Entrevista de Wen Jiabao no Final do NPC
15 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dificuldades de interpretação, entrevista no final do NPC – Congresso Nacional do Povo, necessidade da reforma política, resumo da agência Kyodo
Dentro da tradição asiática, o que uma personalidade importante como o primeiro-ministro Wen Jiabao expressa numa entrevista costuma ser aspectos gerais, não muito específicos, que exige um esforço para ser totalmente compreendido. A agência japonesa Kyodo enviou o seu entendimento que foi publicado no jornal japonês Nikkei, a partir das questões formuladas e suas respostas. O jornal China Daily dividiu seu noticiário em diversos tópicos, fornecendo as questões formuladas e suas respostas. Estas técnicas para generalizações fazem parte da cultura asiática, que necessita salvar a face destas personalidades, pois eventuais erros podem ser atribuídos a entendimentos errados feitos pelos que ouviram a entrevista. Mas, nesta última entrevista no término do Congresso Nacional do Povo, que foi de três horas, ele procurou fazer um balanço dos seus dez anos de liderança, abordando os mais variados assuntos formulados.
A Kyodo destacou que ele expressou de forma enfática que na reforma política seria indispensável executar a reforma econômica, sem que tenha esclarecido os seus conteúdos em detalhes. O China Daily interpreta que um insucesso na reforma política poderia gerar uma tragédia como a Revolução Cultural, ou seja, as conquista das três últimas décadas seriam perdidas com novos problemas de distribuição de renda, falta de credibilidade e corrupção que ainda não estão totalmente resolvidos e que dependem das mudanças que estão se processando.
Premiê da China, Wen Jiabao, nesta quarta-feira, dia 14 de março, durante entrevista. Foto: AP
A entrevista foi extremamente longa, pois este Congresso Nacional do Povo é anual, e na próxima Wen Jiabao já deve estar substituído pelo seu sucessor. Provavelmente, pelo atual vice-premiê Li Keqiang, junto com o praticamente confirmado presidente Xi Jinping, que atualmente é o vice-presidente. Isto deve ocorrer no próximo outono chinês, com a mudança da atual liderança do Partido Comunista Chinês, depois de 10 anos, passando da chamada quarta para a quinta geração de líderes.
O entrevistado afirmou que a reforma política é indispensável para assegurar a reforma econômica. Isto certamente não significa que o sistema de partido único seja substituído na China, mas haverá uma ampliação das eleições locais, com facilidades na participação de outros segmentos nas decisões políticas e econômicas do país, inclusive formulações de críticas ao governo.
Wen Jiabao falou pausadamente de forma deliberada, admitindo total confiança na nova geração de líderes, que têm muitas tarefas pela frente. No restante do seu mandato, ele assegura um crescimento econômico firme ajustado para 7,5% como meta, diante dos ajustamentos estruturais a serem promovidos (ele se refere à ampliação do mercado interno, pelas dificuldades de exportação para o resto do mundo).
Ele explicou que, com os problemas advindos do exterior, pressões estão ocorrendo na economia chinesa. Ele explicitou que uma cooperação com os Estados Unidos é sempre melhor que a confrontação, mas existem dificuldades e fricções com o superávit comercial, informando que o renminbi foi valorizado em 30% desde 2005. Que a China está se preparando para importar mais dos Estados Unidos, sendo preciso que se abram mais as exportações americanas para as tecnologias avançadas (ele deve estar se referindo a alguns itens de alta tecnologia, inclusive de segurança) e que se facilitem os investimentos nos dois sentidos (a experiência internacional tem mostrado que os fluxos comerciais acompanham os aumentos de investimentos diretos).
Ele expressou também a continuidade do controle político do Tibet, bem como os problemas com os grupos étnicos nas províncias de Qinghai, Sichuan, Gansu e Yunnan, que considera partes inseparáveis da China. Mas mostrou-se sensibilizado com as manifestações efetuadas, como a imolação dos jovens monges, ainda que entenda que são radicalismos desnecessários.
A nota da Kyodo refere-se às intrigas que ocorreram com Bo Xilai e outros seus antigos subordinados em Chongqing, com os analistas supondo que ele não terá as suas pretensões atendidas de ser um dos membros da cúpula partidária. Seria uma demonstração que sentimentos conservadores não conduzem às reformas indispensáveis em diversas frentes, indicando que existem diferenças internas entre os líderes.
Muitas outras questões foram formuladas por jornalistas chineses e estrangeiros, como as sobre Hong Kong, Taiwan, eleições, oposições e críticas ao governo, bem como outros assuntos em que o entrevistado esteve envolvido. Muitas destas questões foram divulgadas na sua íntegra, mostrando que Wen Jiabao desejou mostrar a sua faceta democrática, demonstrando a sua desenvoltura com estas questões.
Mesmo que ele tenha procurado vender a sua imagem desta forma, parece necessário reconhecer que a tendência chinesa é aumentar este tipo de comportamento, ficando com o seu retrocesso político mais difícil. Ele explicitou suas opiniões, na tentativa de comprometer os futuros líderes com as mudanças indispensáveis.