Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dificuldades na Formulação da Política Econômica

22 de janeiro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: diferenças entre as administrações federais e estaduais, experiências desejáveis, política econômica no quadro das restrições

Observam-se dificuldades em diversos países na formulação adequada da política econômica, diante do quadro de limitações generalizadas que existem no momento, inclusive no Brasil. Muitos profissionais acabaram conseguindo resultados favoráveis quando as condições mundiais proporcionavam um cenário favorável, mas as restrições atuais dificultam, naturalmente, enquanto as pressões políticas e sociais tendem a aumentar, mesmo dentro das limitações dos recursos disponíveis. Tanto os quadros políticos como setoriais procuram manter as suas participações, inclusive ampliando-as, imaginando que existem condições para a mudança na distribuição dos recursos, dando maior impressão do acirramento nas disputas.

Muitos profissionais aparentam estar treinados para situações favoráveis, nem sempre contando com condições de conseguir reverter o quadro para um de maior eficiência nos menores recursos com que contam no momento, principalmente de gestão dentro de um quadro desfavorável. É quando se observam as maiores diferenças entre os que acumularam experiências nas execuções consideradas eficientes, quando os dados lhe eram fornecidos. Quando eles necessitam formular novas condições, mais criativas diante das limitações de recursos, nem sempre contam com experiências mais amplas para os difíceis diálogos políticos indispensáveis. Um artigo publicado no jornal A Folha de S.Paulo sobre a situação do atual secretário do Tesouro brasileiro, parece resvalar em alguns aspectos desta natureza, ainda que não se possa responsabilizá-lo por todas as atuais trapalhadas.

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Secretário do Tesouro Arno Augustin. Foto: Agência Brasil

As dificuldades existentes em qualquer economia não podem ser atribuídas pessoalmente a somente uma autoridade, pois o governo costuma ser constituído por uma equipe, havendo sempre a necessidade de preservar o chefe de Estado, normalmente eleito por um mandato fixo nos regimes políticos e não monárquicos. Nos regimes parlamentares, as substituições dos governos ficam menos traumáticas, podendo ocorrer a sua queda ou a convocação antecipada de novas eleições gerais, de forma a melhor ajustar os anseios da população com os recursos disponíveis e as formas de sua utilização.

Nos regimes presidencialistas, a equipe de ministros e seus auxiliares necessita proteger a autoridade eleita, no mínimo até as novas eleições. Necessita assumir as responsabilidades sobre eventuais dificuldades, ainda que nem sejam de suas decisões. Os chamados tecnocratas que são convocados para constituir suas equipes técnicas, muitas vezes possuem experiências em outros níveis da administração, que acabam sendo diferentes na última alçada federal.

Nos níveis municipais, regionais ou estaduais, muitos instrumentos de política econômica são dados, inclusive nos setoriais, decididos pelo nível federal final. As experiências de execução são algumas, e as de formulação e decisão são outras, contando com um quadro necessário de avaliação mais ampla, além de algumas sensibilidades políticas, inclusive partidárias, ou de entendimentos com segmentos econômicos, inclusive das estatais. Não parece existir a função somente tecnocrática, e nem todos estão preparados para as negociações políticas de diversas naturezas.

As pressões costumam ser muitas e agravadas nas crises, e a presidente Dilma Rousseff procura adotar posições pragmáticas, mas não parece apreciar as discussões políticas que acabam exigindo algumas acomodações. Ela parece reservar um espaço menos relevante para as concessões, possuindo convicções exageradas sobre seus prestígios populares e domínio da situação, mesmo que sua experiência de mobilização das massas não seja tão elevada como a do seu antecessor. Pode ser surpreendida pelo rápido declínio do seu patrimônio pessoal, se não conquistar rapidamente a melhoria no quadro econômico, notadamente na sua gestão.

Não há dúvidas, como muitos outros dirigentes no mundo, que ela herdou uma carga pesada, com muitos passivos conhecidos como ocultos. Mas, ficar lamentando sobre o assunto em nada resolve a situação. Tudo indica que ela necessita promover rápidas reestruturações com o enxugamento drástico da máquina administrativa, pois o tempo de mandato que ainda dispõe não é muito longo, principalmente se tiver a pretensão da reeleição. Um maquiavélico político informava sempre que contraria a burocracia aumentava o seu patrimônio eleitoral.

Ela pode conseguir um novo mandato, diante da fragilidade dos desafiantes atualmente existentes, mas pode ser condenada a um segundo mandato desastroso, como tem ocorrido em muitos países. De qualquer forma, a sua situação não é confortável, e exatamente nestas situações que se revelam as estadistas, como conseguiu Margaret Thatcher e está conseguindo Angela Merkel. Mas, ela precisa contar com um discurso claro, e alguns executores de melhor qualificação, nos mais variados setores da administração. Imaginar que pode conseguir isto com consultores externos ou conselhos de empresários parece uma tentativa pouco eficiente.