Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dificuldades das Gestões de Projetos no Brasil

9 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: comunicações, dificuldades atuais, energias e transportes, experiências passadas, recursos humanos | 2 Comentários »

Parecem acentuadas as dificuldades atuais do governo na gestão dos muitos projetos que pretendem executar, nos três níveis da administração pública. Os projetos estão sempre atrasados nos seus cronogramas, apresentando também problemas de diferenças de qualidades e aumento dos custos, quando comparados com os já privatizados. O Brasil, ainda que seja um país emergente, onde todos estes problemas sempre foram encarados como naturais, aparenta contar recentemente com dificuldades acima do razoável, principalmente tendo em conta que já houve períodos de maior eficiência nestes trabalhos brasileiros, evidentemente quando o número deles era menor que atualmente. Apesar dos esforços de muitas autoridades e os avanços democráticos e sociais obtidos no Brasil, não se consegue ainda uma gestão eficiente como a desejável na execução dos projetos.

Quando não existe numa regularidade na execução dos projetos e de forma crescente, as dificuldades parecem aumentar, como aconteceu nas ferrovias e nos projetos de construção naval, que já foi importante no país. No caso do setor de energia elétrica, o Brasil foi capaz, com a assistência do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a ativa participação da CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai, estabelecer o seu programa para a grande região Centro Sul do Brasil, criando até a Eletrobras. Dezenas de usinas foram programadas, do montante das bacias em direção à jusante, com o melhor aproveitamento das águas disponíveis, com horizonte mínimo de 25 anos projetado para o futuro. Compreendiam as dezenas de usinas dos rios Grande, Tietê, Paranapanema e até o Paraná, para destacar os mais importantes, com diversos aspectos relacionados com o uso das águas considerados nos projetos. Multiplicaram-se as empresas privadas brasileiras de engenharia de projetos de grandes estruturas, e as empresas de construções pesadas estavam capacitadas, até chegar à fenomenal binacional Itaipu, quando o Brasil impressionava o mundo com o domínio da tecnologia mais avançadas disponível na época para este tipo de construção. O Brasil passou a contar com a matriz energética menos poluente no mundo, utilizando a hidroeletricidade.

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Vistas da hidroelétrica binacional de Itaipu

Algo semelhante ocorreu, entre outros setores, nos transportes com a rede rodoviária nacional, que integrou este país de norte a sul, de leste a oeste, quando antes o país era constituído de ilhas regionais. Brasília já tinha acelerado a marcha para o Oeste, e o país chegou até aos desafios como a Transamazônica, a Cuiabá-Porto Velha, Cuiabá-Santarém atingindo até a rodovia Perimetral Norte, ampliando a ocupação brasileira geograficamente. Antes, o país estava concentrado nas regiões Leste e Sul, tanto nos períodos de administração democrática como autoritária.

Projetos importantes como a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias e a Embraer chegaram a se juntar à Petrobras e a Vale, ajudando a consolidar o país e a projetá-lo para o exterior, para somente mencionar alguns destaques. Empresas privadas brasileiras de construção pesada se tornaram importantes no mundo desenvolvido, executando projetos que não implantamos no Brasil.

O que nos levou a perder este ritmo passado? Tudo indica que se diluiu a capacidade de pensar grande e num prazo mais longo, herdada do período que se seguiu a Segunda Guerra Mundial, quando se acreditava que o planejamento era capaz de provocar o desenvolvimento econômico no mundo. Foram sucateadas as muitas empresas de engenharia de projeto, sem as quais a execução sempre se torna mais complicada, inclusive de suprimento adequado dos recursos financeiros.

É interessante observar que mesmo nos períodos conturbados politicamente, como no final dos anos cinquenta e começo dos anos sessenta do século passado, projetos como o da Vale, que integravam o transporte de minérios para o porto de Tubarão foram executados, sem perda de continuidade, com contrapartidas no exterior. Com parceiros do outro lado do mundo, e esquemas financeiros baseados nos contratos de fornecimento de longo prazo. O mesmo foi repetido, em escala maior no projeto Carajás, que escoava a sua produção pelo porto de Itaquí.

Podem-se tentar algumas observações sobre as dificuldades atuais, não as subestimando, pois são muitas e poderosas. Não parece conveniente, mesmo que a presidente Dilma Rousseff tenha uma formação tecnocrata, seu envolvimento exagerado e direto nos projetos setoriais que parece inibir muitas autoridades. Aparenta ser recomendável que a Presidência conte com um anteparo de poucos e competentes ministros para comandar a consolidação dos setores de infraestrutura, que tenham experiência na execução de obras, mesmo que necessitando do suporte político. Uma estrutura semelhante ao do Estado Maior poderia ser adotada, que também é utilizada no setor privado, com a clara definição da hierarquia e responsabilidades, bem como das tarefas. A Presidência só determinaria as orientações gerais efetuando as cobranças dos seus ministros, bem como as arbitragens necessárias.

Nos variados organismos envolvidos na maioria dos projetos, parece indispensável que seus dirigentes formem uma verdadeira equipe, consciente da missão que lhes cabe, mesmo tendo que atender as conveniências políticas regionais. Composições de personalidades de diferentes qualificações e subordinadas às várias facções políticas, que compõem a base política do governo, dificilmente proporciona a eficiência desejada.

Muitos projetos complexos foram executados no passado com o financiamento de organismos internacionais, como o Banco Mundial ou BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, ainda que suas exigências sejam muitas vezes exageradas e seus recursos não sejam hoje os mais convenientes. Mas elas ajudam a resistir às pressões políticas de alguns segmentos locais.

Muitas reclamações são levantadas sobre as exigências, como as de preservação do meio ambiente, ou atendimento das reservas de toda natureza já existentes. Ainda que estas negociações sejam demoradas e burocráticas, todas elas necessitam ser atendidas no período da elaboração dos projetos de execução.

Muitos organismos de diferentes ministérios acabam sendo envolvidos em diferentes projetos. A constituição prévia de um mecanismo de negociação pode ser estabelecida, não se facilitando a sua revisão na fase de execução. Sempre que surgirem eventuais problemas que não estavam previstos, as arbitragens parecem convenientes serem efetuadas num escalão mais elevado, até em alguns casos chegando até a Presidência da República.

Parece conveniente que consultas prévias sejam efetuadas com organismos de prestação de contas, e em alguns casos envolvendo alçadas de outros poderes, que poderiam apresentar seus pontos de vista antecipadamente sobre aspectos mais controvertidos.

Como vem acontecendo em conselhos com a participação de empresários, poderia se estabelecido um com a representação de executivos que já tiveram a experiência de execução de projetos de envergadura no setor público, inclusive com a participação do setor privado ou de organismos internacionais. Parece um desperdício que experiências acumuladas localmente no passado não sejam aproveitadas nos atuais projetos, mesmo que os avanços tecnológicos sejam apreciáveis.

Muitos acreditam que empresas internacionais de consultoria poderiam ajudar nestes projetos. Salvo raras exceções, somente nos períodos de suas elaboraçõesc elas parecem serem úteis, pois nas execuções as complicações parecem mais internas, com muitos técnicos internacionais contando com dificuldades para absorverem todas as especificidades brasileiras.

Mesmo que não sejam somente estas as contribuições a serem aproveitadas, parece crucial que venham a ser adotadas inovações nas gestões dos grandes projetos, até para atender os reclamos razoáveis da opinião pública que precisam se sentir participantes das decisões.


2 Comentários para “Dificuldades das Gestões de Projetos no Brasil”

  1. Carlos Mário Silva Gomes
    1  escreveu às 12:20 em 10 de janeiro de 2013:

    Material rico em detalhes, abrangente na sua composição, restando entendido desnecessário praticar o sentimento de posse.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 16:54 em 11 de janeiro de 2013:

    Caro Carlos Mário Silva Gomes,

    Obrigado pelos seus comentários.

    Paulo Yokota