Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Papel da China Como Líder Mundial

22 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo de Robert Skidelsky no Project Syndicate, discussão sobre a liderança chinesa, posições acadêmicas variadas

A China vem registrando um crescimento econômico e político respeitável no cenário internacional, e são muitas as discussões sobre o que acontecerá no futuro se ela vier a superar os Estados Unidos. Robert Skidelsky, professor emérito de Política Econômica da Warwick University e biógrafo de John Maynard Keynes entre outros, elaborou um artigo que está sendo distribuído pela credenciada Project Syndicate, com o título “Why China Won’t Rule”, informando sobre as restrições que existem no próprio país que nunca se dedicou à expansão de seu domínio político, mesmo pelos seus vizinhos.

O autor argumenta que parece inevitável que a China continuará crescendo mais que o resto do mundo, enquanto o mundo desenvolvido permanece atolado em recessão ou perto dela. Pode chegar à primeira do mundo em 2017, ao mesmo tempo em que seus gastos militares crescem mais rapidamente que o seu PIB. Segundo o autor, para a mente norte-americana só pode haver uma superpotência, e se a China conquistar esta posição será em detrimento dos Estados Unidos, e isto constitui um grande desafio.

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                                                 Robert Skidelsky

Skidelsky entende que a existência de uma só superpotência não é a situação normal na história. A Grã-Bretanha, por exemplo, sempre teve oposições de outros países europeus, apesar de ser uma potência mundial. E a China começa a ganhar alguns atributos desta situação, com senso de sua responsabilidade mundial.

Apesar da importância da China, ela conta com algumas fragilidades, segundo o autor. Ele cita o analista chinês Chi Lo (existem muitos com este nome, como o da Universidade de Hong Kong e de instituições financeiras), mostrando que, apesar do seu sucesso macro, continua com limitações microeconômicas. Tem uma distribuição de renda que não é a desejável, muitos empréstimos duvidosos, enquanto as poupanças elevadas das suas famílias alimentam uma bolha imobiliária. A crise atual reduziu o seu crescimento dependente das exportações.

As suas poupanças não podem ficar aplicadas somente nos títulos do tesouro americano, necessitando serem diversificadas. Para ser uma verdadeira potência mundial, necessita que sua moeda tenha aceitação internacional, o que ainda é limitado.

O autor destaca ainda que os atuais valores chineses, que vivem dos clássicos ícones do Partido Comunista que substituíram os marxistas, precisam ser desmantelados, como os ativos do poder público, controle da população, repressão econômica, que contam com a proteção de sua Constituição de 1978, tarefa que não é fácil.

No sistema político chinês, existem alguns importantes valores políticos. A primeira é a hierarquia e o caráter familiar, como os estabelecidos pelos ensinamentos de Confúcio. E o outro, segundo o autor, decorre do pensamento budista que não distingue diferenças entre seres humanos e outros viventes, como animais e plantas. Estes e outros valores históricos não são universais e europeus, dificultando a sua liderança global, ainda que bem aceitos na Ásia.

Restaria à China a possibilidade de adotar valores europeus com características chinesas, como vem ocorrendo na sua economia de mercado, ou na convivência com Hong Kong ou com Taiwan. Na realidade, admite-se um pragmatismo bastante grande dos chineses.

Apesar de a China utilizar o nome de País do Meio, o fato concreto é que sempre almejou somente o respeito dos demais países, sem ter a pretensão de dominação, ainda que seu poder econômico esteja se fortalecendo por todo o mundo, inclusive com seus imigrantes para muitos outros países.