Os Planos de Saúde no Brasil
9 de outubro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a venda da Amil para a UnitedHealth, ampliação das dificuldades, noticiado em todos os jornais, os problemas existentes
Todos os jornais brasileiros, como o Valor Econômico, num conjunto de artigos comandados por Beth Koike, divulgaram com generosos espaços a notícia sobre a venda de 90% da Amil, a maior empresa de plano de seguro saúde do Brasil, para a UnitedHealth, a maior nos Estados Unidos e que já opera em 18 países, envolvendo cifras aproximadas de R$ 9,8 bilhões. Permanece com o grupo brasileiro a parcela relacionada a alguns hospitais no Brasil (eles controlam 22 hospitais e 50 clínicas médicas), bem como a parcela de 10%, ao mesmo tempo em que o empresário brasileiro Edson Bueno torna-se o a maior acionista privado do grupo norte-americano. Informa-se que as negociações demandaram anos.
O grupo controlador da Amil dispõe de 70% das ações da empresa, que conta com o restante no mercado de capitais. Informa-se que o seu capital será fechado, por meio de oferta pública para aquisição, o que já vem gerando especulações diante do vazamento de informações. Esta operação acontece no momento em que a classe médica brasileira manifesta publicamente a sua insatisfação com as remunerações dos seus trabalhos pelos planos de saúde, o que acontece também com as prestadoras de serviços para estas empresas. Informa-se que a UnitedHealth é um grupo originário de pessoas relacionadas com a TI – Tecnologia da Informação, dispondo dos melhores sistemas para o setor.
Edson de Godoy Bueno e Stephen J.Hemsley, presidente da UnitedHealth
Os que possuem alguma familiaridade com estes assuntos sabem que os planos de saúde, originalmente criados pelos profissionais médicos preocupados com a prestação de serviços de saúde, caminharam para se tornar verdadeiras instituições financeiras. Muitos dos seus capazes gestores acabaram se tornando profissionais para atender prioritariamente os interesses dos seus acionistas, ainda que sacrificando tanto a qualidade dos serviços como suas remunerações. As reclamações dos consumidores e até das autoridades são abundantes e, na medida em que seus dirigentes passam a ser de grupos estrangeiros, sempre se torna mais difícil o atendimento dos pacientes necessitados, pois os centros das principais decisões ficam mais distantes.
O que se espera que este fato, que deve gerar outros casos semelhantes, seja adequadamente administrado pela ANS – Agência Nacional de Saúde Complementar, que deve zelar pelo equilíbrio no mercado. O fato concreto é que muitos casos de segurados de planos privados estão sendo atendidos pelo SUS, que não consegue ser ressarcido pelos seus atendimentos.
Estas organizações acabam se tornando poderosas, dispondo de um lobby respeitável, enquanto os prestadores de serviços estão pulverizados por todo o país, principalmente os profissionais de medicina e as pequenas clínicas de todos os tipos de serviços. É uma situação típica de oligopólios relacionados com um mercado de demanda atomizada, e sem uma adequada regulamentação governamental o mercado acaba não funcionando de forma eficiente.
Lamentavelmente, as agências ficam mais suscetíveis às pressões dos lobistas bem remunerados das operadoras de planos de saúde, que são também os grandes anunciantes dos veículos de comunicação social, enquanto os consumidores são representados por idealistas que procuram defender os direitos dos consumidores. Certamente, uma situação desigual, que ainda não conseguiu ser equilibrado pela pressão da cidadania.
A tendência do mercado acaba provocando concentrações, havendo economias de escala e de informações, onde uma das partes só se dedica a aumentar a sua eficiência, normalmente representado pelos resultados obtidos. De outro lado, os consumidores só conseguem informações parciais sobre os seus direitos. São constantes as notícias sobre as demoras absurdas nas autorizações para o uso de hospitais e outros prestadores de serviços, enquanto bilhões expressam a elevada rentabilidade de empreendimentos da natureza. É evidente que se as autoridades necessitam da ajuda do setor privado, há que se proporcionar uma remuneração adequada para estas empresas, sendo que o exagero da regulamentação acaba também inibindo a qualidade e a quantidade destas atividades.
Não é uma equação fácil de ser resolvida, esperando-se que a população não acabe sendo prejudicada. Lamentavelmente, como o que está acontecendo nas atividades financeiras, há que se contar com instituições públicas que permitam liderar para que as tarifas fiquem num nível razoável.