Filmes Chineses Tratando de sua Identidade Nacional
1 de outubro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dificuldades internas acabam atribuindo culpados externos, dois filmes tratando do período da guerra com o Japão, processos difíceis de serem controlados, tendência à radicalização
A respeitável revista The Economist publica um artigo sobre filmes que procuram ressaltar a identidade nacional chinesa no momento em que os problemas com os vizinhos da China se agravam, notadamente com o Japão. Os horrores do massacre de Nanjing, de 1937, foram apresentados em dois filmes: “As Flores da Guerra”, de Zhang Yimou, e “Cidade da Vida e da Morte” (traduções livres), de Lu Chuan. O mais patriota, apresentando a brutalidade do exército japonês, manteve-se mais em cartaz, enquanto o mais moderado apresentando um soldado japonês de forma sutil acabou sendo retirado das telas prematuramente.
Segundo a revista, a incapacidade do Japão de apresentar desculpas satisfatórias e indenizar as suas vitimas, como foi feito pela Alemanha com relação à Segunda Guerra Mundial, mantém a cultura popular chinesa afetando as relações sino-japonesas. Muitos são os meios utilizados, em filmes, novelas, dramas de rádio, e acabam se agravando quando ocorrem episódios como o Diaoyu/Senkaku, principalmente no dia 1º de Outubro, data nacional na China.
Cena do filme “A Cidade da Vida e da Morte”, de Lu Chuan
Segundo o The Economist, nos anos das décadas de 1950, 1960 e 1970, estes problemas estavam reduzidos a algumas frases secas, mas agora voltaram a ser dramatizadas. Alguns analistas informam que o nacionalismo voltou a ser utilizado como forma de galvanizar a população, o que pode estar relacionado com as dificuldades pelas quais passa a China, que já teve paralelo durante a Revolução Cultural.
As posições mais radicais se tornaram populares, e as mais equilibradas não conseguem audiências. Existem analistas, como Lu Chuan, que lembram que a China tem uma longa história que muito os orgulham, mas eles os destruíram, enterrando a verdade, para usar as versões que enaltecem o sofrimento pelo qual passou a população.
Lamentavelmente, isto não acontece agora somente com os chineses, mas tais apelos são sempre utilizados para que fatos lamentáveis sejam mantidos na memória de um povo. Por outro lado, as barbaridades que foram cometidas nas mais variadas guerras, desde a antiguidade, devem ter registros adequados.
O que costuma acontecer é que as versões dos vencedores acabam predominando na leitura da história, fazendo com que contribuições relevantes que foram dados por importantes etnias e culturas milenares sejam hoje pouco prestigiadas. Sempre são convenientes que sejam verificadas as versões de todas as partes, ainda que a imparcialidade seja sempre esquecida quando se envolvem considerações nacionalistas, notadamente nos períodos eleitorais.