Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Recuperação da JAL – Japan Airlines

31 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo do The Wall Street Journal, razões apontadas, reproduzido em português no Valor Econômico | 2 Comentários »

Um interessante artigo escrito por Kenneth Maxwell e Yoshio Takahashi para o The Wall Street Journal foi reproduzido em português pelo Valor Econômico reportando a recuperação da JAL – Japan Airlines, apontando algumas razões e as críticas que são formuladas. Todos sabem que esta gigantesca empresa aérea, há menos de três anos, teve que pedir concordata com uma dívida de US$ 30 bilhões, e para a sua recuperação foi convocado o carismático empresário Kazuo Inamori, hoje com 80 anos, que deverá se aposentar brevemente. Ele foi o fundador de uma empresa inovadora, a Kyocera, cujo produto principal é a cerâmica fina, e é considerado um filósofo que tem um grande número de seguidores.

Para esta recuperação, o governo japonês contribuiu com um perdão de dívida de US$ 6 bilhões e concedeu empréstimos de US$ 4 bilhões, os seus aposentados e funcionários sofreram cortes nos seus direitos de comum acordo, uma expressiva economia foi feita nos seus custos, além de renovar a sua frota com aviões novos e mais econômicos. Aumentam sua frota dos novos 787 da Boing. Houve um momento em que 16.000 vagas foram cortadas, com a demissão acordada de funcionários, bem como a eliminação de uma série de setores da empresa. Hoje, informa-se que ela atingiu um lucro operacional de 17%, bem maior do que a média dos seus concorrentes internacionais. A JAL estabeleceu um importante acordo operacional com a American Airlines nas linhas que operam entre os Estados Unidos e o Japão, vital para os seus resultados. Isto num momento em que a aviação internacional continua enfrentando os efeitos da crise mundial.

kazuo

Kazuo Inamori

A JAL era um símbolo da recuperação econômica japonesa do pós-guerra, mas ao longo de sua história acabou agigantando seu corpo de colaboradores e seus custos, que foram mantidos quando o Japão já entrava em estagnação. De forma semelhante com outras grandes empresas de aviação do mundo, acabou tornando-se ineficiente, mesmo com o suporte do governo japonês. Foi obrigada a tomar medidas drásticas e foi buscar Kazuo Inamori que já tinha um grande prestígio empresarial, da época áurea da economia brasileira, destacado pelas suas inovações. Com o seu carisma, foi capaz de aglutinar todas as forças dos bancos e outras empresas japonesas, efetuando uma reforma radical que evidentemente tem os seus críticos, inclusive parte dos funcionários que acabaram perdendo seus empregos.

Mas dentro de uma orientação que faz parte da cultura empresarial do Japão, procurou-se prejudicar o menos possível os seus funcionários. Isto pode ser observado por uma das mais baixas taxas de desemprego do mundo, mesmo na atual crise econômica, abaixo da brasileira. As economias foram radicais, mesmo de pequenos detalhes das despesas e gastos, contando com a forte colaboração de todos da JAL. O processo continua em andamento, e o seu sucessor já foi escolhido, Yoshiharu Ueki, de 59 anos, ex-piloto, que também é considerado carismático.

Kazuo Inamori elaborou um livro chamado “Filosofia da JAL” para ser absorvido por todos os seus colaboradores, bem como admiradores que devem aumentar mesmo fora do Japão. Mas os concorrentes, como da ANA – All Nippon Airlines, colocam em dúvida se esta recuperação teria sido possível sem uma substancial ajuda do governo japonês.

Kazuo Inamori, que também é um monge budista, tem diversos livros de liderança corporativa, e mesmo no Brasil conta com um grupo que é seu seguidor, principalmente nas suas atividades empresariais. Afirma-se que dos resultados obtidos pela JAL, 20% decorrem do enxugamento de seus funcionários, 27% da economia do consumo de combustíveis, e a maior parte da redução das despesas de depreciação da sua frota, que estava obsoleta.

Este líder empresarial carismático tem a pretensão de estabelecer um modelo para as demais empresas aérea do mundo, que evidentemente terá que sofrer adaptações das culturas empresariais, pois nem sempre pode se contar com o espírito que se dispõe de muitos funcionários japoneses.

Mas há que se reconhecer que, em qualquer empreendimento de sucesso, há que se contar com um forte espírito de corpo de todos os seus colaboradores, sem o que dificilmente pode ser alcançar os objetivos estabelecidos. Um líder carismático acaba facilitando o atendimento desta necessidade.


2 Comentários para “A Recuperação da JAL – Japan Airlines”

  1. Jorge Barcellos
    1  escreveu às 19:52 em 31 de julho de 2012:

    O Japão está de parabéns, pois o Brasil deveria ter feito o mesmo com a Varig, que era um orgulho do capitalismo brasileiro.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 21:00 em 31 de julho de 2012:

    Caro Jorge Barcellos,

    Obrigado pelo seu comentário.

    Paulo Yokota