Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Importância das Estações do Ano para os Japoneses

6 de agosto de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: alimentações e medicina, artigo de Kevin Short no Daily Yomiuri, incorporação na cultura, observações cuidadosas

Kevin Short é um consagrado naturalista e antropologista cultural, professor da Tokyo University of Information Sciences. É um colunista regular do Daily Yomiuri, escrevendo a última sobre a sua especialidade, com artigos sempre interessante na série chamada Nature in Short. A sua íntegra pode ser encontrada, em inglês, no http://www.yomiuri.co.jp/dy/features/science/T120731002254.htm , cuja leitura seria interessante, pois vai muito além das observações resumidas neste artigo.

O autor destaca que no sistema chamado sekki, um sistema solar que divide o ano em 24 segmentos, nesta terça-feira, o outono do Japão tem início, que é considerado por muitos como a estação mais importante para os japoneses. De forma poética, ele observa que as estações passam, a lua cheia do Oriente marca esta passagem. Ainda que o verão quente e úmido do Japão esteja afetando ainda a população, as pequenas mudanças que marcam os primeiros indícios do esperado outono começam a se manifestar.

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Ele informa que estes indícios estão marcados nos haikais e poesias tradicionais do Japão, denotando as observações da natureza dos japoneses que acabam se refletindo na sua cultura. Ele registra que isto é marcante, destacando-se das demais culturas, sendo que o coração deste gênero de poesia está no que se chama Kigo, que simboliza uma determinada estação.

Ele pode ser meteorológico ou astronômico, mas se baseia no ritmo da natureza, marcado pelos animais e plantas que são encontrados na época, em qualquer área, sejam nos jardins das casas como nas florestas. Na literatura, acabaram determinando regras padronizadas aceitas pelos poetas.

Um deles são as cigarras chamadas higurashi, que com o seu canto informam os japoneses a mudança da estação. Existem poemas desde o período Nara (710 a 794) do Japão, tratando do assunto. Esta profunda carga cultural transmite-se até hoje nas formas até do anime e mangá, mais apreciados pelos jovens atuais, até internacionalmente.

O autor destaca também uma flor muito conhecida chamada “asagao” (morning glories) que foi levada da China ainda no século oitavo para o Japão. Ela também se encontra no Brasil, florescendo pela manhã. Existem muitas variedades desta planta e flor, sendo que algumas são utilizadas como medicamentos, principalmente na forma de sementes.

Uma novidade é que ela é parente da batata doce japonês, que as pesquisas arqueologias mostram que fez uma grande viagem da América Central, passando pelo Pacífico e atingiu o Japão no século XVII. Tornou-se um alimento vital para os japoneses, principalmente quando ocorre um problema de abastecimento do arroz, havendo uma variedade conhecida como “Satsuma-imo”. Desempenhou o mesmo papel fundamental que a batata teve a supressão da fome na Europa, mostrando que a contribuição das Américas para o mundo antecedem as atuais, vindo das épocas pré-colombianas.

As pesquisas recentes, conforme informa o autor, mostram que o botânico especializado nas contribuições étnicas da Universidade de Harvard, Richard Evans Schults, astecas e mayas utilizavam alguns cogumelos que exerciam papéis semelhantes aos conteúdos das sementes dos “morning glory”, para uso em rituais religiosos.

Aliás, muitos dos cereais que eram utilizados por estes antigos habitantes das Américas, incluídos os incas, hoje estão sendo reconhecidos como benéficos para a saúde humana, comprovadas cientificamente, como o quinua e a chia, cujos usos estão se generalizando pelo mundo. Sabe-se que muitos outros produtos originários dos Andes são utilizados hoje em todo o mundo.