Visita da Hillary Clinton ao Brasil
17 de abril de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: interesses comerciais dos Estados Unidos, pré-sal, pronunciamentos simpáticos
Existe um dito político que diz: quando não pode oferecer muito, ofereça simpatia. Apesar dos Estados Unidos e o Brasil terem amplos campos para o intercâmbio político e econômico, o fato concreto é que nem sempre os interesses bilaterais coincidem totalmente, havendo muitos aspectos que são sensíveis aos eleitores norte-americanos, mas não são atendidos pelo Brasil, que prefere uma posição mais independente. Logo depois da visita da presidente Dilma Rousseff a Barack Obama, a Secretária de Estado Hillary Clinton visita o Brasil, o que é considerado alvissareiro por muitos analistas.
Entre outros aspectos que o Brasil gostaria de contar é com um explícito apoio à pretensão brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança nas Nações Unidas. O máximo que ela afirmou foi que não via aquele Conselho, no futuro, sem a participação brasileira. Os Estados Unidos oferecem aumentar as bolsas para estudantes brasileiros como eliminar os problemas de vistos dos turistas. Afirma desejar colaborar na exploração do pré-sal, pois conta com ampla experiência na exploração offshore. Está propondo um acordo de livre comércio, como o que já mantém com diversos países, depois dos fracassos dos entendimentos multilaterais como o da Rodada Doha. Todos estes assuntos implicam em discussões demoradas, e visam ativar a economia daquele país.
Hillary Clinton durante seminário na Confederação Nacional da Indústria. Foto: Antônio Cruz / ABr
O fato concreto é que os Estados Unidos acostumaram a tratar a América Latina como seu quintal, o que se tornou mais difícil nos últimos anos. A importância daquele país diminuiu no mundo, que ficou mais multipolarizado. E o Brasil é um líder regional com uma economia emergente, cuja dimensão do mercado deveria contar com um intercâmbio mais volumoso com o ainda líder mundial, tanto do ponto de vista político como econômico.
Mas o Brasil sempre teve um relacionamento diversificado com todo o mundo, e seus interesses estão mais voltados para a Europa e agora com os países emergentes como a China e a Índia, principalmente. Não perfila automaticamente com os Estados Unidos como fazem países como o Japão que dependem dos acordos militares para a sua segurança internacional.
A política externa brasileira é claramente no sentido de entendimentos diplomáticos com países que não adotam os valores prevalecentes no Ocidente. Mesmo que não concordando com algumas colocações, não tem posições dogmáticas que levam a alguns isolamentos. Isso não agrada os setores radicais que são importantes nos Estados Unidos.
Ainda assim, os norte-americanos admitem que o Brasil conquistou avanços políticos e econômicos internos, com a incorporação de vastos segmentos de sua população mais desfavorecidas ao mercado. Conseguiu uma significativa melhoria na sua distribuição de renda, ampliando o seu mercado interno.
Foi beneficiado nas últimas décadas pelas demandas de suas matérias-primas minerais e agropecuárias, principalmente nos seus preços, conseguindo estabilizar a sua economia. Mas quando a economia mundial, prejudicada pelos interesses do setor financeiro, entra numa fase de crescimento mais modesto, enfrenta dificuldades para o aumento de sua eficiência, necessitando de reformas substanciais.
A complexa sociedade norte-americana ainda conta com segmentos conservadores que imaginam poder impor ao resto do mundo os seus valores, mesmo com as suas limitações atuais de recursos. Ainda não perderam o ranço de árbitros do mundo, quando necessitam conviver até mesmo com os que pensam de formas diversas.
Parece que para muitos é difícil admitir que outros países também cresceram e precisam contar com parceiros, mesmo que não concordem com todos os aspectos de suas opções.
Mas as repetições dos contatos vão servindo para aparar as arestas restantes, mostrando que existem significativas potencialidades no intercâmbio bilateral.