Imaginando o Ponto de Vista do Paraguai
26 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a história da Tríplice Aliança, as tendências nacionalistas, dificuldades que enfrentam no Mercosul, o que motivou o artigo histórico do The Economist sobre o Paraguai
Para tentar entender um pouco o artigo publicado no The Economist sobre a guerra sem fim do Paraguai, seria interessante se colocar no ponto de vista dos dirigentes daquele país, que faz parte do Mercosul. Os outros países da América do Sul entenderam que a deposição recente do presidente Fernando Lugo, um bispo católico que chegou a poder eleitoralmente derrotando o forte Partido Colorado que domina o país por muito tempo, foi efetuado num processo rápido e foi considerado na realidade um golpe sobre quem ficou conhecido como o “pai dos pobres”. Ainda que Lugo tenha reconhecido dois filhos das quatro mulheres que alegavam ter relações quando ainda deveria ser celibatário, a acusação final sobre ele foi de corrupção.
Um dos diplomatas paraguaios que discutia com os demais representantes dos outros países sobre a suspensão do Paraguai do Mercosul, que se estendia para a OEA – Organização dos Estados Americanos, referiu-se à Tríplice Aliança. Ela foi formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai no século XIX para sufocar Solano Lopes e seus soldados, no que é considerado até hoje um dos maiores massacres da história. Thomas Whigham, da Universidade de Geórgia, estima que foram mortos 60% da população do Paraguai e 90% dos seus homens. Também do lado brasileiro, que era a principal força da Tríplice Aliança, os custos foram elevados, ainda que lembrados como grandes marcos militares do Brasil, consagrando Duque de Caxias e o Almirante Visconde de Tamandaré, diante das poucas guerras externas das quais participaram forças brasileiras.
Ilustrações da Guerra do Paraguai e da Batalha do Riachuelo
A guerra ocorreu porque o Paraguai, que tinha pretensões de ser uma potência média na região, desde a época do pai de Solano Lopes, não concordava com a interferência do Brasil na antiga Província Cisplatina, transformada em Uruguai. E invadiu partes do Uruguai e do Brasil, passando com suas tropas pelo território da Argentina. Sofreu uma longa guerra como reação no chaco, uma espécie de pantanal paraguaio, que culminou em massacres, mesmo que ambas as partes contassem com condições precárias e insalubres, que eram mais acentuadas no lado do Paraguai.
Sem muitos recursos, até hoje o Paraguai utiliza o seu nacionalismo que se reanimou com uma vitória sobre parte da Bolívia, tentando se firmar entre vizinhos mais poderosos. Suas terras estão bastante ocupadas pelos chamados “brasiguaios” que lá produzem em condições competitivas, principalmente, a soja que é exportada até para a China. Conseguiu um grande projeto binacional, a Usina de Itaipu, totalmente construída e financiada pelos brasileiros, ainda que conte com parte de sua produção por se localizar na fronteira, suficiente para o seu abastecimento interno e até exportação para o Brasil.
Atualmente, recebe contingentes de árabes, principalmente palestinos, notadamente na região da Tríplice Fronteira, que são acusados pelos norte-americanos de remeterem doações para atividades consideradas de guerrilha. Não deve ser nada fácil, para um país de pequenas dimensões territoriais e populacionais, conviver com grandes potências regionais como o Brasil e a Argentina, com uma população que tem como base os nativos guaranis, contando com uma parcela de imigrantes, inclusive japoneses.