Reforma do Sistema Bancário Chinês
5 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a sua importância, artigo de Michael Pettis, o que seria a reforma
Se existe um profissional que acompanha a evolução da China, postando seus artigos no seu próprio site, este é Michael Pettis, professor da Universidade de Peking, cujos artigos são publicados também em muitos jornais. Ele tem sido objetivo e suas análises são cuidadosas e minuciosas, e elaborou hoje um com o título “O que é a reforma financeira na China?”, diante da repercussão das declarações do premiê Wen Jinbao criticando o sistema bancário do seu país, clamando por reformas. Segundo o autor, há uma relação profunda entre o sistema bancário daquele país com o sistema financeiro, pois apesar de haver um volumoso montante de créditos que são concedidos às pequenas e médias empresas por particulares, como o tipo que ficou conhecido como “factoring” no Brasil, por trás destas operações estão os bancos.
Na sua detalhada análise, Michael Pettis chega à conclusão que vem se mantendo juros baixos para os poupadores que são as famílias à semelhança do Japão, e estes recursos são repassados para a elaboração da infraestrutura dos governos locais e investimentos das empresas chinesas, estatais ou privadas, que sustentaram o seu rápido desenvolvimento nas últimas décadas com uma espécie de subsídio, pois os empréstimos contam com juros baixos. Na realidade, há quase uma confusão entre os recursos fiscais e creditícios.
Muitos imaginavam que a reforma se referia a incorporação destas operações semelhantes às dos agiotas para os bancos formais. Mas o autor esclarece que haveria uma necessidade de maior concorrência entre os bancos, pois existe quase um monopólio, e que muitos dos créditos não refletem as prioridades da China, apesar de comandadas pelas autoridades. Existiriam muitas operações que não podem ser honradas e que deveriam ser registradas como prejuízos. A crítica do primeiro-ministro parece referir-se ao exagero de lucros dos bancos, que no fundo continuam sendo suportados pelo governo, apesar de muitas aplicações não serem de boa qualidade, fugindo às regras mundiais relacionadas às alavancagens dos bancos, aumentando o capital para segurança do sistema.
O autor reconhece que muitos países que se encontravam atrasados no seu processo de desenvolvimento conseguiram elaborar, por exemplo, a sua infraestrutura, com resultados positivos com mecanismos semelhantes.
O desejável é que os poupadores tivessem alternativas para conseguir remunerações mais adequadas para os seus depósitos, o que não acontece na China. Também não podem ser aplicados no exterior como acontece em muitos outros países. No momento em que a China passa a depender mais fortemente do seu mercado interno, seria desejável que as famílias contassem com mais recursos para efetuar as suas compras. Mas deve-se reconhecer que existe uma cultura de manutenção de uma elevada taxa de poupança na Ásia, diante das inseguranças que foram experimentadas pelas populações. Em muitas eventualidades, o suporte social do governo não chega a ser o necessário, dependendo-se as reservas acumuladas pelas famílias.
Ainda que o mecanismo de mercado venha se ampliando naquele país, o fato concreto é que o sistema bancário continua sendo concentrado em alguns estabelecimentos estatais. O autor cita muitos outros estudos de profundidade, revelando as facetas que são pouco conhecidas até por analistas ocidentais sobre o que acontece realmente naquele país, neste setor.
Segundo ele, a reforma só teria sentido se houvesse uma mudança no sistema de governança dos bancos e uma liberalização dos juros. Ele cita diversas interpretações que foram dadas para o pronunciamento de Wen Jinbao por diversos autores e inclusive pela imprensa oficial do país.
Na realidade, as atuais autoridades que estão se preparando para a transferência do poder para a nova geração de líderes, apontam diversas reformas indispensáveis na China, que ainda sofrem resistências de forte burocracia consolidada naquele país. A complexidade e a inter-relação entre diversos fatores não permitem isolar somente uma delas, a reforma do sistema financeiro.