Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

As Dificuldades de Execução dos Projetos

22 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: difícil execução dos projetos, discursos das autoridades, execução dos planos, formulação da política

Ainda que muitas autoridades elaborem bons planos de governo, e seus discursos sejam bem formulados, verificam que existem mais dificuldades para a sua execução do que estimavam. Há um dito em política que diz que o papel aceita tudo, mas a execução dos projetos e programas exigem mais suor e paciência, além de outras habilidades indispensáveis, para se tornarem realidade, principalmente num cenário interno e externo pouco favorável. Quando existe um entusiasmo geral, tudo parece mais fácil de ser executado, ainda que sempre haja exageros e desperdícios nestes movimentos emocionais. Quando se trata de reerguer a economia, com o pessimismo sendo alimentado pelos adversários políticos, tudo parece ficar mais complicado.

Isto não acontece somente no Brasil, mas na maior parte do mundo, tanto desenvolvido como emergente. Ainda que muitos críticos aleguem que o governo brasileiro só se preocupa com o aumento da demanda, parece que ele também se torna indispensável, pois quando a economia mundial ainda está contida, fica difícil alavancar a economia com os estímulos das exportações. E sem demanda ou suas expectativas, infelizmente, não se efetuam investimentos, pois os públicos encontram tanto a barreira dos recursos disponíveis, como de executores eficientes, havendo grandes riscos de desvios.

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Para se atingir a execução dos trabalhos com sucesso, muitos outros foram efetuados tanto no planejamento, como na criação das condições necessárias, envolvendo muito trabalho. Pesquisas foram efetuadas, estudos de viabilidade elaborados, os equipamentos foram providenciados e todos os demais insumos indispensáveis, como créditos e contratações de recursos humanos, seguros e suprimento de todos os elementos necessários. Os “check lists” são sempre necessários. Hoje, existem mais exigências como o respeito ao meio ambiente e as reservas existentes dos mais variados tipos.

Muitos projetos e programas exigem a adequada coordenação de entidades vinculadas a diversas autoridades e diferentes interesses políticos, o que exige uma clara orientação para a arbitragem. Muitos empreiteiros estão procurando maximizar os seus ganhos, bem como os financiadores e fornecedores, nem sempre estando interessados no sucesso dos executores dos projetos e programas.

Costumam existir diversos níveis de administração pública envolvidos como o federal, o estadual e o municipal, com dezenas de organismos sem recursos ou recursos humanos inadequados. Nem sempre existem consensos sobre as tecnologias a serem utilizadas, que atendem os interesses de diferentes fornecedores.

Costumam haver problemas de logística, como estradas inadequadas, combustíveis e manutenção dos veículos e outros equipamentos, além de muitos manifestantes que podem estar interessados em outros objetivos. Os trabalhadores procuram legitimamente conquistar suas outras reivindicações, que podem envolver até indígenas e conservacionistas. Os problemas são infindáveis, demandando tempo para negociações a serem resolvidos, que precisam contar com as reservas nos planejamentos.

As documentações necessárias são muitas, principalmente para atender os promotores públicos e os encarregados dos exames das contas, em diversos níveis de administração. Muitos documentos exigidos nem sempre são apresentados atendendo todas as idiossincrasias dos seus funcionários.

A maioria dos executores não recebeu treinamentos para a solução de problemas políticos, e os atrasos que ocorrem podem gerar novos problemas, como os climáticos, que costumam ser datados, ocorrendo em determinados períodos do ano, que também variam de região. Além de elevarem os seus custos, principalmente de financiamento.

Muitos funcionários foram treinados para a execução das tarefas ordinárias, quando os fatos excepcionais costumam se multiplicar. Os concursos públicos só exigem conhecimentos clássicos, e nenhum parece exigir experiências de execução de projetos e programas. Um excesso de DAS – cargos de livre nomeação das autoridades acabam desprestigiando os funcionários de carreira.

Ainda que as autoridades dos mais altos escalões se esforcem, exigindo dos seus subordinados o cumprimento dos cronogramas, eles não foram habilitados ou treinados para tanto. Para muitos, as conveniências das situações de urgências são mais adequadas, pois tendem a dispensar algumas burocracias, permitindo contratações sem as concorrências necessárias.

Parece que há mais elementos que conspiram para a ineficiência do que para a correta execução dos trabalhos. Imaginar que por serem terceirizados com entidades privadas, ou executadas por elas, ou em parcerias públicas e privadas, reduzem as dificuldades parece ser uma parafernália. Os seres humanos continuam com seus defeitos, tanto no setor público como privado.

O que poderia ser feito para melhorar toda esta situação? Infelizmente, começar pelo reconhecimento que o “first best” não existe, e o que pode ser perseguido é o chamado “second best”. A concorrência de diversas organizações parece permitir melhores balanceamentos dos interesses, sem que se multipliquem demasiadamente as burocracias públicas. A situação monopolística, mesmo em entidades públicas, não parece favorecer a eficiência, e sim a corrupção. Com todos os defeitos, a escolha dos experientes executores que comprovaram a sua eficiência em outros projetos e programas parece continuar a ser a melhor opção.

Costuma se utilizar a expressão “check and balance”, mostrando que outros países conseguiram atingir maiores eficiências. Ainda que seja demorado há que se insistir no desenvolvimento de uma cultura, principalmente nas entidades públicas principais, com sistemas de carreira em que a ascensão seja equilibrada com o tempo de serviço.

O topo da administração pública necessita contar com um grupo ágil de experientes colaboradores que tenham conhecimento tanto da antropologia organizacional, que estuda a evolução dos grupos de interesse, dos mecanismos de superação dos exageros de regulamentações existentes, principalmente no governo.

Tentar efetuar o “by pass” utilizando consultorias internacionais não tem se revelado eficiente, ainda que algumas organizações mundiais possam assessorar eventualmente no aperfeiçoamento constante dos diversos projetos. Não parece conveniente inventar muitos novos programas, mas concentrar em alguns que se vem mostrando mais eficientes.

Tudo isto é mais fácil de ser recomendado do que executado.