As Ampliações das Empresas Japonesas no Exterior
1 de junho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: aquisições no exterior, artigo do Wall Street Journal, reprodução no Valor Econômico | 11 Comentários »
Na falta de uma perspectiva brilhante no Japão, muitas empresas japonesas estão ampliando suas atividades no exterior, como ressalta o artigo elaborado por Kana Inagaki e Atsuko Fukase, publicado originalmente no The Wall Street Journal, e reproduzido no Valor Econômico. Como muitas empresas no mundo, elas estão com grandes ativos financeiros, e se lançam no processo de aquisições de ativos fixos no exterior, aproveitando o valorizado iene. O artigo cita os casos das aquisições feitas pela trading Marubeni e pela farmacêutica Takeda, já comentadas neste site.
Os jornalistas informam que estas empresas japonesas estão mais cuidadosas que no passado, quando efetuaram péssimos negócios como a aquisição do Rockfeller Center em Nova Iorque e a Universal Studios nos Estados Unidos. Pode ser que seja verdade em muitos casos, mas a aquisição da Schincariol brasileira pela Kirin, segundo o mercado, está sendo considerada que foi efetuado por um valor exagerado, sem o devido cuidado no exame dos complexos problemas fiscais e legais que cercam esta empresa de cervejas.
O que se observa é que os japoneses são afetados pelas condições vigentes no Japão, onde, por falta de espaços, os imóveis sempre tiveram preços mais elevados que no exterior. Não possuem o hábito de utilizarem consultores externos e seus funcionários e dirigentes acabam considerando que os ativos imobiliários em outros países são relativamente baratos.
As empresas japonesas utilizam pouco dos serviços de consultoria jurídica, que só comparecem no final das negociações, quando já existe um consenso dos demais setores da empresa sobre a aquisição. Nos Estados Unidos e em outros países, as negociações começam com a ativa participação dos advogados.
Muitas das condições para um bom processo de aquisição ou fusão não são adequadamente avaliadas pelas suas equipes que possuem maiores experiências dentro das condições japonesas. Tradicionalmente, os japoneses não são bons conhecedores das culturas estrangeiras e tendem a ter um comportamento de manada. Quando outras empresas japonesas consideram que determinado mercado é promissor, existe uma tendência para acompanharem estas avaliações, pois eventuais erros são considerados coletivos.
As informações constantes do artigo mostram que os japoneses estão se aperfeiçoando nestas técnicas, contando com estudos mais aprofundados. No entanto, examinando-se alguns casos concretos, nota-se que ainda continuam presas fáceis de aconselhamentos inadequados, não sendo bons avaliadores das condições objetivas.
No passado, muitas destas operações contavam com a participação de empresas de trading ou bancos, mas agora muitas operam diretamente em países estrangeiros e procuram manter um exagero de segredo nas negociações, que podem conduzir a situações de insuficiência de outras informações que devem subsidiar estas operações de alta complexidade.
Não se pode subavaliar as diferenças das culturas empresariais, e todas as complexidades das condições vigentes em diferentes países. Evoluir de uma economia peninsular para o mercado global pode ser mais complexo do que parece.
Senhor Paulo: a cervejaria Schincariol foi comprada pelo grupo Kirin e não pela empresa Asahi. Há um erro no seu artigo.
Cara Juliana Gomes,
Desculpe-me pela falha. Realmente há um erro, e estou solicitando corrigir.
Paulo Yokota
As multinacionais japonesas estão não só comprando rivas no exterior, mas, também, realizando empreendimentos conjuntos. Tomemos, como exemplo, a “Eco Heads” (de Fukushima) que pretende desenvolver um novo tipo de frango com a brasileira Embrapa Aves e Suínos. A citada empresa nipônica pretende se instalar em Araraquara (SP).
http://www.agrovalor.com.br/2011/jornal-agrovalor/3257-embrapa-pode-desenvolver-novo-tipo-de-frango-para-empresa-japonesa
http://araraquara.sp.gov.br/Noticia/Noticia.aspx?IDNoticia=5706
Caro Diego,
Concordo. No entanto, estes projetos ainda são modestos, quando considerado dentro da escala da globalização que está ocorrendo.
Paulo Yokota
Torço para que empresas como a Japan Wind Development, a ZENA System, a Ohisama Shinpo Energy, a Eurus Energy Holdings Corporation (Grupo Toyota), a Sharp Solar, a Kyocera Solar, a Solar Frontier, a Honda Soltec, a Mitsubishi Electric, a Sanyo (Grupo Panasonic), Toshiba, Kaneka Corp. etc. invistam no Brasil e tragam a melhor tecnologia japonesa para geração de energia através de fontes renováveis (energia eólica, solar etc.).
Sei da importância das fabricantes de eletrônicos, de automóveis etc. do Japão na geração de empregos e na entrada de tecnologia de ponta no Brasil, mas gostaria de que “empresas verdes” também se interessassem por nós.
Após o sismo seguido de maremoto, a Terra do Sol Nascente está dando um espetáculo com sua “tecnologia verde”.
À proposito, alguém já viu a parede de hortaliças dos nipônicos para manter a temperatura amena dos imóveis no verão? E o notebook da Fujitsu feito com plástico de milho biodegradável? E a Toyota usando bioplástico de batata doce em seus carros? E os sutiãs usados e as fraldas geriátricas empregados como combustível? Soluções simples e muito interessantes. Merecia, inclusive, um artigo do Dr. Yokota. Abraços.
Caro Carlos Silva,
Os japoneses estão investindo em energias alternativas, ainda que sejam de custo mais elevados, pois não possem outras fontes. Mas, existem oportunidades em todo o mundo, e está se procurando formas de armazenagem, como as grandes baterias de lídio, que podem atrair investimentos. No entanto, ainda é o pré-sal com o petróleo e o gás que atraem mais as atenções japonesas.
Paulo Yokota
Lendo o presente texto, fiquei pensando se alguma siderúrgica nipônica poderia comprar a Companhia Siderúrgica do Atlântico, que a ThyssenKrupp pretende alienar.
Caro Lucas Capez,
Obrigado por utiizar o site. Pelas informações disponíveis, os grupos japoneses que já tivera projetos como o da Siderugica de Tubarão, não possem interesses nesta unidade, até porque foram montadas para uso de outras tecnologias.
Paulo Yokota
Dr. Yokota:
Eu só gostaria de complementar o meu
comentário anterior, dizendo que um grupo japonês chamado Hamaya instalou-se no Paraná. Ele realiza reciclagem de sucata de informática, o que é ótimo para o meio ambiente. Quem tiver curiosidade:
http://www.hamaya.com.br/
Caro Carlos Silva,
Obrigado pela contribuição. Temos muito a aprender com muitos países estrangeiros.
Paulo Yokota
Sr. Paulo, lendo o texto e comparando com o artigo de 1/11/2011 http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/operacao-zico-como-a-kirin-desbancou-as-rivais-e-comprou-a-schincariol, há uma incoerência. Para a aquisição da Schincariol, a Kirin contava com consultoria jurídica (TozziniFreire), banco (Citibank), além de duas empresas de consultoria (A.T. Kearney e Deloitte). Concordo que foi um péssimo negocio para a Kirin, mas os seus “assessores” que erraram na avaliação da Schincariol.