Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Artigo de Claudia Safatle Permite Entender Alguns Problemas

30 de novembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: artigo na coluna do Valor Econômico, dificuldades entre a presidente e o setor privado, forma de estruturação do governo

Com toda a sua competência, a jornalista Claudia Safatle, na sua tradicional coluna no jornal Valor Econômico, apresenta uma série de informações que mostram o abismo que ainda existe entre a presidente Dilma Rousseff e o setor privado brasileiro e estrangeiro, que não permite que os investimentos indispensáveis sejam efetuados com celeridade. O Palácio do Planalto vem promovendo algumas reuniões da presidente com pequenos grupos de empresários, que estão resultando em medidas que resolvem muitos problemas detectados, mas ainda não se estabeleceu uma confiança entre as duas partes, que permita efetivar os investimentos necessários, no prazo desejável.

Além do tempo indispensável entre uma decisão governamental, a sua absorção adequada pelos empresários, há que se entender que muitos projetos demandam um tempo razoável para a sua execução. Muitos analistas menos experientes esperam que os resultados das mudanças de política econômica, com as expectativas que são antecipadas pelos agentes econômicos, resultem em alterações do quadro com rapidez. No entanto, isto pode ocorrer no mercado virtual como de alguns segmentos financeiros, mas conta com defasagens apreciáveis nas atividades produtivas, tanto industriais, agropecuárias como as relacionadas com as implantações de infraestrutura.

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Claudia Safatle

A dificuldade mais evidente parece residir hoje no problema relacionado com a tarifa de energia elétrica, provocando desgastes no governo. Muitos entendem que as principais hidroelétricas já estão com o grosso dos seus investimentos amortizados, cujos custos foram incluídos nas tarifas, havendo espaços para sensíveis reduções. Mas a forma pela qual o assunto foi colocado pelas autoridades federais, além de provocar as reações dos interesses afetados, mostrou que não se conta com a habilidade para o adequado convencimento de segmentos do setor privado, mediante explicações diplomáticas e políticas. Seus efeitos negativos estão se espalhando por muitos setores vitais para os investimentos.

Deve-se reconhecer que, apesar de dezenas de ministérios e agências governamentais, muitos desnecessários e provocando a pulverização do poder difíceis de serem coordenados, poucos são as autoridades que possuem uma visão do conjunto. Com a interferência direta da presidente em assuntos vitais, como esta da energia elétrica, muitas autoridades se sentem inibidas a tomar as suas decisões, para serem depois repreendidas com a correção de suas ações.

O Ministério do Planejamento teoricamente deveria cuidar deste conjunto, mas parece absorvido somente na elaboração do orçamento. Muitas autoridades do primeiro escalão parecem não contar com a necessária intimidade com a presidente, nem se realizam reuniões francas que permitam estabelecer diretrizes claras para todos.

O fato que parece evidente é que a presidente Dilma Rousseff, inclusive para não sofrer desgastes desnecessários, deveria se resguardar para as decisões finais, delegando a alguns dos seus ministros, pois é impossível fazer o mesmo com dezenas deles, os delicados e demorados trabalhos de preparação dos projetos considerados mais estratégicos. Tanto do ponto de vista técnico-administrativo como do preparo político adequado, tanto com o Legislativo como com o setor privado, incluindo o de comunicação social.

A sobrecarga que está ocorrendo, ainda que a presidente Dilma Rousseff tenha uma elevada capacidade de trabalho, não permite que ela execute tudo que se torna necessário. É preciso entender que todos que ocupam a posição máxima do país sofrem pressões desgastantes de todos os segmentos da sociedade brasileira, e seria da maior conveniência que ela conte com um anteparo adequado, para selecionar somente aquilo que pode ser feito com os recursos escassos, tanto econômico-financeiros como até de recursos humanos e tecnológicos.

Não se pode imaginar que empresas de consultoria internacional, com seus estudos para a reformulação da atual Casa Civil e todo o comando da Presidência tenham a capacidade de oferecer as alternativas mais adequadas à realidade brasileira.

Por mais que haja subsídios oferecidos por alguns empresários de destaque, parece necessário contar com uma autoridade que tenha a capacidade de pensar o conjunto, até a prazo mais longo, tendo um acesso à presidente, até para falar o que ela não gostaria de ouvir, e mesmo assim não ser demitido. Os casos passados de administrações que foram consideradas mais eficientes mostram esta necessidade.