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Desafios Para o Governo Shinzo Abe

30 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: desafios para o governo Shinzo Abe, dificuldades externas, necessidade de superação do ceticismo, política monetária e fiscal, pragmatismo com as promessas feitas, problema cambial

Nunca um partido, tanto do PLD – Partido Liberal Democrata como do DPJ – Partido Democrata do Japão, assumiu o governo com tão baixo prestígio popular, segundo o jornal Nikkei, baseado nas pesquisas de opinião. Pode ser que isto acabe sendo uma ajuda, pois todos que começaram com expectativas elevadas acabaram colhendo fracassos. Na última eleição, o PLD colheu um resultado arrasador, mas decorreu dos eleitores votantes que foram menores que nas eleições anteriores, pois no Japão o voto não é obrigatório. E os eleitores optaram pelo menos ruim, contra o governo do DPJ. O programa que vem sendo apresentado pelo novo governo, constituído de muitos veteranos, é conservador e nacionalista no discurso, mas com possibilidades ainda duvidosas de execução.

Apesar da pretensão nacionalista, o novo governo precisa ser pragmático nos seus relacionamentos com a China e a Coreia, bem como com os Estados Unidos, que, mesmo sendo o principal aliado, não conta com condições de proporcionar um apoio maciço aos japoneses, pois luta com suas próprias dificuldades internas. A maior expansão na sua política monetária não pode ser o instrumento suficiente para ativar sua economia, perseguindo um aumento da inflação que vem se comportando deflacionariamente, e uma desvalorização do yen não depende somente do Japão. O aumento da competitividade japonesa no atual cenário internacional não é uma tarefa fácil, e o elevado nível da dívida pública japonesa já é uma limitação substantiva.

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Primeiro-ministro Shinzo Abe posa com membros de seu novo gabinete

Apesar de se declarar favorável à continuidade da utilização da energia nuclear, a oposição popular com relação ao assunto é decorrente do bombardeio atômico que sofreu em Hiroshima e Nagasaki, além da contaminação provocada pelo desastre na usina de Fukushima. O assunto extravasa o âmbito da economia, e está fortemente arraigada no seio de uma parcela importante da população japonesa, a única que sofreu diretamente calamidades desta magnitude.

Mesmo com a visível interferência de Shinzo Abe num assunto que deveria ser totalmente da alçada do Bank of Japan, as autoridades monetárias japonesas que deveriam ser totalmente independentes não devem apresentar maiores problemas para o aumento da inflação, como objetivo. Não se deve entender que somente isto seja suficiente para a desvalorização do yen, nem a ativação de suas exportações.

A política fiscal japonesa não apresenta espaços para a ampliação dos gastos públicos visando o estímulo de sua economia, dado o assustador nível de sua dívida pública, ainda que financiada com recursos dos próprios japoneses. O fato lamentável é que a economia, mesmo com a disposição política do governo, conta com restrições concretas, notadamente num mundo em dificuldades.

Mas, até pela falta de alternativas, o governo pode conseguir um apoio mais objetivo dos empresários. O Keidanren, que representa a cúpula dos mesmos, mostra-se com disposição positiva, mesmo sem contar com o poder que tinha no passado.

A população japonesa também se mostra cansada com tantos titubeios, e, na medida em que o novo governo mostra uma forte disposição positiva, há sempre a possibilidade de o governo mostrar-se capaz, executando algumas medidas concretas, e obtendo o apoio de uma maior parcela do eleitorado. As fragmentações partidárias que ocorreram no Japão também não parecem ter empolgado a opinião pública, que pode se galvanizar em torno de um governo mais firme.

O mínimo que pode se dizer deste novo governo é que ele está tentando algumas coisas concretas, e certamente vai sensibilizar alguns segmentos da população japonesa. Espera-se que os demais sejam arrastados por estas tendências, até pela falta total de alternativas.