Agiotas Chineses Condenados à Morte
12 de abril de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: agiotagem na China, cifras astronômicas, muitos condenados à morte por operações ilegais, necessidade de torná-las oficiais
Todos os números que envolvem a China são astronômicos, e a Bloomberg publica um artigo de Jun Luo, de Xangai, e Yidi Zhao, de Beijing, com a editoria de Peter Hirschberg, citando cifras inacreditáveis de operações dos agiotas, pois suas ações não estão regulamentadas. Ren Xianfang, economista da IHS Global Insight, de Beijing, estima que os chamados “Shadow Banks” estariam com empréstimos e investimentos da ordem de US$ 1,3 trilhão, que corresponde ao déficit do governo dos Estados Unidos em 2011. Ou, segundo Yao Wei, economista do Societé Generale, somando-se as “trust companies” ligadas aos bancos, o total chegaria a US$ 2,4 trilhões, quase o endividamento das famílias norte-americanas.
Este assunto vem sendo discutido na imprensa e pelas autoridades chinesas, pois existem muitos condenados à morte pelas práticas ilegais, tendo o primeiro-ministro Wen Jiabao comentando o tema numa entrevista à imprensa em 14 de março último. Segundo ele, as empresas chinesas, especialmente as pequenas, necessitam destes fundos, e é preciso efetuar os financiamentos privados de forma regulamentada. Segundo a Bloomberg, o caso que se tornou mais conhecido foi a condenação à morte de Wu Ying, de 28 anos, conhecida como a “Rich Sister”, que foi considerada culpada por tomar dos investidores US$ 55,7 milhões sem pagar de volta. Ela não é a primeira, não se sabendo ao certo quantos estão condenados, o que vem sendo veiculado pela Xinhua News Agency e pelo People’s Daily, que são oficiais do governo chinês. Também nos altos organismos do Partido Comunista da China, estes assuntos estão sendo discutidos, com alguns entendendo que a condenação à morte não é a sua solução.
Os bancos oficiais chineses estão com suas operações concentradas nas grandes empresas. As pessoas comuns, como poupadores, não possuem muitas opções, principalmente se desejam que seus ativos rendam mais que a inflação atual que foi de 5,4% em 2011. As poupanças oficiais só proporcionam 3,5%, o que os levam a aplicar com estes agiotas, apesar de muitos saberem dos riscos que estão correndo. E muitas falências estão ocorrendo com os juros destes agiotas por toda a China.
Estes agiotas são condenados à morte quando cometem algumas fraudes, mas, no caso da Wu Ying, a defesa alega que todos sabiam os riscos que estavam correndo, mesmo que ela chegasse a pagar 0,5% ao dia, tendo enriquecido rapidamente. Ela, uma filha de agricultores, começou como simples funcionária de um salão de beleza. Existem muitas outras pessoas que atuam como ela e até a Anistia Internacional está tentando evitar a sua execução.
O governo chinês está tentando um programa-piloto na cidade de Wenzhou, aprovado pelo Conselho de Estado, uma espécie de “credit unions”. Está em discussão uma tentativa de reforma do setor financeiro, aumentando a concorrência interna até com bancos internacionais, indicando que a China se encontra num ponto de inflexão. Até porque os quatro grandes bancos oficiais são acusados de contar com muitos ativos não recebíveis, não havendo nenhuma transparência nas suas operações.
Apesar do crescimento econômico exuberante que veio se registrando na China, o problema do sistema bancário figura entre os mais complexos. Pode ser que os problemas que estão sendo apresentados sejam somente a ponta de um enorme iceberg.