Lições aos Brasileiros que vem da Índia
14 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo de Sergio Lanucci, crescimento mais acentuado, grupo do BRICS, Planos Quinquenais, problemas similares, Valor Econômico
Muitos analistas brasileiros entendem que a Índia apresenta mais problemas que o Brasil, mas a performance daquele país vem sendo superior à brasileira. Cresce a uma taxa média anual de 6,6% nos últimos 15 anos. Sergio Lanucci visitou aquele país a convite do governo indiano, e publicou uma matéria importante no Valor Econômico que pode dar indicações preciosas para os brasileiros. De início, eles estão no 12º Plano Quinquenal para o período 2012 a 2017, e contam com uma população de 1,2 bilhão de habitantes, cresceram 8,4% no seu PIB em 2010/2011 e estimam ficar em 7% em 2011/2012, bem acima do crescimento brasileiro. E possuem uma política democrática consolidada.
Segundo o conselheiro econômico do Ministério das Finanças da Índia, Kaushik Basu, é preciso que sua economia cresça pelo menos 12%, o que é uma meta muito ambiciosa. A indústria deverá crescer 12 a 14% ao ano, pois até agora veio expandindo o seu setor de serviço, mas necessita criar mais empregos. Três são, segundo os especialistas indianos, os gargalos daquela economia: os problemas de infraestrutura, as mudanças na legislação trabalhista e a melhoria do ambiente de negócios, que pouco difere dos problemas brasileiros de longo prazo.
Montek Singh Ahluwalia
O principal assessor do primeiro-ministro Mannohan Singh é Montek Singh Ahluwalia, que considera que a infraestrutrura é o maior obstáculo, mais importante do que os dois demais problemas. Ele dirige a Comissão de Planejamento da Índia, encarregada de elaborar os Planos Quinquenais, afirmando que precisam ter uma visão de 15 anos para o futuro.
Ele informou que considera o desenvolvimento dos serviços na Índia satisfatório, mas agora precisa de condições melhores de infraestrutura, pois conta com uma educação razoável, uma poupança e taxa de investimentos razoáveis, um setor privado empreendedor, e o crescimento da infraestrutura que veio ocorrendo a uma taxa de 6% ao ano precisando passar para 9%, dando suporte para as demais atividades.
Deve-se lembrar que a índia celebrou com o Japão um grande acordo para o desenvolvimento de um grande corredor que vai de Delhi a Mombai, não só como um corredor, mas contando com toda a infraestrutura para a abordagem sistêmica, com todos os grandes grupos japoneses envolvidos, e financiamento assegurado pelos seus bancos oficiais como o JBIC – Japan Bank for International Cooperation.
Muitos especialistas indianos foram ouvidos pelo repórter do Valor Econômico, cada um deles levantando aspectos ligeiramente diferenciados, mas que no seu conjunto tratam de problemas de maior ou menor prioridade. No fundo, a Índia veio dependendo das iniciativas do governo, mas agora precisa contar com a atividade privada mais dinâmica, principalmente no setor da indústria.
Comparando com o Brasil, que tem um nível de renda per capita, nota-se que as diferenças regionais na Índia são ainda mais acentuadas, mas sua visão de longo prazo é mais acurada, com a preparação adequada dos planos e projetos, que devem proporcionar maior eficiência na sua execução.
Contando com uma forte elite acadêmica com doutorados em universidades do Reino Unido, mesmo com todas as suas dificuldades, parece ter um razoável consenso de suas necessidades nacionais, perseguindo-os como já vêm fazendo há décadas, ajustando-se às mudanças que vão ocorrendo pelo mundo globalizado.
Não costumam ser arrogantes, mas é preciso lembrar que a indiana AcellorMittal é a maior empresa siderúrgica no mundo, e privada, comandando no Brasil a Siderúrgica de Tubarão.