Beate Sirota Gordon Que Mudou o Japão
16 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: obituário de Beate Sirota Gordon no The Economist, redigiu o artigo incluído na Constituição, trabalho na Fundação Japão, uma das mulheres que mais ajudaram o Japão
Somente uma pessoa no mundo, por semana, merece um obituário na revista The Economist. Apesar de poucos conhecerem a contribuição de Beate Sirota Gordon ao Japão, foi ela que redigiu o rascunho do artigo 24 da Constituição Japonesa ajudando o General MacArthur, que estabeleceu um novo patamar para as mulheres japonesas, que antes da Segunda Guerra Mundial eram cidadãs de segunda classe. Este fato só ficou conhecido em 1995 com a publicação de suas memórias. Segundo a revista, foi uma das pessoas que mais entenderam os japoneses, tendo também prestado um grande trabalho no pós-guerra para a divulgação da cultura japonesa no exterior, trabalhando para a Japan Society.
Beate Sirota viveu no Japão dos 5 aos 15 anos, antes da guerra, quando acompanhava o seu pai, Leo Sirota, um pianista ucraniano que lecionou na Academia Imperial. Conheceu profundamente os jardins japoneses, a flor de cerejeira, os olhos e cabelos negros das crianças, brincou com as japonesas, falava correntemente o idioma japonês e conheceu a condição das mulheres no Japão antes da guerra. Aos 22 anos, em 1946, apesar de não ser advogada, foi designada para ajudar o General MacArthur, tendo também o objetivo de encontrar seus pais que ficaram no Japão durante a guerra, o que ela conseguiu apesar de encontrá-los muito magros.
Beate Sirota Gordon
Ela traduzia muito bem o japonês para as forças norte-americanas de ocupação no Japão comandadas pelo General MacArthur por entendê-los. No mais profundo segredo, ela foi encarregada de redigir o artigo da Constituição japonesa que tratava dos cidadãos, o famoso artigo 24, que numa tradução livre para o português com a ajuda do sistema da Google pode ser expresso como: “O casamento não será baseado apenas no consentimento mútuo de ambos os sexos e deverá ser mantida com base na igualdade de direitos entre marido e mulher. Com relação à escolha do cônjuge, direitos de propriedade, a escolha de herança, o divórcio, domicílio e outros assuntos relativos ao casamento e à família, as leis serão promulgadas a partir do ponto de vista da dignidade individual e da igualdade essencial entre os sexos”.
Havia muito mais que ela incluiu na sua missão com base na sua intensa pesquisa, mas se tratando de uma Constituição, outros detalhes foram excluídos. E o texto já era mais do que constava na Constituição dos Estados Unidos. Apesar do mesmo não agradar totalmente aos japoneses que negociavam a sua redação, aceitaram-no em consideração a Beate Sirota de quem muito gostavam, informados que o coração dela estava expresso naquele artigo. Sempre que ela voltava ao Japão, depois de conhecida a sua contribuição, as mulheres japonesas a acompanhavam como uma grande benfeitora e importante personalidade.
Em tempo de paz, a partir de 1954, na Japan Society, fez tudo que era possível para aumentar a compreensão do Ocidente sobre o Japão. Levou para os Estados Unidos mestres, de ambos os sexos, para demonstrações do arco e flecha, da cerimônia do chá, concertos de koto, da apresentação do Noh etc. A partir de 1970, ela passou para a Asian Society, promovendo o intercâmbio com aquela parte do mundo.
Segundo ela, não achava que o artigo 24 era o mais importante na Constituição japonesa, mas a renúncia japonesa ao uso da guerra, abraçando a paz. Mas colocava o artigo 24 como a segunda disposição de maior importância.
O seu passamento deve ser lamentado por todos, como bem fez a revista The Economist.