Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Esplendor nas Relvas, Glória das Flores

9 de abril de 2012
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos, webtown | Tags: auge do hanami em Tóquio, cerejeiras do Tidal Basin-Washington-DC, peônias de Luoyang-China, primavera no hemisfério norte

“… sentir a alegria de Maio,… do esplendor na relva, da glória na flor…” (Intimations of Immortality, William Wordsworth, 1770-1850).

Há exatamente um ano, quando a presidente Dilma Rousseff chegava a Beijing em sua primeira viagem ao exterior depois de eleita, a China era uma explosão de primavera com mil festivais de flores acontecendo pelo país. Começando esta semana, Xangai promove o seu Festival da Cerejeira atraindo milhares de pessoas para o hanami pelas ruas e parques da cidade, enquanto em Luoyang, província de Henan, o tradicional Festival da Peônia deverá seguir maio adentro.

Se flor da cerejeira cativa chineses, peônia é a flor mítica que simboliza o país, apreciada nos jardins e parques, cultuada na fitoterapia, nas artes e na literatura. Luoyang, às margens do Rio Amarelo, requintada capital nos tempos da dinastia Song (960-1279), é reputada pela quantidade e beleza de suas peônias, das mais diversas variedades. Entre abril e maio, a cidade vive e respira o perfume e o colorido das peônias que vai do branco e rosa ao amarelo e vermelho vivo.

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Peônias de Luoyang; cerejeiras em frente a Tokyo Sky Tree; Flores de cerejeira em Tidal Basin – Washington DC; Michelle Obama planta árvore de cerejeira. Para ver a matéria da NHK sobre cerejeiras, é só clicar neste endereço: Friendship Blossoms

No Japão, a Agência de Meteorologia anuncia que a florada de cerejeiras atingiu o mankai (plena floração) na região de Tóquio. À medida que o sakura-zensen (avanço da florada de cerejeira) caminha do sul (Okinawa) para o norte, o primeiro espécime a começar a florir é o amado somei-yoshino. O inverno mais rigoroso deste ano em todo o Hemisfério Norte provocou atraso de quase cinco dias na floração. Quanto mais rigoroso o inverno, maior é o entusiasmo com que saúdam a esperada primavera anunciada pela eclosão do sakura – que não só é o símbolo do país, mas a própria alma do Japão.

“É um longo caso de amor nacional”, considera Linda Inoki (The Japan Times-25/março/2012, “Tracing the sakura trees in a long national love affair”). Em belíssimo texto, a jornalista traça a história da cerejeira através dos tempos no Japão, relata como variedades foram se misturando, cultivadas e cultuadas por imperadores e senhores de guerra nas cortes de Nara, Quioto, Edo (Tóquio), e como elas foram sendo plantadas nos parques e jardins por ordem de florescência. Em fins do século XIX, quando o Japão se abriu para o Ocidente, não só tecidos ou porcelana atraíram europeus. Plantas exóticas – azaleias, íris, lírios, e também cerejeiras, foram levadas para a Europa. Ao fim da Era Meiji (1868-1912), vívidas florações rosa de sakura da variedade kanzan alegravam muitas ruas de metrópoles europeias.

O famoso presente de mudas de cerejeiras oferecido pelo Japão à capital norte-americana em 1912, para estreitar laços de amizade e comércio, incluíam 1.800 mudas da variedade somei-yoshino e outras como kanzan, ichi-yo, fugen-zo, shira-yuki – totalizando 3.020 mudas. No dia 27 de março de 1912, a então primeira-dama Helen Taft e a viscondessa Iwa Chinda, esposa do embaixador do Japão nos EUA, plantaram as duas primeiras mudas na margem norte do Tidal Basin, no parque que circunda o Rio Potomac, em Washington-DC. Ao longo dos anos, mais cerejeiras japonesas foram sendo plantadas às margens do rio, proporcionando vista espetacular da florada nesta época do ano.

Desde 1935, o Festival Nacional da Cerejeira em Washington é evento a cada ano mais grandioso, e se estende por duas semanas – este ano, excepcionalmente por cinco semanas, com megafestas. Por terem as mudas de s.yoshino provindo de cerejeiras ao longo do Rio Arakawa, em Tóquio, os rios Potomac e Arakawa se tornaram “rios irmãos”, em 1996. No dia 27 de março último, na comemoração do centenário das cerejeiras de Washington, foi a vez de a primeira-dama Michelle Obama plantar a sua árvore, auxiliada por crianças locais, na presença de ilustres convidados. Ela acrescentou que, nessa data histórica, o povo americano continuava admirando as cerejeiras não apenas pela sua beleza, mas também pela sua tenaz resiliência.

A presidente Dilma Rousseff chegou a Washington-DC nesta semana para o seu terceiro encontro com o presidente Barack Obama. Em boa hora, esplendor da primavera e de cerejeiras acompanha o fluir das positivas quanto complexas negociações bilaterais.