Problemas Sérios Tratados com Fino Humor Inglês
14 de maio de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: necessidades de mudanças dos idosos, problemas sérios forçam a reflexão, sucesso apesar da crítica
Existem diversos tipos de humor e os ingleses são dotados de uma capacidade cultural de enfrentar situações difíceis com o famoso “sense of humor” que difere dos norte-americanos (do tipo rico ri à toa). No filme “The Best Exotic Marigold Hotel for the Elderly and Beautiful”, que não agrada a muitos críticos pseudointelectuais que preferem os que conduzem à depressão, trata-se de sérios problemas do envelhecimento, da aposentadoria insuficiente para a continuidade da vida no padrão passado, complexas relações familiares, necessidade de mudanças e tudo que faz parte da vida real de muitos. É um problema universal, baseado na novela “These Foolish Things”, de Deborah Moggach.
Tem como diretor John Madden (entre outros, Shakespeare Apaixonado) e um elenco experiente do mais alto nível encabeçado pela excelente Judi Dench. O filme trata de um grupo heterogêneo de idosos ingleses que, iludidos por uma enganosa propaganda transmitida pela internet, aventuram-se a tentar sobreviver de forma econômica na exótica Jaipur, na Índia, com profundas mudanças nas suas vidas, cada um com seus diferentes problemas. Todos têm as naturais agruras de longos relacionamentos, principalmente com os familiares que vieram suportando, e aspiram mudanças, que nunca são fáceis.
Os percalços começam na viagem para o hotel, pois a conexão aérea para Jaipur foi cancelada e eles são obrigados a uma viagem usando um precário ônibus superlotado como costuma ser os da Índia, para usarem depois os “tuck tucks” que são motos que transportam poucos passageiros pelos caóticos trânsitos da Índia, sem o mínimo de segurança.
É uma pena que o cinema ainda não consega transmitir para os seus frequentadores os odores da Índia, que para ser elegante podem ser chamados de exóticos, mas extremamente estranhos para os estrangeiros. Um bebê identifica sua mãe pelo odor e acaba chorando quando ela usa um perfume pela primeira vez depois do parto, e isto faz parte do instinto humano.
O diretor pediu que as imagens do filme fossem colhidas na vida real de Jaipur que dá aos que o estão assistindo toda a sensação da confusão que é a Índia, com novas construções no meio de ruas estreitas. Repletas de barracas vendendo de tudo, ocupadas por multidões que lembram a Rua 25 de março de São Paulo nos dias mais frequentados. Alguns membros do grupo mal leram as informações turísticas de uma publicação sobre o local, e somente um deles já viveu na juventude na Índia.
Quando o grupo chega ao hotel, constata que se trata de uma ruína que estão tentando transformar num estabelecimento que tenha capacidade para receber hóspedes estrangeiros de forma permanente. O projeto é liderado por um jovem indiano, sem a aprovação de sua mãe que ainda detém o poder familiar. Não tem ainda a mínimas comodidades prometidas pelo site na internet, mas o grupo não conta com condições para tentar algo melhor ou retornar à Inglaterra.
Os membros do grupo procuram se adaptar às fortes diferenças culturais, que começam das alimentações até nos resquícios restantes dos regimes de castas nos relacionamentos entre as pessoas. Sem alternativas, são obrigados a enfrentarem como podem situações novas, inclusive com um pouco de vigarice, enquanto nesta situação crítica as dificuldades já existentes são aumentadas, e as convivências forçadas criam novos relacionamentos. Estas questões humanas são tratadas com um humor, ainda que sejam universais.
Muitos japoneses aposentados estão sendo obrigados a procurar sobreviver em outros países asiáticos, como as Filipinas e a Malásia, onde os custos de vida são mais baixos que no Japão, mas também sofrem choques culturais.
O filme teve um baixo custo de produção e as bilheterias que estão conseguindo superam as superproduções, ainda que exibidas em redes modestas. O sucesso que vem se obtendo mostra que os frequentadores possuem um senso com os permitem identificar com problemas paralelos que vivem, havendo um forte divórcio com as opiniões dos críticos de cinema.
Eu, pessoalmente, cheguei a situação de evitar os recomendados pelos críticos especializados, exageradamente “cabeças” que provocam depressões com situações que não são comuns a maioria das pessoas. Ou exageram nas fantasias usando um excesso de meios tecnológicos numa exaltação da violência. Prefiro os que permitem conhecer, ainda que de forma limitada, situações culturais diversas, como as que predominam na Ásia, que passam a fazer parte do nosso cotidiano.