Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Contribuição dos Nikkeis Para as Cerâmicas Brasileiras

8 de junho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: ceramistas nikkeis no Brasil, conhecimento restrito, diferentes formações | 4 Comentários »

Entre os que acompanham a evolução das artes plásticas no Brasil, nota-se a expressiva contribuição de variados ceramistas de origem japonesa. As produções cerâmicas japonesas que são conhecidas no mundo foram baseadas nos conhecimentos provenientes da China por intermédio dos coreanos, começam no Sul do Japão, com variados estilos. De lá, foram para a Europa e os Estados Unidos, dentro do que é conhecido como “stone ware”, que são as cerâmicas de alta temperatura, e consequentemente mais resistentes.

Mas algumas contribuições vieram diretamente do Japão para o Brasil, com passagens intermediárias diferentes, ganhando características próprias por utilizar matérias-primas locais. Na publicação “Raízes da Arte Koguei no Brasil”, publicado pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, há um destaque na cerâmica, inclusive sobre o uso do “Noborigama”, um tipo de forno de lenha com muitas câmaras com o calor ascendendo por elas. O primeiro teria sido construído por Shoko Suzuki em 1962, que explica num artigo sobre a sua vinda ao país.

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Shoko Suzuki / Akinori Nakatani

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Megumi Yuasa / Kimi Nii

Vamos destacar as contribuições de quatro artistas consagrados não só no Brasil, de origem nipo-brasileira, que possuem formações diferentes, mas trabalham com seus ateliês no país. Shoko Suzuki, que imigrou para o país nos primeiros anos da década de 60 do século passado, já completou mais de 50 anos no país, e teve como colegas hoje consagrados ceramistas japoneses no mercado daquele país, cujos ateliês tivemos oportunidade de visitar.

Ela explica que depois de ver um programa sobre o Brasil na TV NHK decidiu que desejava vir para um país que contava com a energia para construir uma nova capital como Brasília. A sua adaptação ao país foi penosa, mas tinha a determinação de usar o barro que aqui se dispunha bem como produzir os esmaltes que necessitava com o que tinha aprendido no Japão, utilizando várias cinzas. Depois de muita luta, sobrevivendo até com a produção de utilitários e enfeites, conseguiu ser reconhecida como uma das mais sofisticadas ceramistas no Brasil, cuja produção expressava todo o seu trabalho e filosofia com relação à cerâmica, inclusive técnicas que adquiriu no Japão. Efetuou exposições nas mais consagradas salas e hoje se dedica a transmitir seus conhecimentos para seus discípulos que certamente absorveram muito dos seus refinados conhecimentos.

Akinori Nakatani é formado em artes na Universidade de Kyoto, e antes de chegar ao Brasil fez uma peregrinação pelos Andes, que inspirou muitos dos seus trabalhos. Possui o mais importante prêmio de cerâmica mundial, o Presidente da República da Itália, do concurso de cerâmica internacional de Faenza. Conseguiu transmitir parte de sua técnica para toda a sua família, mas também teve que sobreviver da produção de peças utilitárias. Dedica-se, como um grande idealista que é, na preservação do Casarão do Chá (construída com técnica japonesa, sem o uso do prego), em Mogi das Cruzes, SP. Suas peças podem ser encontradas nos acervos dos principais museus.

Megumi Yuasa, meu colega de primário, é um autodidata em cerâmica do tipo escultura e pesquisador constante, acabando por desenvolver no Brasil uma cerâmica conceitual (amadurecido no período em que ficou refugiado no interior de Goiás). Ele passou a fazer parte do Grupo São Paulo, com uma produção altamente sofisticada e forte intercâmbio com as ideias do grupo de Wesley Duke Lee que atuava na pintura. O seu tipo de trabalho só pode ser efetuado no Japão por grandes mestres consagrados, sendo admirado internacionalmente. No seu trabalho, só se nota uma contribuição japonesa se for ao campo do subconsciente.

Kimi Nii, nascida no Japão, tem uma cerâmica que vem de sua sofisticação no design, acumulando sua experiência na produção de variados objetos, inclusive produtos utilitários. Hoje, produz elaboradas esculturas cerâmicas até de grande porte, tendo exposto até no Japão. Sua qualidade vem se acumulando, para atingir padrões internacionais.

Todas estas exemplificações mostram que no campo da cerâmica internacional, onde a sofisticação atinge elevados requintes no Japão, não existe a separação indevida que ainda persiste no Brasil, havendo uma diferenciação entre o que é considerado artístico e o artesanato. Tudo que envolve uma elaboração intelectual e o trabalho humano é valorizado, diferenciando-se da produção repetitiva e industrial.


4 Comentários para “Contribuição dos Nikkeis Para as Cerâmicas Brasileiras”

  1. wagner aguiar
    1  escreveu às 18:32 em 11 de junho de 2012:

    Entendo bem pouco sobre artes plásticas, mas penso que estas infomações me foram uteis para começar a correr atrás de mais dados e poder me interar sobre o assunto.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 20:22 em 11 de junho de 2012:

    Caro Wagner Aguiar,

    Temos muitos artistas plásticos com prestígio internacional, não só na cerâmica. Os Gemeos, por exemplo, começaram com grafite e hoje estão presentes nos principais museus do mundo. Vale a pena conhecer um pouco do que fazemos de arte.

    Paulo Yokota

  3. Sueli
    3  escreveu às 17:26 em 26 de junho de 2012:

    Como consigo contato com o ceramista Megumi Yuasa?
    Agradeceria retorno.
    Grata,

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 18:21 em 26 de junho de 2012:

    Cara Sueli,

    Esta tarefa não é das mais fáceis. Vou tentar, e se conseguir, fornecerei as informações.

    Paulo Yokota