Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Problema dos Juros no Brasil

31 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: discussões sobre os juros, entraves, os consultores econômicos, suplemento do Valor Econômico

Todos os economistas aprenderam que existem alguns preços que são fundamentais na economia, com os juros que representam a remuneração do capital e os salários que expressam as contrapartidas dos recursos humanos. Existem muitos mitos relacionados com os juros no Brasil, alimentados por verdadeiros lobistas travestidos em consultores econômicos informando que eles não podem ser equivalentes com os praticados no exterior, até por economias que apresentam semelhanças com as brasileiras. Um histórico de elevados processos inflacionários, a necessidade de poupanças externas para financiar os investimentos públicos e privados indispensáveis etc. estão entre os motivos mais alegados.

O fato concreto é que o setor financeiro da economia brasileira se acostumou a manter uma elevada rentabilidade até nos momentos mais recessivos da sua história, deixando de ser o braço auxiliar da produção como é a comercialização. Deveria ajudar a lubrificar o processo que atende aos produtores e aos consumidores com os seus relacionamentos, transferindo os recursos poupados por muitos para os que promovem os investimentos físicos, inclusive o setor público. O setor financeiro passou a gozar no Brasil de uma posição de comando, como pudesse liderar e controlar toda a economia. Infelizmente, as economias dependem no seu desenvolvimento de avanços tecnológicos que aumentam a sua eficiência, e estas estão relacionados com os setores mais pesados da economia voltados à produção.

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O fato concreto é que o governo e o Banco Central do Brasil vêm se empenhando na redução dos juros, fixando o chamado Selic, mas os praticados no mercado para os consumidores (cartão de crédito, saldos negativos nos cheques especiais, crediários), bem como às empresas (capital de giro, empréstimos para investimentos) continuam elevados, ainda que numa ligeira tendência de baixa. Os praticados no Brasil já deixaram de ser os mais elevados do mundo.

Muitos temem que estas baixas gerem pressões inflacionárias. No mundo globalizado, que passa por uma desaceleração do seu crescimento, os preços das principais matérias-primas, alimentos e energia estão em queda, não havendo a mínima razão para estas preocupações. A retomada do crescimento vai demorar um pouco.

Infelizmente, ainda existem no Brasil alguns mecanismos que os economistas chamam de indexação. Ou seja, muitos ajustes das tarifas dos serviços públicos que foram privatizados dependem em parte do que já aconteceu no passado, e a sua eliminação depende de mudanças dos entendimentos que foram contratados quando da privatização.

Algumas limitações foram corrigidas, como as remunerações das novas aplicações nas cadernetas de poupança, permitindo que os juros continuem em queda, não provocando a transferências de outras aplicações para esta modalidade de reserva popular.

O Brasil, como uma economia emergente que vem adotando uma política macroeconômica responsável, tem todas as condições para continuar atraindo investimentos diretos do exterior. Não necessita de muitos recursos de curto prazo, pois pode contar com os de prazos médios e longos, com juros modestos. Em muitas economias no exterior, os juros reais estão negativos, ou seja, abaixo da inflação.

O governo vem pressionando com as quedas dos juros e taxas de outros serviços financeiros utilizando instituições públicas. Também o setor privado, mesmo com alguma defasagem, tende a acompanhar estas tendências para se manter competitivo. Com tudo isto, o Brasil tem todas as condições para se tornar uma economia normal.