Governança no Brasil Segundo a Der Spiegel
4 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: avaliação do Der Spiegel, avanços que estão sendo registrados, governança no Brasil | 2 Comentários »
É surpreendente que os alemães, que costumam fazer avaliações rigorosas, publicaram na famosa revista Der Spiegel um artigo longo elaborado por Erich Follath e Jens Gluesing fazendo elogios à governança no Brasil. As grandes democracias ocidentais se consideravam eficientes, mas passam pelas atuais crises na Europa, com fracassos como no Iraque e no Afeganistão, e lançam olhares para o que está acontecendo em países como a China e o Brasil, que emergem da pobreza para se tornarem potências respeitáveis. Der Spiegel está publicando uma série de artigos sobre as boas governanças em todo o mundo.
O artigo começa com a observação de Luiz Bezerra, 67 anos, um motorista de ônibus que mora na favela do Cantagalo, no Rio de Janeiro. Ele, que subia o morro todas as noites preocupado como ele, sua esposa e duas filhas sobreviveriam a cada noite, foi eleito como representante da comunidade depois que a sua favela, que conta com 20 mil habitantes, foi pacificada com a expulsão dos traficantes de drogas pelas forças policiais. Ele trata com as autoridades sobre as medidas que ainda precisam ser tomadas para a melhoria de sua comunidade, mas com a esperança de dias melhores. Antes, as autoridades eram complacentes com os bandidos, e hoje a comunidade cuida das documentações de sua habitação, do comércio local que começa a despontar, com as ligações regulares da energia elétrica, a chegada regular dos carteiros.
Favela do Cantagalo, no Rio de Janeiro, citada pela Der Spiegel
Luiz Bezerra afirma na sua casa da nova classe média que, ainda que não seja tão excitante, é a primeira vez que pessoas comuns se sentem participando do crescimento do Brasil, experimentando a esperança. Ainda existe o sentimento de desconfiança, muitas pessoas se negam a expressar as suas opiniões, mas até as mulheres já dão um aceno amigável. A cidade do Rio de Janeiro começa a dar uma impressão de ordem, do tipo alemão, e não se observa somente nesta cidade que receberá a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas em diversas regiões do país.
O Brasil faz parte do grupo do BRICS, considerado como os emergentes com grandes potencialidades de crescimento, a caminho de tornar-se uma potência global, superando países como a França e o Reino Unido, contando com expressiva reserva externa, com um crescimento expressivo, liberdade política e reduzindo a desigualdade econômica, que contrasta com o que vem acontecendo no mundo desenvolvido. Torna-se um exemplo da boa governança, segundo o artigo.
Com um amplo território que tem 22 vezes a Alemanha, população expressiva que é o dobro da alemã, com o fardo de uma herança histórica está longe de ser homogênea. Os conquistadores portugueses foram implacáveis com os indígenas, trouxeram milhões de escravos africanos, e o país viveu séculos de crises políticas. Começou com a social democracia de Fernando Henrique Cardoso, mas foi com Luiz Inácio Lula da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores, que venceu a luta contra a fome, mesmo acusado de assistencialismo, com grande carisma pessoal. Conseguiu reduzir a pobreza absoluta em 50%, e manteve o seu prestígio popular como poucos líderes no mundo.
Foi sucedido democraticamente por Dilma Rousseff, ex-guerrilheira, que se dedica a um trabalho que começa às 7h30 das segundas feiras, combatendo com afinco a corrupção. Ela que estuda os assuntos com profundidade e conta com uma memória invejável. Procura uma boa governança com a profissionalização.
As empresas brasileiras estão se globalizando, superando algumas alemãs. Avança para conseguir uma independência energética, evitando a “doença holandesa”, ou seja, a excessiva dependência de seus recursos minerais. Reduziu o seu crescimento que atraía demais os investimentos estrangeiros de caráter financeiro, e agora procura ativar a sua economia, contando com o pré-sal e a Petrobras, que incorpora a experiência de outras regiões como a Noruega, no Mar do Norte.
Outras providências estão sendo tomadas, e mesmo no Rio de Janeiro, que não pretende se tornar uma Lausanne ou Zurich, o churrasco na praia ficou proibido, e o futebol só pode ser jogado depois das 5 da tarde.
Ainda que seja caótica, como nas favelas, a noite carioca apresenta os seus atrativos, sem contar com riscos em particular. Não chegou ao extremo da Alemanha, mas já foi longe, segundo o artigo.
Dando uma olhada em outros artigos de Erich Follath, não perderia meu tempo lendo artigos desse colunista. Mas lá, como cá, temos todos os tipos de jornalistas, leitores.
Cara Sofia,
Acredito que todas as leituras devem ser amplas, pois existem muitas opiniões com pontos de vista diferentes.
Paulo Yokota