As Limitações dos Dados Estatísticos
24 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: as dúvidas sobre os dados chineses, as limitações dos dados estatísticos, estatísticas brasileiras
Sempre houve dúvidas sobre alguns dados estatísticos chineses, ora subestimados ora superestimados. Os próprios acadêmicos chineses não confiavam muito na sua validade e agora até as autoridades chinesas afirmam que elas são “elaboradas por homens”. Como dentro da “meritocracia” daquele país, alguns resultados obtidos podem estar inflados para beneficiar a ascensão de alguns líderes. De outro lado, os japoneses sempre acreditaram que os dados populacionais chineses estavam subestimados, pois no meio rural o número de filhos considerados gêmeos e trigêmeos eram bem acima do normal internacional, com idades físicas diferentes, como consequência da política oficial de filhos únicos, mais efetivas nos centros urbanos, com a existência das chamadas “inspetoras de quarteirão”.
Estas deficiências dos dados estatísticos não ocorrem somente naquele país. Nas pesquisas estatísticas efetuadas no Brasil, como na maioria dos países em desenvolvimento ou emergentes, acredita-se na hipótese que nos grandes números os erros se compensam, quando podem apresentar vieses tendenciosos. Muitas das informações estatísticas começam pelas fornecidas pelas empresas, havendo uma forte tendência à sonegação, ainda que algumas correções sejam efetuadas. As unidades municipais de estatísticas são consideradas encargos para os municípios, salvo no que se refere aos dados demográficos que servem para efeito das cotas de participações nos tributos estaduais e federais. O mesmo acontece na agregação por Estados e acabam chegando às nacionais, cujos censos não são tão precisos como desejados.
Alguns auxiliares de pesquisas, no passado, foram encarregados por instituições a examinarem as metodologias adotadas para a coleta de dados estatísticos, desde suas bases nos estabelecimentos existentes num município. Como havia nas empresas o temor de que fossem comparados com os dados fiscais, havia uma tendência para fornecer o que estava somente na contabilidade, que sempre excluía o que pudesse evitar uma tributação mais pesada.
Muitos municípios contavam somente com um funcionário pouco qualificado para cuidado dos dados estatísticos, desde os demográficos, industriais, comerciais, agrícolas, de educação, de saúde etc.. Algumas estatísticas sobre a evolução da produção agrícola eram meros palpites, como de um crescimento no ano de 5 ou 10% mais que do ano anterior, pela observação do que ocorreu com as chuvas.
Na produção animal, que inclui os abates e os crescimentos dos rebanhos, havia casos onde as sonegações dos frigoríficos eram elevadas, e certificadas por um veterinário do Ministério da Agricultura responsável pela qualidade fitossanitária do gado abatido, que contava com toda a assistência para morar nas dependências do frigorífico que lhe proporcionava todo o conforto indispensável.
Estes dados municipais eram agregados nos Estados, alguns bem aparelhados, mas, como regra, muitos mal dotados de profissionais com o mínimo de conhecimento das metodologias de coleta dos dados estatísticos. Quando os dados eram agregados ao nível nacional, houve períodos que o rebanho bovino, por exemplo, crescia a uma taxa fixa de 5% ao longo de décadas, pois os censos agrícolas não eram efetuados com rigor, e nem com a periodicidade prevista legalmente.
Muitos dos dados estatísticos relacionados com os serviços são meras estimativas elaboradas com base na população, não se considerando as melhorias de eficiência que possam ocorrer, por exemplo, com o uso generalizado da informática.
Por melhores que sejam as intenções de contar com os melhores dados estatísticos, num território amplo como o brasileiro, com as correções que possam ser feitas, há que se admitir que não se pode jurar sobre a sua exatidão. Os analistas mais conscientes, como as autoridades chinesas, costumam usar “proxies” baseados na convicção que existem algumas fortes correlações, como o da produção industrial com o consumo de energia elétrica, que podem ser obtidos com maior facilidade e rapidez.
Ainda que muitos aperfeiçoamentos nas metodologias estatísticas venham sendo introduzidas, dentro dos padrões estabelecidos pelas Nações Unidas, sempre é recomendável que estes dados sejam utilizados com cautela. Principalmente quando utilizados em sofisticados modelos econométricos, cujas hipóteses utilizadas nem sempre são muito claras, para se estimar o “produto potencial” que muitos analistas acreditam que existem com parâmetros razoavelmente fixos.
O que se pode recomendar é que os dados estatísticos sejam utilizados com as devidas reservas. Os profissionais de estatísticas dispõem, hoje, de dados da população para elaborarem convenientes amostragens que produzem os resultados que forem encomendados. Mas é preciso trabalho com o que está disponível.