Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Mudanças Profundas Ocorrem na China

6 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: a emblemática figura de Bo Xilai de Chonqing, artigo do Financial Times republicado no Valor Econômico, problemas econômicos e demográficos, violentas disputas políticas

Procuramos acompanhar neste site o que vem acontecendo nos bastidores da política chinesa, como quando postamos em 28 de fevereiro último o artigo A Política Chinesa Segundo Especialistas, com base no artigo de Elizabeth C.Economy divulgado pelo Council on Foreign Relations. Hoje, o Valor Econômico reproduz numa página toda artigos provenientes do Financial Times com revelações aterradoras contra Bo Xilai, o poderoso secretário do Partido Comunista em Chonqing, que representa a ala mais retrógada na China, e candidato a um dos cargos do Politburo neste ano, e tudo indica, ele não conseguirá o seu intento.

O Financial Times, com sua alta e longa credibilidade, procurou documentar-se o melhor possível para noticiar os terrores que foram cometidos em Chonqing, pelo chefe da polícia de Bo Xilai, Wang Lijun. Este já caiu em desgraça e se dispõe a revelar toda a trama contra os empresários daquela região, promovida pelo Bo Xilai, acusando-os de pertenceram a uma máfia. Li Jun, um ex-empresário que relata as barbaridades sofridas pessoalmente e pelas perseguições aos seus familiares, é a fonte principal das informações e ele está refugiado em lugar incerto e não sabido, como um pobre refugiado político, quando era antes um poderoso empresário em Chonqing. Outros expurgos desta natureza já foram efetuados na China.

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Bo Xilai e a atual reunião do Congresso Nacional do Povo na China

“Cante vermelho e esmague preto”, segundo o artigo, era o lema em Chonqing, pois de um lado exaltava-se a volta ao estilo da época da Revolução Cultural, numa atitude populista para atender as aspirações de muitos que se encontram em dificuldades na atual China, pelas mais variadas razões. E, para contar com recursos para tanto, se esmagavam os empresários que conseguiram recursos naquela província depois da ampliação do uso do mercado com a política de Deng Xiaping.

Os depoimentos de Li Jun estão documentados, como a prisão de dezenas de empresários, bem como artigos elaborados pelas mais variadas fontes, chinesas e do exterior. A primeira baixa no esquema policial ocorreu com o ex-vice-chefe da polícia Wang Yang, que foi executado em 2010. Depois, Wang Lijun, o ex-chefe de polícia, foi considerado como “o cachorro que não é mais necessário para caçar coelhos e vai para a panela”. Ele se dispõe a delatar Bo Xilai. Isto também parece fazer parte da disputa pela renovação política que está ocorrendo naquele país.

O pano de fundo é traçado pela inevitável mudança da estrutura demográfica, e num outro artigo, Rahul Jacob escreve no mesmo Financial Times que Li Xinghao de Guangdong está propondo a mudança da política de um só filho por casal, pois na realidade, principalmente no meio rural camufla-se que muitos tiveram gêmeos, ainda que suas idades sejam diferentes. Muitos outros artifícios são adotados para burlar a orientação.

A estrutura demográfica chinesa está deixando muitos idosos que precisam ser sustentados pelos que estão em idade de trabalho. Na atual evolução demográfica, a China, depois de ultrapassar os Estados Unidos em economia, pode vir a ser superada pela Índia. Uma flexibilização desta política atual pode ser mais realista, evitando as muitas distorções que estão se observando.

Finalmente, na atual Sessão da Assembleia Nacional do Povo, o governo atual vem revisando as estimativas de crescimento do nível de 8% para 7,5% ao ano, a inflação para 4%, o crescimento de 16% dos investimentos em ativos fixos, o crescimento de 14% nas vendas ao varejo, procurando atrair US$ 120 bilhões em investimentos diretos do exterior, como resumido pelo CEBC – Conselho Empresarial Brasil-China. Eles estão mostrando que estão conscientes dos problemas mundiais e das necessidades de reformas econômicas na China, que passa a depender mais do seu mercado interno.

Todos estes problemas acabam sendo divulgados ainda que muitos entendam que existe um regime de força de um só partido na China, pois se torna impossível controlar um bilhão e meio de habitantes que possuem relacionamentos amplos com os chineses e outros especialistas naquele país por todo o mundo.

Sempre existem formas para se burlar os controles, principalmente quando se dispõe de meios eletrônicos. É possível, para os que desejam conhecer as diversas tendências existentes dentro de um país tão amplo e diversificado, mesmo que hajam analistas que ficam espantados com a adesão de muitos grandes empresários com ativas participações nas órgãos partidários e suas decisões.