Investimentos Estrangeiros na África
23 de outubro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: artigo do Project Syndicate, artigo do The Economist, crescimento de um estágio modesto, distribuição de renda, sustentabilidade | 2 Comentários »
O The Economist desta semana publica dois artigos importantes sobre a África. Um aponta as dificuldades que começaram a se manifestar na África do Sul, que representa 40% da economia daquele continente e outro mostra, num contraste, o boom econômico que está se observado na grande região subsaariana, com investimentos asiáticos bem como interesses brasileiros. Ao mesmo tempo, especialistas nestas regiões, como Jean-Michel Severino e Emilie Debled, publicam no Project Syndicate um artigo que indica que das dez economias mais rapidamente crescente em 2011, seis estão na África, enquanto a dívida externa do continente que era de 63% do PNB em 2000 caiu para 22,2% no ano passado e a inflação que era de 15% baixou para 8%.
Ainda que estes dados sejam impressionantes, eles, que são bem-vindos, exigem alguns cuidados nas suas apreciações. Muito deste crescimento está fortemente ligado ao petróleo e matérias-primas minerais, cujas receitas costumam estar concentradas em poucas mãos, e, na medida em que se observa o desenvolvimento, as tensões, como da África do Sul, acabam se expressando. Evidentemente, o continente pode ser considerado o último reduto onde a disponibilidade de recursos naturais, inclusive solos cultiváveis, é abundante, e muitos dos consumidores dos seus produtos estão interessados nos investimentos, com destaque para a China.
Geograficamente, muitos países cabem no continente africano
Como o Oriente Médio, a África foi dividida arbitrariamente pelas antigas metrópoles europeias, e suas fronteiras não obedecem às realidades das ocupações tribais, que continuam tendo a sua importância. Ainda que generalizada como um continente, suas realidades são bastante diferenciadas, dependendo das metrópoles que tinham no passado, que determinaram parte de suas culturas, como os idiomas utilizados. Ainda procuram consolidar suas democracias, pois as disputas pelas quais passaram e passam deixaram marcas profundas, com fortes grupos de origem militar que procuram usufruir de suas riquezas.
Sair de níveis de produção extremamente baixos para os intermediários parece mais fácil, dentro de regimes políticos autoritários, mas a consolidação democrática dos diversos segmentos da população é difícil, principalmente quando existem etnias rivais com suas realidades tribais de longa tradição.
Mas os artigos como do The Economist trazem pontos de vistas gerais importantes, como dos técnicos do Banco Mundial, mostrando o acentuado crescimento demográfico que pode elevar a Nigéria, que atualmente conta com cerca de 160 milhões de habitantes, a ser a terceira em população em 2055, somente atrás da China e da Índia. Há uma acentuada urbanização que está mudando o quadro, e a tecnologia acusa avanços por ter como ponto de partida patamar baixo, e começa haver algum sistema de governança mais racional.
O artigo do Project Syndicate aponta a grande diversidade de situações entre os países e regiões, inclusive com o desenvolvimento de pequenas e médias empresas em alguns deles. Tudo isto está mostrando que o mundo, além dos países já desenvolvidos e dos grandes emergentes considerados como BRICS, conta com muitos outros na Ásia, na América do Sul e até na África que ajudam a ampliar as possibilidades econômicas de crescimento.
O grande problema é que os grupos estrangeiros, inclusive asiáticos e brasileiros, para efetuar investimentos na África, desejam contar com grandes unidades empresariais, mesmo na produção agropecuária, tanto mais na exploração de recursos minerais. Mas existem alguns grupos que começaram pequenos e já possuem dimensões apreciáveis em prazos médios, com retornos elevados diante dos riscos que assumiram.
Eu sou contra os “investimentos” estrangeiros na África. Na verdade, as multinacionais e os países como a China querem os recursos naturais, as riquezas daquele continente. Nossos irmãos africanos deveriam apenas aceitar o nosso braço estendido, pois o Brasil é a maior nação negra do mundo fora da África. Somos muito mais confiáveis.
Caro Ricardo Silva,
Lamento, mas como todos os investimentos estrangeiros, mesmo os brasileiros beneficiam a região, mas desejam os retornos. Fazemos alguns poucos investimentos no exterior, e a África, visamos também os nossos inteeresses. Não existe filantropia nesta área, lamentavelmente.
Paulo Yokota