A Questão Entre a China e o Japão
26 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dificuldades da Guerra, diversos artigos na imprensa internacional, enfoques pragmáticos, soluções não convencionais | 8 Comentários »
Muitos artigos publicados pela imprensa internacional sobre as questões atuais entre a China e o Japão, que teria origem na disputa das ilhas Senkaku/Diaoyu, tendem a colocar que o assunto deverá ser resolvido diante do volume dos interesses econômicos envolvidos. Um publicado no Financial Times, de autoria de Peter Tasker, analista residente em Tóquio, faz um paralelo com o problema que a Inglaterra teve com a Argentina na guerra Folkland/Malvinas, mas parece que os atuais problemas são mais profundos do que aquelas divergências que resultaram em conflitos armados.
Outro artigo publicado no jornal econômico japonês Nikkei informa que uma reunião efetuada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, Koichiro Gemba, para tratar da atual situação, com sua contrapartida chinesa, ministro Yang Jiechi, em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, foi tensa e não apresentou nenhum avanço no sentido de reduzir os problemas que estão ocorrendo atualmente. A China rejeitou frontalmente a posição japonesam que alega a sua soberania sobre as ilhas, da mesma forma que os chineses também não pretendem discutir a respeito da violação sobre o que consideram da sua soberania.
Koichiro Gemba Yang Jiechi
O governo japonês teria apresentado a necessidade de proteção dos ativos das empresas japonesas instaladas na China que estariam sendo danificadas nos protestos populares que se espalham pelo país. Muitas empresas japonesas já estariam reduzindo suas produções na China, os fornecimentos dos componentes prejudicados, bem como outros projetos estariam sendo cancelados. Muitos estabelecimentos comerciais estariam procurando retirar os seus nomes dos cartazes para não serem identificados como japoneses.
Tudo indica que houve um incitamento inicial dos protestos populares inspirados por organismos que de alguma forma estariam ligados com as autoridades chinesas, que agora se encontram fora do controle. São feitas ilações com os atuais desaceleramentos na economia chinesa, mas tudo indica que foram reacendidos os fortes ressentimentos decorrentes das guerras entre ambos os países, e todas as suas consequências.
As questões relacionadas com o nacionalismo não são fáceis de serem resolvidos, quando a China humilhada nos últimos 150 anos passa a ganhar uma projeção no cenário mundial. A sua fome de matérias-primas e rotas de seu suprimento vão além da sua presença nos mares que os circundam. Eles estão aumentando a sua potência militar ao mesmo tempo em que os aliados dos Estados Unidos sofrem dificuldades decorrentes de suas intervenções passadas, inclusive do ponto de vista econômico.
Mesmo que as crises mais agudas sejam superadas, dentro da tendência histórica da China para postergar as decisões sobre questões cruciais, permanece um clima de guerra fria, mesmo no atual mundo globalizado. Sentimentos nacionalistas são difíceis de serem aplacados, por potências que não se acostumaram a soluções políticas e diplomáticas.
De outro lado, fica o sentimento histórico que a permissão sobre avanços como ocorreram no passado acabam resultando em escaladas que devem ser evitadas. Parece que o mundo que já enfrenta diversas dificuldades conta com nova frente para preocupações, passando a necessitar de diplomatas que tenham conhecimentos profundos sobre a Ásia, como foi o caso de Henry Kissinger.
Realmente o clima ficou tenso na China. Incrível como nenhum japonês acabou sofrendo maiores consequencias físicas naquele país.
Decorridos mais de 60 anos depois da Segunda Guerra, de onde vem tanto ódio dos chineses, principalmente dos jovens?
Caro Mike,
Os chineses sofreram humilhações por mais de um seculo de potências estrangeiras, e apesar dos japoneses terem herdados os fundamentos da cultura chinesa, sempre desprezaram os chineses depois que os venceram na guerra no começo do século XX, cometendo barbaridades como o grande massacre de Nankim. Estes sentimentos estão sendo explorados e reavivados. Não parece ser um problema que o intenso intercambio comercial bilateral poderá resolver pragmaticamente, ainda que os chineses tenham a tradição de deixar que o tempo ajude a resolver problemas com esta complexidade. Tive a oportunidade de conhecer na China as bases do que muitos nacionalistas japoneses conseguiram vender para o mundo como japoneses, como o ikebana e a cerimônia de chá, que foram sofisticados no Japão, mas são de origens chinesas.
Paulo Yokota
Paulo Yokota
Apesar do passado conturbado entre os dois países, será que hoje há algo que justifique a onda de violência chinesa contra os japoneses e suas empresas na China? Não vemos o Japão ou seu povo adotar a mesma agressividade. É possível que a maioria dos chineses não concorde com essas manifestações violentas, que no fim acabam prejudicando a própria China, no entanto parece que uma parte da população prefere ficar preso às dores do passado. O incrível é que muitos destes são jovens, que nem sequer viveram esses traumas históricos.
Caro Mike,
A China é um país complexo que passa por um período com grandes necessidades de reformas, que passam da dependência das exportações para prioridade na expansão do seu mercado interno. Muitas hipóteses podem ser formuladas, mas tenho a impressão que é um conjunto de fatores. Yuriko Koike publica um artigo no Project Syndicate, ela que foi ministro da defesa, colocando este apelo ao nacionalismo diante das divergências internas, tomando como exemplo o caso do Bo Kilai. Também a perda de capacidade dos Estados Unidos fazem com que a China aumente o seu poder militar, principalmente no mar do sul da China. A escalada do crescimento militar da China acaba provocando varios atritos com vizinhos asiáticos, que antes eram aliados dos americanos e cujo comércio com a China elevou-se. Lamentavelmente, o Japão continua perdendo a sua importância econômica no atual mundo globalizado. As tendências para os nacionalismos e populismos estão aumentando perigosamente. Os chineses parecem ter abandonado a política passada de postergar as soluções das questões mais difíceis. Com tantos fatores influenciando, tudo indica que ainda não está clara a direção futura destas questões. Os japoneses sempre foram fracos em matéria de política internacional. Se tinham pretenções sérias sobre as ilhas, tanto próximas da China como da Coreia do Sul, deveriam ter feitos investimentos nelas, mas deixaram até que se tornaram problemas. O lamentável é que o futuro, onde estava se esboçando um arranjo no Extremo Oriente, entre a China, Coreia do Sul e Japão, parece ficar ainda mais longe.
Paulo Yokota
Se for verdadeira a hipótese de que o governo chinês faz uso do de nacionalismo quando é desafiado pela suas próprias contradições, fazendo do Japão o inimigo externo para desviar a atenção do povo, então parece que o confronto entre os dois países será apenas uma questão de tempo. Será que há saída para essa armadilha?
Caro Mike,
Estas questões são muito complexas e não evoluem de forma simplificada como nos seus comentários. A China conta com muitas etnias e existem graves problemas internos. Os intercâmbios sino-japoneses são volumosos, e a tendência é haver uma acomodação, pois os chineses tendem a postergar as soluções dos problemas complexos. Os interesses recíprocos são gigantescos, não havendo soluções fáceis. O tempo dirá como estas coisas acabam evoluindo, normalmente com cerca acomodação, reduzindo-se as manifestações mais acaloradas, ainda que tudo isto seja complicado.
Paulo Yokota
Tomara que o sr. esteja certo, pois não consigo nem imaginar as consequências de um conflito militar na região.
Não se trata de minha opinião, mas dos autores dos artigos mencionados.
Paulo Yokota