância como o editorial publicado no jornal econômico japonês Nikkei, nada menos que pelo seu editor-chefe Yoichi Serikawa sobre as dificuldades dos líderes partidários. Ou por Yumiko Ono num artigo publicado no The Wall Street Journal sobre os idosos que ainda permanecem em abrigos provisórios, formando um clube de tricô para manter seus relacionamentos. E o artigo publicado pelo professor de política internacional da Momoyama Gakuin Daigaku, Masahiro Matsumura, divulgado pelo prestigioso Project Syndicate que seleciona somente aqueles que possuem relevantes importâncias.
O editorial do Nikkei tem uma importância capital, pois é lido por todos os empresários, políticos e líderes de opinião do Japão, tendo a tiragem de milhões de exemplares diários. Ele começa com a afirmação que o caos na política japonesa está impedindo qualquer coisa a avançar, levando até a possibilidade da criação de um novo partido para acabar com o bipartidarismo do atual DPJ, que está no poder com o LDP – Partido Liberal Democrata que esteve ao longo de muitos anos no poder depois da Segunda Guerra Mundial. Ele se refere à Associação de Restauração que surgiu como reação aos políticos veteranos na região de Osaka, na tentativa de servir como uma escola de novos líderes políticos.
O atual gabinete estabeleceu um esboço para a segurança social e uma reforma fiscal, mas nada avançou nas negociações com a oposição, que exige a dissolução da Câmara Baixa, e a convocação de uma nova eleição parlamentar, na esperança de recuperarem o poder. O editorial propõe o aproveitamento das ideias de Joseph Schumpeter (1883-1950), da destruição criativa que levaria o mercado em constante desequilíbrio a produzir um novo dinamismo econômico, como forma de resolver os problemas japoneses.
No The Wall Street Journal, o artigo informa que as obras para as novas residências estão atrasadas, obrigando aos idosos conviverem encontrando formas de relacionamento como no clube do tricô. Nem se chegou aos critérios das indenizações das moradias destruídas. Cada um dos idosos reporta os seus dramas, sendo que todos perderam os pequenos negócios dos quais viviam, inclusive seus parentes. Procuram manter os seus novos relacionamentos no grupo dos sobreviventes.
No artigo distribuído pelo Project Syndicate informa-se que as mídias japonesas focaram-se obsessivamente na divulgação da magnitude dos danos e perdas de vidas. E depois de um ano, continua na mesma linha, estimulando o público a se tornar mais determinado na superação do desastre. Mas, segundo o autor, os japoneses podem ter sido vítimas de uma armadilha imprevista.
Ele faz um paralelo com o que os norte-americanos sofreram com a queda das torres gêmeas, que levaram a população para a guerra global ao terrorismo, que o público rejeitou na eleição de 2008. O atual governo japonês tem feito pouco depois de um ano dos desastres na reconstrução e reabilitação do país, diferente da imagem que foi transmitida para o exterior.
Enquanto isto, muitos evacuados continuam vivendo em abrigos temporários, e outros se recusam a permanecer nas áreas devastadas. Os agentes do setor privado reconstruíram as instalações da região, restabelecendo suas ligações com as cadeias globais de fornecimento, mas a região continua rejeitada, com áreas contaminadas com radiações que não permitem a recuperação de sua agricultura e pesca.
O partido situacionista, na opinião do autor do artigo, mostra-se incompetente e seus ministros sofrem censuras na Câmara Alta, e na Câmara Baixa, que detém o poder efetivo, os políticos estão preocupados com suas lutas internas, deixando os eleitores desencantados. Como o partido da situação atacou os burocratas chamando-os de mandarins, tudo afetou a coordenação política e o governo não consegue aprovar os seus projetos, inclusive de reabilitação das áreas devastadas.
A sensação de desamparo do público japonês deixa os eleitores suscetíveis à manipulação política, inclusive no relacionamento com os norte-americanos que ajudaram nos desastres. Tanto os Estados Unidos como o Japão precisam de tempo, enquanto se mantém a situação dos burocratas.
Todo este quadro fica agravado pelas decisões das empresas japonesas transferirem suas atividades para o exterior, diante da falta de perspectivas no Japão, enquanto sua dívida pública se amplia inclusive com os seus custos, e seus empregos diminuem. Os japoneses necessitam se reestruturar para viverem dos serviços, inclusive para atender os turistas chineses, e das rendas provenientes de suas atividades no exterior.
São dilemas complexos, ainda que os que possuem maiores patrimônios tenham a possibilidade de sustentar suas demandas. A previdência social, com elevação substancial de idosos, deixa encargos pesados para a população ativa.
Num artigo postado neste site, Steve K. Vogel, professor da UCLA Berkeley, sugeriu que o Japão voltasse a prestigiar a sua burocracia e elevasse os seus impostos, passando a viver de forma semelhante aos escandinavos.