Efeitos Diretos da Redução da Selic
8 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo do Valor Econômico, direto sobre parte da dívida pública, efeitos da redução da Selic
Ainda que sejam evidentes os méritos da redução dos juros, muitos analistas que são críticos às atuais autoridades monetárias tendem a minimizar os seus impactos. Um artigo publicado no Valor Econômico pelos jornalistas Chico Santos, Edna Simão e Ribamar Oliveira informa que o gasto com juros pode cair para 4,6% do PIB, bem abaixo do que veio se registrando nos últimos anos. Todos sabem que cerca de um terço da dívida pública brasileira está com os seus juros estabelecidos pela Selic, que está sendo estimada pelo mercado para chegar a 8,5%, no relatório conhecido como Focus.
Estima-se que, neste ano de 2012, o pagamento de juros deve representar 4,6% do PIB, quando no ano passado estava em 5,7%. Em valores correntes, isto significaria uma redução de cerca de R$ 43 bilhões diretamente, mas deve-se reconhecer que a Selic é uma taxa básica estabelecida pelo Copom do Banco Central do Brasil, influenciando outras taxas de juros. O governo Dilma Rousseff vem se empenhando na redução do spread bancário, ou seja, a diferença entre o custo de captação e aplicação dos recursos, o que deve beneficiar as empresas e os consumidores.
Os analistas mais isentos destacam também outros benefícios com a redução da taxa Selic. No mercado, ainda que muitas dívidas tenham outras taxas, há uma tendência para que haja reduções paralelas. Carlos Tadeu, hoje na Confederação Nacional do Comércio, que já foi diretor do Banco Central, aponta que haveria uma redução do custo da dívida pública pós-fixada das Letras Financeiras do Tesouro, bem como das dívidas em dólares.
As autoridades monetárias precisam ser pragmáticas, baixando os juros quando possível. Na atual conjuntura, com o desaquecimento da economia em todo o mundo, os preços de muitas commodities estão em baixa, pressionando menos a inflação, como no caso dos minérios e muitos produtos agropecuários.
Como o Brasil não está separado do resto do mundo, os desempregos como os que estão ocorrendo na Europa fazem com que as pretensões de aumentos salariais acabem sendo mais moderadas. Com as inflações mais controladas, as margens para reduções adicionais da taxa Selic, como de outros juros, acabam sendo ampliadas.
Mesmo havendo resistências dos bancos privados, é de se acreditar que as autoridades acabem concedendo condições para a ampliação dos créditos, reduzindo o atual nível da inadimplência reclamada pelo sistema bancário. É preciso entender, também, que estas inadimplências justificam reservas mais elevadas que são consideradas despesas nos balanços, mas na medida em que são obtidos composições e recebimentos dos débitos, elas acabam resultando em receitas adicionais para os bancos.
Apesar de a economia ser considerada algo simples, existe complexas interrelações de muitas variáveis, e a prática da política econômica acaba sendo uma arte. Faz-se o que pode, e muitas vezes a indução do governo acaba sendo importante, pois parte do comportamento dos agentes econômicos são movidos pelas suas expectativas, que acabam interagindo com outros fatores.
O que pode se constatar é que as autoridades vêm acertando mais que os analistas do setor privado, muitos ligados aos interesses do sistema bancário. Mas faça-se justiça, pois muitos dirigentes de bancos também preferem uma economia em desenvolvimento, que podem proporcionar resultados de prazos mais longos.