Reunião do BRICS na Imprensa
29 de março de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: cobertura da China Daily, Financial Times, pouco destaque na imprensa brasileira
Há um reconhecimento geral de que o BRICS é só um grupamento de países que foram reconhecidos como emergentes, de grandes dimensões geográficas. Eles têm poucos interesses em comum, sendo difícil operacionalizar uma ação coletiva destes cinco países, o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul. A sua última reunião de cúpula realizada em Nova Delhi mereceu pouca cobertura da imprensa brasileira, que acabou se concentrando mais no discurso que a presidente Dilma Rousseff fez quando recebeu da Universidade de Delhi o título de doutora honorária, quando insistiu contra o tsunami monetário como já vem fazendo há algum tempo. E os contatos bilaterais do Brasil com a Índia, cujas dimensões não justificam os atuais volumes de transações comerciais e investimentos diretos recíprocos ainda muito baixos.
O China Daily destacou, naturalmente, os discursos de Hu Jintao que pediam uma maior confiança política entre os países membros apelando por compromissos com desenvolvimentos comuns e promoção da prosperidade dos países membros, intensificando suas cooperações. Não se conseguiu um consenso sobre a ideia de um banco de desenvolvimento cogitado para tanto, onde a China e Índia contam com maiores interesses, concordando-se que este assunto seria estudado mais profundamente.
Dilma Rousseff recebeu o titulo de honoris causa e com os quatro presidentes dos países do Brics
O Financial Times, de um país que pode ser considerado neutro, , acabou expressando que os BRICS perderam a oportunidade de apoiar a candidatura da nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala para competir com o candidato dos Estados Unidos, o Jim Yong Kim, nascido coreano, pela Presidência do Banco Mundial. Considera-a mais experiente internacionalmente em assuntos relacionados com o Banco Mundial do que o Jim Yong Kim que tem uma experiência maior em saúde pública, com conhecimentos de alguns países em desenvolvimento. Ainda que isto seja uma realidade, ela seria uma posição pouco realística diante da tradição, e dos votos norte-americanos, europeus e aos quais poderiam se juntar outros como do Japão e os que perfilam com os interesses dos Estados Unidos.
Mesmo entre os componentes do BRICS, existe um receio da maior influência da China que, contando com uma população estimada em cerca de um bilhão e trezentos milhões de habitantes, continua crescendo rapidamente, apesar de uma desaceleração recente que preocupa o resto do mundo.
A maioria dos países do mundo globalizado continua dependendo de uma vigorosa demanda chinesa para manter as suas exportações. Também do ponto de vista financeiro, os recursos que a China vem aplicando no exterior ajudam nos projetos de desenvolvimento ou nas crises financeiras como os que atingem países europeus.
Mesmo considerando que a reunião não tenha apresentado avanços substantivos, é possível reconhecer que até os Estados Unidos escolheram Jim Yong Kim como um nome que pode atender parte das reivindicações de países que aspiram por melhor distribuição dos cargos nas entidades multinacionais. Tanto pelo seu país de nascimento como pela sua experiência, mesmo que suas qualificações não sejam consideradas as mais desejáveis para a posição que está disputando, numa instituição que não tem mais o poder que tinha no passado.