Novas Ondas nos Assuntos Sexuais e Pornográficos
23 de setembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: assuntos sexuais e pornográficos ganham maior liberdade, E.L.James e Cinquenta Tons, Ilustríssima da Folha, Naomi Wolf e a Vagina | 5 Comentários »
Se há um assunto que ganhou uma desenvoltura que assusta os mais conservadores é o trato de questões sexuais até antes considerados pornográficos na forma de literatura de alto padrão, ou na imprensa não especializada. O suplemento Ilustríssima da Folha de S.Paulo deste fim de semana trata do assunto com toda a liberdade, abandonando o moralismo da imprensa que já não corresponde à vida atual dos adultos e até adolescentes. Sou de uma geração que ainda estranha uma mulher usando o que se chamava palavrão numa conversa livre entre amigos de muitos sexos, que antes eram dois.
Mesmo que o livro de E.L.James com a trilogia “Cinquenta Tons” seja considerado um fenômeno de vendas, as repercussões que está provocando mostram que estão sendo expostas com franqueza as realidades que fazem parte do cotidiano de muitos, ainda num ambiente restrito. Com todos os tabus ou preconceitos ainda existentes, diferindo de cada pessoa, principalmente no seu trato público. Ou o artigo de Naomi Wolf, originalmente publicado no The Guardian e reproduzido em português no suplemento Ilustríssima da Folha de São Paulo, falando da vagina, com a expressão “bocetini”.
E.L.James e Naomi Wolf
Estes assuntos eram tratados pelos grupos do mesmo sexo, tanto nas camadas populares como os que se consideram mais intelectualizados. Hoje, são correntes em todos os grupos nos livros, filmes ou na televisão, escandalizando os mais conservadores. A liberdade sexual tornou-se natural tendo começado nos dormitórios das universidades norte-americanas, e as mulheres conquistaram o status para deixarem de ser consideradas passivas nas propostas para relações com outras pessoas, tanto hetero como homo ou bi.
O assunto está deixando de ser tratado somente pelas revistas consideradas pornográficas ou peças teatrais. Nelson Rodrigues e Plínio Marcos foram pioneiros no trato destes assuntos como é no cotidiano da vida real da população. Os que se consideram superiores nos seus comportamentos, faziam as mesmas coisas ainda que evitando discussões mais francas sobre estes assuntos.
Deve-se lembrar dos alvoroços provocados pelo livro de Vladimir Nabokov “Lolita”, em 1955, ou pelo filme como “Último Tango em Paris”, em 1972, de Bernardo Bertolucci, estrelados por Marlon Brando e Maria Schneider. Passado algumas décadas, estes temas passaram a ser considerados banais, mas ainda não era tratada pela chamada grande imprensa brasileira.
A evolução no trato destes temas passa por ciclos. Basta considerar que o homossexualismo era considerado natural na antiga Grécia, houve períodos históricos como a vitoriana e hoje há até um tratamento banalizado, como em algumas novelas exibidas nas televisões. O que parece conveniente é que se trate destes assuntos respeitando que existem parcelas da população que são contrários a estes assuntos, e que as informações apresentam defasagens entre regiões do país, bem como legislações diferentes entre países.
Depois de postada esta matéria, notei que o jornal O Globo publicou uma extensa matéria sobre o assunto hoje, discutindo o de forma ampla, a partir da censura da ABL sobre uma exposição feita na mesma entidade.
Paulo Yokota
O texto completo deste artigo dos jornalistas Joana Dale e Roberto Kaz encontra-se no: http://oglobo.globo.com/cultura/por-que-retratar-exibir-falar-sobre-vagina-ainda-e-tabu
Paulo Yokota
A obra que gerou toda esta controvérsia pode ser acessada no: http://www.musee-orsay.fr/fr/collections/oeuvres-commentees/peinture/com…
É uma obra de Gustave Coubert L’Origine du monde
Paulo Yokota
Paulo, o senhor parece estar assustado com a mulher moderna. A repressão feminina, a dominação masculina, o machismo etc. são objetos de museu. Nós, mulheres, temos o direito ao nosso corpo e cutir a nossa sexualidade.
Cara Agnes Mayer,
Pelo contrário, se V. observar o conjunto do que tenho escrito, acredito que o papel das mulheres é fundamental. Discutir estes aspectos todos abertamente é importante, sem distinção de sexo. Mas, que existem pessoas que temem a sua discussão aberta é uma realidade, a partir da censura da Academia Brasileira de Letras. Eu já ví muita coisa neste mundo, bem como muitas reações, o que acho natural. Cada povo tem os seus valores, e os respeito, mesmo não concordando, inclusive nos aspectos religiosos ou políticos.
Paulo Yokota