Tanto Bate Até Que Fura
19 de dezembro de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: dificuldades, insistências que provocam mudanças, intenções dos eleitos no Japão, vendas de armas nos EUA
Existe um famoso ditado que diz: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. A resistência da National Riffle Association of America para qualquer restrição às vendas de armas, que vem da cultura do velho oeste e está na Constituição dos Estados Unidos, diante da repetição de tantas calamidades insanas nas escolas como agora em Sandy Hook, parece que começar a ceder, no mínimo quanto aos rifles de repetição. A esperança é que acabe se estendendo para o controle de vendas de armas para a sua população, pois, como afirma o presidente Barack Obama, é preciso que as autoridades tomem medidas objetivas para tentar reverter este quadro de paranoia.
Nas eleições japonesas, o PLD – Partido Liberal Democrata hoje comandada pelo ex-premiê Shinzo Abe, teve uma vitória arrasadora. Este partido esteve no comando do Japão pela maioria dos períodos depois da Segunda Guerra Mundial, e acabou sendo derrotado pelo DPJ – Partido Democrático do Japão e outros oposicionistas, inclusive o Partido Socialista, diante da sua incapacidade de oferecer um programa que mantivesse a sua economia, acabando por passar o Japão por duas décadas perdidas. As esperanças se renovam, com a desvalorização do yen, o apoio do Japan Keidanren – cúpula empresarial do Japão e da poderosa burocracia governamental, ainda que as dificuldades sejam muitas, e nem tudo que foi prometido durante a campanha eleitoral tenha viabilidade, como a adoção de uma linha nacionalista para resolver as disputas de ilhas com a China e a Coreia.
Não se deve exagerar nas expectativas de mudanças, mas as esperanças são que estes eventos cruciais determinem um ponto de inflexão na história destes países, sabendo que os frutos só podem ser alcançados ao longo de muito tempo.
Muitos são os que acreditam que a posse de armamento é um direito inalienável de autodefesa, mas os acontecimentos vêm comprovando que os mesmos são utilizados pelos psicopatas não somente nos Estados Unidos. E na medida em que estes lamentáveis fatos são amplamente divulgados, outros que sofrem dos mesmos distúrbios tendem a ser estimulados para o seu minuto de fama que conseguem.
O problema é complexo e não vai acabar somente com a restrição às vendas de rifles de repetição, mas a esperança é que o povo americano, que serve de modelo para o resto do mundo, mostre a determinação de acabar com estas calamidades, retirando dos psicopatas os meios para realizarem seus propósitos insanos, nos seus momentos de desequilíbrio.
Já postamos neste site parte do que afirma o editorial do jornal econômico Nikkei, e não se pode esperar mudanças significativas a curto prazo no Japão. Mas, se o novo governo constituído por uma grande coligação política não tiver a coragem de propor reformas profundas, que vão deste a sua Constituição, parece que o Japão vai continuar condenado ao marasmo, o que não é o que o mundo deseja.
A complexidade é que nem tudo foi combinado com os Estados Unidos que continuam sendo o aliado principal do Japão, e com os parceiros comerciais como a China e a Coreia, com os quais as disputas de algumas ilhas ativam os sentimentos nacionais que decorrem dos problemas que remontam desde o começo do século XX.
O Japão nunca teve uma diplomacia ativa para resolver os seus problemas de convivência com seus vizinhos, e, apesar das muitas compensações já efetuadas, ainda restam restrições que perduram por muitas décadas, que são ativadas de tempos em tempos.
No atual mundo globalizado, há que se encontrar demorados entendimentos que permitam algumas concessões de parte a parte, pois já existem problemas complexos demais, e são legítimas as aspirações por um pouco mais de paz e harmonia, ainda que forma pragmática haja necessidade de encarar os importantes interesses que não se resumem somente ao econômico.