Dificuldades na Compreensão dos Problemas Cambiais
29 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a difícil arte da política econômica, notícia no Nikkei, uso de dados isolados e de curto prazo
Mesmo os jornais especializados em economia e finanças como o japonês Nikkei apresentam algumas notícias com uma interpretação limitada. Um artigo proveniente de Nova Iorque informa que o real brasileiro foi dos mais afetados entre algumas moedas com os problemas enfrentados pelos países europeus. Apresenta um gráfico onde, do dia 1º de março até 28 de maio, o real teria desvalorizado em 13,7% diante da fuga de recursos do Brasil para o segurança do dólar norte-americano. Ao mesmo tempo, relaciona-se com o que estaria ocorrendo com a rupia indiana, o rand sul-africano e o dólar australiano.
O próprio artigo menciona que a política monetária adotada pelos Estados Unidos e outros países como o Japão aumentaram o fluxo de recursos financeiros para as economias emergentes como o Brasil, provocando o tsunami que vem sendo denunciado pela presidente Dilma Rousseff.
Uma parte destes recursos que provocou uma valorização exagerada do real acabou sendo corrigida pela redução dos juros provocada pelas autoridades monetárias brasileiras. A desvalorização do real era desejada e necessária para manter uma parte da competitividade das exportações brasileiras, encarecer algumas importações e reduzir os gastos dos turistas brasileiros no exterior.
Se ocorreu tal desvalorização do real deveu-se, em parte, as decisões das autoridades brasileiras. Mas como apontado pelo artigo, isto pode gerar uma pressão inflacionária quando incide sobre matérias-primas e outros produtos importados. Como o mundo encontra-se num quadro recessivo, isto está sendo compensado pela queda de preços que ocorrem em todo o mundo, notadamente nas commodities que vem sendo exportadas pelo Brasil, como no caso dos minérios e muitos produtos agropecuários. Até o petróleo e o gás estão se comportando, não contando com valorizações exageradas.
As autoridades brasileiras estão gerenciando para que o câmbio se mantenha em torno de R$ 2,00 por dólar norte-americano, de forma que não fique tão valorizado como o câmbio de R$ 1,70, mas também não tão desvalorizado como R$ 2,30.
O mesmo deve estar ocorrendo com outras moedas mencionadas no artigo. Uma forma de manter a possibilidade de exportação da Índia, África do Sul ou Austrália, no atual quadro adverso da economia mundial, notadamente da Europa, é efetuando esta desvalorização. Como existe um quadro recessivo mundial, não se espera pressões inflacionárias expressivas.
Tudo isto mostra que há necessidade de cuidados mais profundos nas análises destes dados, evitando-se colocações superficiais como os que foram feitos no artigo mencionado.