Antigos Intercâmbios Culturais da Europa com o Japão
20 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: a resenha de um livro de 1919, algumas incorreções sobre as temas, peregrinações aos templos de Nara, referências aos filósofos europeus
David Burleigh que vive no Japão há mais de 30 anos, escrevendo regularmente para o The Japan Times, elabora resenhas sobre livros, alguns republicados recentemente. Ele faz referência a um de Tetsuro Watsuji (1889-1960) que tem no título original em japonês “Koji Junrei”, de 1919, mas voltou a ser publicado com tradução de Hiroshi Nara, editado pela Merwin Asia em 2012, e que recebeu o título em inglês “Pilgrimages to the Ancient Temples in Nara”, algo como ‘Peregrinações aos antigos templos de Nara’.
Segundo David Burleigh, o livro é apresentado como uma espécie de diário do autor, com as datas das visitas a Nara, quando ele estava hospedado na casa de um tio em Quioto. Também o mesmo autor publicou livros sobre a filosofia ocidental na mesma época, especificamente sobre Friedrich Nietzeche. O livro começa, de forma estranha, com uma reflexão sobre algumas pinturas, que o autor tinha visto pouco antes da viagem a Nara, que não fica distante de Quioto, fazendo divagações sobre a sensualidade das mulheres e o naturalismo na Índia, especulando se também se era possível fazer uma ponte entre a arte grega e as estátuas budistas.
Templo budista em Nara
A época da primeira edição em japonês é ainda da Era Meiji, que foi de grande importância para a abertura para o Ocidente, havendo também no Japão muito interesse sobre os filósofos europeus. Nas visitas a Nara, o autor tem contatos diretos com museus e templos, ficando extasiado com as diferentes estátuas budistas, especulando sobre suas influências sobre o Noh.
Ele os descreve detalhadamente, comentando suas impressões, especulando inclusive as danças nos templos antigos nos quais o Noh estaria envolvido. Ele comenta que por trás destas peças estariam as influências da China e da Índia, mas parece que gostaria que pudesse descobrir a influência da Grécia antiga, um espírito que ele especula de longe, ao mesmo tempo em que esta possibilidade se desvaneceu em outros lugares.
Os sentimentos de paz e familiaridade formam os melhores momentos do livro, dando a impressão de refrescor e retorno. Ao ficar parado, o autor sonha-se numa volta ao passado, na primeira floração do budismo na antiga capital que também foi Nara, com todos os sinos dos templos tocando uníssonos.
Na resenha, o seu autor recorda como outros autores japoneses também fizeram referência à importância da Grécia antiga, alguns em seus poemas, citando Yaichi Aizu (1881-1956) e Shuoshi Mizuhara (1892-1981). Outro livro de Watsuji faz ligeira referência ao poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) que foi para a Itália para buscar as origens da cultura europeia.
Com estas buscas ao passado, parece que os autores procuram estabelecer as bases do presente e para o futuro. Frequentando os muitos sebos como o de Kanda, um bairro de livrarias em Tóquio, observa-se que os intelectuais japoneses não só procuravam as raízes da cultura japonesa na Ásia, mas também tinham um vivo interesse pelo que ocorria no Ocidente, procurando fazer paralelos e absorver o que se pensava nesta parte do mundo.
Apesar do Japão estar no Extremo Oriente, ser uma península que desenvolveu uma cultura própria, procurava-se o intercâmbio de ideias com o Ocidente, pois certamente enfrentavam também assuntos que eram universais.
Uma possível incorreção na resenha é sobre os banhos que, segundo o autor, teriam origem no Japão. Certamente, os banhos diários nos chamados ofuros antecederam os dos europeus, mas os termais já eram encontrados também na Europa e outras partes do mundo, como podem ser vistos em muitos antigos sítios até arqueológicos. Ainda que os intensos banhos diários, servindo até como local de convívio e troca de ideias, possivelmente se aproximem dos banhos termais.