Duras Verdades Sobre o Crescimento Global
21 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo do prêmio Nobel Michael Spence, assunto fora das campanhas eleitorais, exemplo do Brasil, necessidade de tratar da melhoria da distribuição de renda
O prêmio Nobel de Economia Michael Spence, num artigo distribuído pelo Project Syndicate, trata de um problema crucial para a recuperação do crescimento da economia no mundo industrializado que difere substancialmente do que está sendo perseguido pelas principais autoridades monetárias dos Estados Unidos, da Europa e do Japão. Todos sabem que sem a criação de empregos e aumento dos consumos internos não há um mecanismo mágico para facilitar a saída dos atuais impasses.
Ele aponta no seu artigo, com propriedade, que os meios de estimular os consumos locais, que representam mais de dois terços da demanda global dos países industrializados, não podem ser feitos com o aumento do endividamento dos consumidores, e nem do aumento das exportações. Foram as expansões descontroladas dos créditos que acabaram por provocar a crise que se iniciou em 2008. E, não havendo demanda, não há como estimular os investimentos.
Michael Spence
Muitos continuam criticando Lula da Silva, que teve um lampejo de sabedoria decorrente da vida prática e seria considerado uma loucura pelos por aqueles contaminados por conhecimentos acadêmicos. Ele recomendou que os trabalhadores continuassem consumindo, pois sem isto perderiam os seus empregos. E continuou estimulando medidas de assistência social, para tirar maior parcela da população da pobreza absoluta, inclusive com subsídios tipo Bolsa Família. Conseguiu-se com estas medidas ampliar a nova classe média, que vem sustentando a economia brasileira, mesmo com um crescimento mais modesto, decorrente da redução das demandas externas, tanto em quantidade como em preços.
Michael Spence critica informando que nas atuais campanhas eleitorais não se fala na melhoria da distribuição de renda. De fato, desde a crise de 2008 continua-se a privilegiar os subsídios absurdos para os bancos e seus dirigentes nas economias desenvolvidas, com volumes substanciais de recursos, a fim de evitar um problema sistêmico no setor financeiro, piorando a distribuição de renda.
As medidas de aumento dos meios de pagamento e dos créditos continuam ampliando o chamado “monetary easy”, fazendo com que trilhões de dólares continuem nos ativos financeiros das empresas, que são aplicados em títulos públicos. Os investimentos não são efetuados de forma a aumentar o emprego, pois os empresários temem as incertezas dos crescimentos dos consumos.
Os bancos são estimulados a aumentar seus empréstimos, mas, sem renda adicional, os assalariados não contam com mais capacidade de manter seus consumos com endividamentos. E as empresas estão entupidas de recursos que não ajudam a criar empregos adicionais.
Todos sabem que não existe milagre em economia, mas os países que se mantêm em crescimentos razoáveis são os novos emergentes que estão surgindo, com camadas de populações sendo incorporadas na economia de mercado, que antes não eram consumidores expressivos. E mesmo os industrializados, na medida em que continuarem crescendo mesmo cerca de 2%, não ampliam os seus empregos, pois a maioria das inovações tecnológicas são economizadoras de recursos humanos. E muitos ainda consideram um desastre um decréscimo do crescimento chinês para o patamar de 5 a 7% ao ano.
Mesmo nos países industrializados está aumentado o número de pobres absolutos, pois as medidas de assistência social estão sendo obrigadas a ser contidas pelas questões orçamentárias. A vinculação com alguns treinamentos para novas atividades podem ser tentadas, enquanto nos emergentes continuam sendo relacionados com a educação. O fato concreto é que a melhoria na distribuição de renda contribui para o aumento de novos consumos, ainda que sejam de produtos para consumidores que ingressam nas classes mais modestas.
O caminho pode ser longo, mas menos equivocado do que aqueles que continuam criticando regulações mais ativas do Estado, na tentativa de corrigir as falhas do funcionamento dos mecanismos de mercado.