Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Complexidade da Distensão Política na China

24 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: complexidade dos problemas políticos na China, entendimento de algumas das dificuldades, entrevista de Chen Guangcheng para o Financial Times

Como é do conhecimento de muitos, Chen Guangcheng sofreu perseguições na China pela sua atuação, mesmo cego, a favor daqueles que eram injustiçados no seu país. Conseguiu um período para estudos nos Estados Unidos, mas não pode ser definido como um dissidente clássico, pois ele deseja retornar ao seu país, procurando colaborar no processo de crescente aplicação do que já está previsto na legislação chinesa. Ele foi entrevistado em Nova Iorque por Jamil Anderlini, que é o chefe do escritório do Financial Times em Beijing.

Mesmo cego e não tendo uma formação completa em Direito, ele conseguiu um conhecimento suficiente da legislação chinesa para defender os pontos de vistas dos injustiçados no seu país. Sua atuação, que não pode ser considerado como de dissidente, procura a defesa de alguns que são prejudicados, ainda que seus direitos estejam previstos na legislação do país, mesmo a Constituição. Este tipo de situação onde na Carta Magna estão expressas as aspirações, nem sempre implementadas, é comum em diversos países. Diante dos constrangimentos que lhes eram impostos, como é sabido, Chen Guangcheng promoveu uma fuga, quando se feriu nos pés, e diante da repercussão do caso, acabou autorizado pelas autoridades chinesas a efetuar um curso na Universidade de Nova Iorque.

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Chen Guangcheng e Jamil Anderlini

Na entrevista, pelo bom uso do mandarim, ficou claro que Chen Guangcheng é uma pessoa preparada, e ele mostrou que não pretende ficar nos Estados Unidos, mas retornar para a China a fim de continuar o seu trabalho. Ele não é um dissidente, no sentido de que deseje mudar o governo ou a China, mas deseja que o que já está na legislação chinesa seja geral para todos, de forma que as suas insuficiências não prejudiquem os seus compatriotas. Como o retorno dele para a China pode provocar embaraços, o Financial Times questionou como isto seria conseguido. Ele afirmou que ficar no aeroporto sem poder embarcar para a China, onde seus documentos estão perfeitos, acabaria provocando embaraços maiores para as autoridades chinesas.

Na sua estada em Nova Iorque, Chen Guangcheng é ajudado por sua esposa, pois sendo cego e não falando fluentemente o inglês, conta com dificuldades. É ajudado por Jerome Cohen, professor de Direito da Universidade de Nova Iorque, que conseguiu a sua ida para os Estados Unidos, especialista em direitos humanos na China.

A entrevista foi amena, apesar de não se conhecerem pessoalmente, e o entrevistado revelou-se apreciador do gravador, que foi o instrumento pelo qual ele conseguiu relatar as violências que foram cometidas com ele e seus familiares. Ele se revelou admirado que nos Estados Unidos todos pudessem expressar suas opiniões livremente, sem nenhum receio, o que não acontecia na China. Ele acredita que isto permitiu o país se tornar o mais importante do mundo.

Informou que as restrições para os que possuem alguma deficiência física na China são grandes. Suas exposições são simples e diretas, e ele tem o carisma que atrai a imprensa internacional. Não pensa que o povo chinês nem os membros do Partido possam ser subestimados.

Já houve casos no passado em que dissidentes chineses foram proibidos de retornar à China, mas como pretendem mostrar que o Estado de Direito funciona naquele país, estas coisas ficaram mais complexas. Ele não entende que Partido tenha uma só forma de pensar, mas entre os seus membros mais importantes existem poucos que detêm o poder real, e os outros simplesmente seguem as suas orientações, mesmo não concordando com elas.

Ele acha que o chamado sistema democrático também tem seus problemas, necessita de melhoras, mais ainda é o melhor disponível. Entende que a China precisa de tempo para introduzir suas melhorias, se todos se esforçam para aperfeiçoá-la, mas se ninguém lutar por isto vai demandar mais tempo.