Intercâmbio Comercial do Brasil com a China
23 de outubro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo no Valor Econômico, mudanças na estrutura da importação, problemas existentes | 2 Comentários »
Marta Watanabe, jornalista do Valor Econômico, publica um interessante artigo na edição de hoje, referindo-se, com base nos dados até agosto último, que a China ultrapassou os Estados Unidos e a Argentina como a principal fonte das importações brasileiras, utilizando dados da Funcex e do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Utiliza informações fornecidas por Welber Barral para mostrar que os produtos importados da China não são mais quinquilharias, mas produtos intermediários, inclusive de bens de capital, como decorrência dos investimentos dos grupos chineses que estão sendo feitos no Brasil.
Segundo o artigo, os negócios intracompanhias estão aumentando, como já ocorreu em outros países, nas empresas automobilísticas que traziam alguns modelos e componentes do exterior, ao mesmo tempo em que promovia a exportação de outros. Não parece que o caso chinês se enquadra dentro deste esquema, ainda que algumas empresas como a SANI, de equipamentos pesados para a construção civil, já promovem a importação de máquinas e componentes, sendo difícil que faça o mesmo a partir do Brasil.
Gráfico publicado no Valor Econômico
Os dados disponíveis no mundo, principalmente com as pesquisas do JBIC – Japan Bank for International Cooperation, mostram que os investimentos diretos efetuados no exterior tendem a aumentar o intercâmbio bilateral. Quando muitas empresas atuam como verdadeiras multinacionais, visando maximizar os benefícios tributários, reduzir os riscos cambiais e utilizar as melhores fontes de financiamento do comércio exterior, procuram produzir bens similares e seus componentes em diversos países, promovendo o comércio intracompanhias.
O Brasil já se beneficiou, no passado, destes esquemas, tanto nas indústrias automobilísticas como eletrônicas, nas produções efetuadas simultaneamente em diversos países, inclusive com a Ásia. No caso chinês, a dificuldade é o Brasil contar com alguns produtos e componentes competitivos com os produzidos na China, ainda que isto não seja impossível.
Dentro do chamado Befiex – Benefícios Fiscais a Programas Especiais de Exportação, ainda nos fins dos anos setenta e início dos oitenta do século passado, o Brasil conseguiu acertar com as grandes montadoras automobilísticas um programa para a produção local dos chamados modelos mundial. Alguns eram produzidos no Brasil, outros no exterior, bem como seus componentes. Era um período em que as autoridades brasileiras estavam conscientes da importância das exportações para gerar as divisas necessárias para honrar as importações.
Isto foi feito com os alemães, italianos, norte-americanos, e estes mecanismos acabaram sendo utilizados para outros setores, como os de eletrônica. Se isto já era possível há mais de trinta anos, mesmo com a atual falta de competitividade da indústria brasileira, se houver uma forte disposição das autoridades, num programa adequadamente ajustado com as grandes empresas multinacionais, o Brasil tem todas as condições para voltar ao cenário que já teve no passado.
O artigo ainda utiliza depoimentos dados por José Augusto de Castro, da AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, e análises de Fernando Ribeiro, do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que se referem a importância que a China adquiriu no comércio internacional, que deve ser mantido no futuro.
Olá.
Primeiramente, muito bom teu site.
Gostaria que explicasse um pouco a relação comercial do Brasil com a China no lado da agricultura, como a soja, por exemplo. Como anda o comércio de culturas do Brasil com a Ásia, em especial a China? E qual é a reação de países que sempre foram os grandes exportadores e agora estão vendo seus índices serem ultrapassados pelos índices asiáticos?
Um abraço!
Caro Gabriel,
Agradecendo os seus comentários, se entendí bem as suas questões, gostaria de informar que a China é uma das maiores produtoras de soja e outros produtos agrícolas no mundo, sendo que 70% do abastecimento destes produtos no Japão tem origem naquele país. O suprimento que recebem do exterior é marginal, e como houve uma forte seca nos Estados Unidos, este abastecimento ficou parcialmente prejudicado. O Brasil é um tradicional exportador destes produtos para a China, pois muitos países que são produtores, também são importadores. O nosso país, por exemplo, ainda que produtor de trigo, importa este produto de diversas origens. No atual processo de globalização exporta-se alguns produtos e importa outros similares. A soja, por exemplo, tem dois tipos básicos: os que contem muita proteina e que são utilizados para a produção de queijos de soja, e outros ricos em óleos que são utilizados para a sua produção, sendo que seus resíduos são utilizados para rações. O mesmo tipo de fenômeno acontece com produtos industriais, como veículos, onde se exporta alguns modelos e componentes, e importa-se outros. Existem ainda algumas vantágens fiscais, além da necessidade de fazer a adequada cobertura dos riscos cambiais. O comércio internacional é de grande complexidade, envolvendo também a logística que necessita contar com volumes que são transportados, bem como cargas de retorno.
Paulo Yokota